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domingo, 22 de agosto de 2021
PIG
domingo, 8 de agosto de 2021
JUNGLE CRUISE
O Brasil é um dos países que mais
garante lucro para filmes em todo o mundo, mesmo que o nosso cinema ainda não
tenha sido abraçado da maneira como merece pelo resto do planeta. Neste momento
em que terras tupiniquins começam a flexibilizar o funcionamento dos cinemas,
eis que a Disney, em meio as polêmicas em que está se metendo com sua
plataforma de streaming, encontra em Jungle Cruise uma maneira de
manter nas telonas, um faturamento de dar inveja em qualquer membro do
showbusiness.
Falando no público brasileiro,
eis que todos foram surpreendidos ao ver que a nossa nação é o palco deste
filme aqui avaliado. A sétima arte está aí para provar que nem todo filme que
se passa na Amazônia é, necessariamente, ambientado no Brasil. Dirigido pelo
espanhol Jaume Collet-Serra, que fez o terror A Órfã e será o
responsável pelo esperado Adão Negro, Jungle Cruise, com todo o
direito à liberdade artística que o seu roteiro tem, multiplica as lendas e os
mistérios amazônicos, embora em seu corpo de personagens principais, haja uma
impressão no espectador de que já os viu em algum lugar, bem longe da América
do Sul e que isso não faz muito tempo. Sendo assim, pegue Brendan Fraser,
Rachel Weisz e John Hannah em A Múmia, e somem com Johnny Depp e Javier
Bardem no último e horroroso filme da linha Piratas do Caribe e todos
perceberão que este novo filme da Disney é o resultado desta "operação
matemática".
Com o intuito de elevar o
entretenimento ao seu mais alto nível, sem de fato ter o objetivo de tornar-se
um "feel good movie" que simpatiza com a superação, Jungle
Cruise estipula de maneira clichê o fator "caça" como
carro-chefe de sua trama, que, situada em Rondônia, tem na fisionomia dos
indígenas, algo mais de acordo com o país asiático que tem a segunda maior
população do mundo. Logo, o povo nativo brasileiro sofre uma ocultação de
características, embora a produção queira celebrá-lo. É fato que o seu trabalho
de design de produção chega sim a ser quase condizente com o apresentado (aquilo estava mais para Manaus ou Belém), visto que a região norte do nosso país, mesmo muito distante dos principais polos
econômicos, teve sim o seu desenvolvimento, devido ao ciclo da borracha, como
pode ser constatado nos centros históricos de suas principais cidades. Porém, o
trabalho pavoroso de efeitos visuais do filme, mancha suas virtudes, no tocante
em que uma onça digital é capaz de causar no público tanta revolta, quanto
causa medo nos personagens.
Com direito a um submarino de
guerra no Rio Madeira (sim, a maior bacia hidrográfica do mundo recebe este
meio de transporte, mas não naquele período), pode-se enfatizar que o respeito à
criação deve estar acima de tudo, porém a demonização da figura do adorável
boto cor-de-rosa contribui para que exageros não coerentes com o que é a maior
região do Brasil não passem despercebidos. Esclarece-se que qualquer tipo de
produção pode se passar aqui. Quando Turistas, filme de 2006, escandalizou
pela maneira como a nação fora retratada, lembro de ter questionado se
brasileiros também defendiam outros países pela forma como foram retratados em
filmes de terror. Só que agora, mesmo aceitando a liberdade de criação de Jungle
Cruise, não posso deixar de considerar certas situações, no mínimo, bizarras.
Mas a verdade é que, no geral,
este longa tem uma jornada totalmente desinteressante, com assombrações e
antagonistas que simplesmente não tiveram desenvolvimento. Quando Jungle
Cruise focaliza um deles, o outro automaticamente cai no esquecimento, e
assim o filme caminha para um plot twist extremamente sem noção, onde os fatos
narrados podem até justificá-lo, mas isso não significa que a obra seria
enriquecida com tal fato. Não foi!
Numa pandora rosa, que faz uma ode a relevância brasileira no quesito plantas medicinais, Jungle Cruise, que conta com uma decepcionante atuação de Emily Blunt, que eu considero ser a mais subestimada atriz do mundo, melhor se encaixa numa aventura que busca entreter os cinéfilos que não perdem uma Sessão da Tarde, mas seus produtores não estavam munidos da informação de que uma sessão de filmes tal qual esta, já perdeu relevância na televisão há muito tempo.