O ABUTRE

O ABUTRE

DIREÇÃO: Dan Gilroy

ELENCO: Jake Gyllenhaal, Renne Russo e Bill Paxton

Enfrentando dificuldades para conseguir um emprego formal, o jovem Louis Bloom (Jake Gyllenhaal) decide entrar no agitado submundo do jornalismo criminal independente de Los Angeles. A fórmula é correr atrás de crimes e acidentes chocantes, registrar tudo e vender a história para veículos interessados.

Não vou negar que uma das coisas que mais gosto em trabalhar com blogs cinematográficos é fazer previsões ao Oscar, que já começam cerca de 9 meses antes de premiação e tem suas apostas em cima de meras suposições. Evidente que com o passar do tempo e o lançamento dos filmes, as coisas ficam mais concretas. Mas aí tem início a Awards Season e uma zebra aparece quando ninguém esperava. Apresento-lhes O Abutre.

Tecer comentários sobre este filme me faz ser mais crítico ainda, pois o mesmo adentra o jornalismo – minha formação profissional. Eis uma área, que, na teoria, é o 4º poder, quando moralmente poderia ser o primeiro, de uma responsabilidade gigantesca. Tem defeitos? Tem, claro. Mas às vezes é incompreendida, e acaba pagando por algo sem merecer. Mas lembrem-se: Nada é perfeito. 

O que pode ser facilmente notado em O Abutre é uma crítica aos defeitos existentes na comunicação. O jornalismo sensacionalista já se transformou em galinha dos ovos de ouro para qualquer veículo que esteja almejando ascenção financeira, desvinculado de toda ética jornalística e humana. Hoje é assim: Tem que colocar o dedo na ferida ou no cadáver mesmo. A dor alheia virou instrumento de entretenimento e que tem ibope. A falta de respeito culmina com os profissionais da informação que, como se não bastasse, faze m questão de expor em forma de imagem o lado mais devastador da tragédia. Se tem uma pessoa morta no chão, com sérios ferimentos, jorrando sangue, faz-se questão de exibir exatamente isso. Alguma imagem da pessoa feliz em vida? Não. Respeito para/com ela? De jeito nenhum. Respeitar o sofrimento da família e dos amigos? Piorou. A frieza encontra graus elevadíssimos e o profissional que está incluso naquilo cada vez mais transparece sua falta de humanidade. Repito: Sou jornalista e cursei 4 anos de uma faculdade em que em momento algum um professor nos recomendou a fazer esse tipo de serviço, e mesmo se tivessem recomendado, será que seríamos obrigados a apoiar tão repugnante trabalho? E eu não falo do Cidade Alerta, do Marcelo Rezende, que é fichinha perto de blogs, mídias sociais e programas regionais.

O Abutre encontra-se justamente no olho do furacão de tal tema e escancarando tais situações, pede que todos tirem sua própria conclusão. Você, profissional dessa linha: É bom fazer isso? Você, profissional que não compartilha dessa linha: Mudou sua opinião ou continua envergonhado? Famílias e amigos: A dor só tende a crescer ao ver seu ente como instrumento desse trabalho? Pois é. Mas é bom deixar bem claro que O Abutre não me fez brotar um sentimento de que trata-se de um grande filme. É um trabalho mais de reflexão e que conta com boas (mas não maravilhosas) atuações de Jake Gyllenhaal e Renne Russo.

Assim como em qualquer obra cinematográfica, O Abutre tem seu objetivo e felizmente o cumpre, mas não passa disso. Talvez a justificativa para tamanha aclamação por parte das premiações, e que deve resultar em indicações ao Oscar 2015 em lista que sai no próxima dia 15 de janeiro, seja a exposição do que há de mais repugnante no jornalismo sensacionalista para membros de associações com um alto grau de criticidade quanto ao assunto. Aconteça o que acontecer, espero que a comunicação reduza e extermine suas irresponsabilidades e desumanidades, mas enquanto quiserem criticar a prática, que O Abutre não seja usado como único exemplo de conscientização.

Fonte da Sinopse: Adoro Cinema