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sábado, 9 de janeiro de 2016

OS OITO ODIADOS



OS OITO ODIADOS
DIREÇÃO: Quentin Tarantino
ELENCO: Samuel L Jackson, Kurt Russell, Bruce Dern, Channing Tatum e Jennifer Jason Leigh


No interior do estado americano de Wyoming, o caçador de recompensas John Ruth (Kurt Russell) e a acusada de assassinato Daisy Domergue (Jennifer Jason Leigh) estão a caminho da cidade de Red Rock, onde ela será entregue à justiça. Durante o percurso, eles conhecem o mercenário Major Marquis Warren (Samuel L Jackson) e o sulista Chris Mannix (Walton Goggins). Atingidos por uma forte nevasca, eles buscam abrigo nas montanhas. Apresentados a novos personagens, eles percebem que a estadia ali não será nada fácil e que o destino final está bem mais distante do que imaginam.


Não tenho a mínima intenção de criar polêmica, mas acredito que há algo pessoal quando muitos criticam Quentin Tarantino por ser muito repetitivo em suas obas, citando a vingança como o tema que mais detém o seu fascínio. O curioso é que diversos cineastas tocam a sua carreira em uma única estrutura, e se fizerem algo diferente, ganharão reprovação por esse simples fato. Injustificada implicância com o diretor deste filme, que por sinal, é o oitavo de sua carreira, como os próprios créditos iniciais fazem questão de enfatizar.

Apesar das críticas supracitadas, não há o mínimo indício de que a marca registrada de Tarantino esteja ultrapassada, mas isso não quer dizer que fatos causem, no mínimo, estranhamento, como Os Oito Odiados ter início justamente em torno de um caçador de recompensas, exatamente o personagem-chave do primeiro ato de Django Livre (até então último filme do diretor e que lhe rendeu um merecido Oscar de Roteiro Original). Mesmo com a situação se amenizando, o carregado tratamento aos personagens negros da obra não fogem de algo já visto na própria filmografia de Tarantino. Talvez nessas divergências entre os críticos sobre como aceitar as obras do conceituado diretor, seja plausível defender a criação de tramas diferentes em uma única estrutura temática como forma de defender o cineasta. Até então Tarantino fazia jus a isso, pois Pulp Fiction – Tempos de Violência, Kill Bill, Bastardos Inglórios e o já mencionado Django Livre são filmes bem diferentes, mesmo ecoando vingança. Agora querer entregar uma nova obra, recheada de elementos já conhecidos, tenha sido o seu grande vacilo. Vale ressaltar que Os Oitos Odiados foi gravado em Telluride, mesmo local de sua última película. A sensação de que já fora visto esse lugar há pouco tempo é inevitável e não é de se relevar. Motivo: foi visto também em um filme de Tarantino.

Com uma linda e bem dosada trilha sonora do inoxidável Ennio Morricone, aliada a mais um digno trabalho de fotografia de Robert Richardison, Os Oito Odiados, em meio a neve, sem focalizar uma tragédia natural (o que foi bom) e apesar dos pesares, tem um bom roteiro, no qual Tarantino não se limita em escancarar o quão ridículo e monstruoso o ser humano pode ser, capaz de silenciar inclusive alguém exemplo de falso moralismo. Trabalhando o gênero western em grande parte de suas cenas, o diálogo acaba tendo tanta força quanto as cenas de ação. O desenvolvimento da obra não beira o cansativo, em contrapartida nota-se claramente falta de objetividade no decorrer da trama, e a grande culpa disso está nas desnecessárias quase três horas de duração – o que me faz voltar a perguntar o que leva alguém a fazer questão de montar um filme tão longo. É fato que isso não é proibido. ... E o Vento Levou não seria uma obra-prima se durasse menos de suas quatro horas. A questão é que deve haver força em cada ato e saber inserir novos e interessantes elementos que apontem um diferencial que justifique muito bem o seu não comum tamanho, como Tarantino fez muito bem em Django Livre (que é o meu preferido dentre os filmes do diretor). O que parece é que em Os Oito Odiados, a duração é gigantesca porque simplesmente quiseram que fosse assim. Não é difícil apontar que se fosse encurtada em, no mínimo, 30%, a película ganharia um ritmo bem mais ágil e que a beneficiaria muito, diferente do material entregue, que mais pareceu ser uma longa introdução ao ato que o espectador espera como derradeiro da produção.

Com um regular elenco, que conta com os não inovadores Tim Roth, Channing Tatum e Bruce Dern, além do desinteressado Samuel L Jackson, deve-se admitir o competente trabalho de Kurt Russell, que lidera o filme e acaba transformando o personagem em algo bem chamativo, fato até surpreendente, diante de uma carreira recheada de atuações esquecíveis. Outro grande destaque é Jennifer Jason Leigh, que absorve o poder de chamar atenção de seu papel, criando uma Daisy cinicamente enigmática no andar da obra, para entregar um estouro de performance na cena final.

Com um desfecho digno do gênero e do diretor, com aquele impressionante jorrar interminável de sangue, Os Oito Odiados acaba não atingindo um ápice por apresentar notáveis defeitos, que poderiam levar Quentin a repensar pontos em uma estrutura que ele pretende levar até o fim de sua carreira. De fato, nunca há um consenso quando se trata de um filme de Tarantino. Mesmo quando 90% da crítica idolatra qualquer uma de suas obras, aparecem os 10% que não se convencem com as mesmas e que terão argumentos para isso. Mas o ponto positivo é que o cineasta está sempre em alta, e isso a indústria aplaude e com gosto.


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