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segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

AS GOLPISTAS


AS GOLPISTAS
DIREÇÃO: Lorene Scafaria
ELENCO: Constance Wu, Jennifer Lopez, Julia Stiles e Cardi B


Elizabeth é uma ex-stripper que, anos depois de largar a profissão, concede uma entrevista para uma jornalista de Nova York, onde relata a sua amizade com Ramona, uma das mais renomadas do meio, que logo se tornou sua amiga. As duas passaram por um problema financeiro, devido a crise de 2008, por isso montaram uma quadrilha que dopava clientes e fazia um uso tresloucado de seus cartões de crédito.


Dream Team foi como ficou conhecida a seleção americana de 1992, que contava com o maiores astros da NBA e que ainda teve o retorno especial de Michael Jordan às quadras. A equipe foi campeã olímpica nos jogos de Barcelona, sem ao menos ter perdido um tempo em oito partidas. O fato é que também podemos usar a alcunha para diversos outros grupos (até os nada benevolentes) de inúmeros segmentos, inclusive para mulheres que se juntam para, de maneira criminosa, driblar uma recessão que não poupou nem a nação mais poderosa do mundo. As Golpistas é sim um filme que entretém, mas infelizmente não está imune a defeitos.

Ainda falando em time, faz-se justo elucidar que qualquer pessoa sensata, no prólogo da trama, pode ter questionado o porquê de um grupo de mulheres como fator central da película, visto que somente o furacão Jennifer Lopez na pole dance inicial nos faz pensar que ela não precisava de companhia alguma em As Golpistas. Uma cena foi suficiente para justificar o fato dela está sendo bastante cotada ao Oscar 2020 de Melhor Atriz Coadjuvante - o que seria a sua primeira indicação e a realização de um sonho para uma carreira com alguns erros, apesar de boas atuações, em Selena e Um Lugar Para Recomeçar. Ao comentar sua performance com o meu melhor amigo, ele foi enfático: "Meu Deus, essa mulher não pode ter 50 anos". Tem e botou muita novinha no chinelo.

Mas como a vida, o show e o filme têm que continuar, As Golpistas, dirigido e escrito por Lorene Scafaria (um pouco desconhecida para a arte, mas sem trabalhos extremamente irregulares), apresenta as demais personagens e nos dá um susto ainda no início: o ato de uma principiante admirar uma estrela. O brilho nos olhos de Roxie Hart perante Velma Kelly no primeiro ato do multipremiado Chicago foi terrível e descaradamente copiado pelo péssimo Burlesque, que nem Cher e Christina Aguilera conseguiram salvar. Por um momento, o filme aqui avaliado dá pistas de que pode ser mais um lamentável "Ctrl + C + Ctrl + V" da vida, mas é logo que a trama mostra que não é nada disso e ainda consegue se valorizar ao extremo, não explorando a sexualização, e em algumas cenas, o espectador pode se dar conta de que um divã pode ser mais interessante do que a guerra de egos presente em um show de strip tease.

Todo mundo quer acordar onde não há consequências, mas se elas irão existir, que ao menos sejam boas. Então eu pergunto: quais são as consequências de As Golpistas? Eu mesmo respondo: deixar as coisas acontecerem de maneira rápida e com explicações incólumes. É fato que, na crise, a ocasião faz o ladrão, mas a enorme repetitividade do filme não está munida de atrativos, e pontos interessantes poderiam ser melhor explorados, como aqueles que provariam que a maternidade é uma doença mental. No geral, o golpismo central do longa derrapa numa peça fundamental: não conseguiu horrorizar o público, pois antagonizou mais a vítima do que as próprias strippers. Por isso, na visão de quem assiste a obra, quem foi roubado e dopado, fez por merecer (e como!).

Sendo assim, há algo de positivo que pode ser extraído de As Golpistas, além da atuação de Jennifer Lopez? Sim, mas fico na dúvida se a produção do longa teve ou não teve a intenção de escancarar o seguintes fatos: stripper também é gente; o que elas fazem é sim um trabalho e não há nada de errado nisso; não necessariamente são ninfomaníacas e também não quer dizer que elas vivem a base de entorpecentes; elas sabem se prevenir na hora do sexo; amam o próximo (mas não todos, como todo mundo); e, não menos importante, são pessoas normais. Querendo ou não, o filme não esqueceu do lado humano.

Apesar das falhas, As Golpistas engrandece a carreira da graciosa Constance Wu em Hollywood, após o excelente Podres de Ricos; faz o cinema rever Mercedes Ruehl (atriz que ganhou um Oscar de Atriz Coadjuvante em 1992, por O Pescador de Ilusões, e nunca mais fez sucesso na carreira); e põe Jennifer Lopez no mais alto patamar cinematográfico, desde que ela decidiu fazer de sua carreira de atriz, algo simultâneo a de cantora. E sendo produtora, observa-se que sua luta foi bem maior, ao investir em um projeto dominado por mulheres. A própria, em entrevista, afirmou: "Este é o nosso filme, onde fazemos nossa m*rda. Eles sabem que são todas as mulheres produtoras, diretoras, roteiristas, e que as mulheres o estrelam. Temos assistido homens tirar proveito das mulheres nos filmes por um longo tempo, por isso foi uma reviravolta divertida de ver". Sendo assim, qualidades a parte, que tenhamos um cinema mais inclusivo e que divirta quem faz parte dele.



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