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segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

O IRLANDÊS



O IRLANDÊS
DIREÇÃO: Martin Scorsese
ELENCO: Robert De Niro, Al Pacino, Joe Pesci e Anna Paquin


Frank Sheeran é um sujeito popularmente conhecido como "Irlandês", e, como um veterano herói de guerra, ele é repleto de condecorações. O que poucos sabem é que ao mesmo tempo em que ele segue uma agitada vida como caminhoneiro, o mesmo também dá as caras perante a sociedade como um sanguinolento matador de aluguel. O tempo passa, e a confiança nele diminui, até que ele se torna o suspeito pelo desaparecimento do ex-presidente de uma associação.


Em A Rede Social, logo no seu desfecho, ouvimos muito bem: "Todo mito de criação tem um vilão". Concordamos com tanta força, que até nos esquecemos de se horrorizar com isso, talvez porque o antagonismo tem lá suas doses de encantamento. Em cada lugar do mundo, a criminalidade tem a sua forma, da mais ou menos oculta e/ou horrorizante, e neste tocante, podemos dizer que Estados Unidos e Itália têm algo em comum: a máfia dos gângsters, que muito, artisticamente falando, fez bem para o entretenimento cinematográfico ao longo das décadas, com peculiaridades impressionantes e envolventes, capazes até de fazer com que Martin Scorsese mantenha o seu grandioso lugar ao sol, numa atualidade dominada pelos super-heróis (criticados inclusive por ele). Bem vindos a O Irlandês.

É fato que, na fase idosa, quanto mais próximas as pessoas estão do fim da vida, menos antipatizadas elas ficam, e nessa linha, as memórias, por pior que sejam, sempre atraem a curiosidade de todos. Sendo assim, os bons companheiros Robert De Niro, Joe Pesci e Al Pacino juntos, aumentam com louvor um clímax, onde, graças a um eficiente roteiro de Steven Zaillian (vencedor do Oscar com A Lista de Schindler), curiosamente detecta-se que as pretensões quanto ao caráter deles são mínimas, pois a empatia é nata. A trilha sonora de Robbie Robertson é linda, e ao som dela, vemos paz, flores e morte. A multiplicação da adversidade é necessária, e ao invés de caras raivosas, um explosivo Pacino, um cínico De Niro e um presente Pesci dão um tom mais fatal a uma trama, que não se censurou em ser construída com metáforas.

Cada um carrega a sua história, cheias de primores, e os nuances concedem aos personagens uma maneira ousada de encarar típicas retaliações, e, assim, todos entendem o recado, visto que no campo dos poderosos, àqueles que você quiser agradá-los, deve conceder um ganho pessoal para ele, e o bem coletivo deve ser descartado, não importando as consequências. Bem ciente disso, Scorsese resume a situação de maneira curta e grossa: qualquer coisa, que tudo se resolva na base da bala.

O curioso é que cenas de ação é algo que se vê de menos em O Irlandês, e isso não é um fator negativo. Muito pelo contrário! Os diálogos são extremamente mais poderosos que a ação da máfia. O sistema, como um todo, é bem mais forte, e se bobear, o controle pode mudar de mãos, surpreendendo até os mais experientes. E nessa miscelânea de casos, tramoias, tiro, porrada e bomba, o que não falta é uma essência gratificante, diante de cada fragmento.

Retomando a questão de que o antagonismo tem lá suas doses de encantamento, em O Irlandês ninguém torce contra ninguém. Pelo contrário! Mas ao mesmo tempo, não há favorito. Sendo assim, a torcida é igual por todos. Na verdade, não importam os seus defeitos, os mafiosos são sempre monitorados e requisitados. E Martin Scorsese, com toda a sua carreira e sua grande amizade com Francis Ford Coppola, sabe muito bem como trabalhar o tema, sem parecer manjado, tampouco tristemente repetitivo. Com força total, o tema, tão bem trabalhado na sétima arte, mostra-se fascinante, inclusive quando os desfechos parecem não ter a mínima graça.



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