GETÚLIO
DIREÇÃO: João Jardim
ELENCO: Tony Ramos, Alexandre Borges e Drica Moraes
Baseado em fatos reais, narra a conspiração político-militar que culminou no suicídio de Getúlio Vargas, Presidente da República em 1954. O filme percorre a intimidade dos 19 últimos dias da vida de Getúlio, período em que ele fica isolado no Palácio do Catete, enquanto seus opositores o acusam de ser o mandante do atentado contra o jornalista Carlos Lacerda, onde morreu o Major Vaz. O longa-metragem encontra emoção e entretenimento nos acontecimentos que levaram o presidente a dar um tiro no coração sozinho em seu quarto.
Todo cinéfilo que se preze
pode ter um gênero que mais lhe agrada, mas ele não pode ter preconceito com os
demais. A verdade é que mesmo com preferências, quem não tem uma quedinha por
cinebiografias? A produção audiovisual brasileira cresce anualmente, e a vida
de muitos de nossos compatriotas ilustres estão sendo levadas às telonas. É
fato que um filme sobre Getúlio Vargas aparece de maneira completamente tardia,
mas vendo o seu resultado final, seria melhor ter demorado mais tempo, para que
fosse trabalhada coisa melhor.
Considerado o mais
importante Presidente da história brasileira, Getúlio Vargas tem sim uma grande
história de vida, tanto pessoal quanto política, que poderia render uma obra
mais grandiosa enaltecendo seu nome, independentemente dos fatores ali
envolvidos. Como seria interessante explorar seu casamento, que tinha outras
intenções; sua vida estudantil, sua trajetória antes da adentrar a presidência,
além da derrubada da política do “café com leite” no Brasil. Mas nenhum
cineasta é obrigado a montar uma cinebiografia completa, e no caso de João
Jardim (diretor do documentário indicado ao Oscar Lixo Extraordinário), a opção
escolhida foi uma delimitação do tema, investindo no último mês de governo (e
de vida) do chefe do executivo nacional. Daí já vem o absurdo de escolher o
título “Getúlio” para apresentar um único episódio da vida do personagem real.
O defeito do filme está em
seu embasamento histórico, que é falho, pois o espectador visualiza a vida de Getúlio
Vargas e de Carlos Lacerda na base de “é a sua palavra contra a minha”, e fatos
envolvidos no caso do suposto atentado que a oposição ao governo da época
sofrera, além do que era o governo Vargas no período, ou foram ocultos ou só
perceptíveis para quem domina o assunto. Dois exemplos claros são a inserção de
Tancredo Neves e de Alzira Vargas na trama. O primeiro se faz de um personagem tão oco
na história, e de postura tão duvidosa como a entregue pelo seu intérprete
Michel Bercovitch, que o espectador se remete a ele apenas como o sujeito que
anos depois morreria antes de se tornar presidente, já que Getúlio o faz sair
de cena de uma maneira tão pouco explorada em referência a sua real situação
como Ministro da Justiça. No caso de Alzira, ela nada mais é do que a filha do
presidente, e o filme não engrandece seu nome como a chefe do Gabinete Civil da
Presidência da República durante o governo de seu pai, onde suas reais opiniões
não eram um conselho de filha, e sim de alguém que tinha poder de opinar no
gestão federal.
O roteiro de George Moura
(que assinou a novela O Rebu e a minissérie O Canto da Sereia) não possui
identidade, tirando a significância de Getúlio Vargas, Carlos Lacerda e dos
demais. Sendo assim, a obra tem continuidade, e todos se perguntam: Quem é o
herói? Quem é o vilão? E o final do filme, que todos já sabem qual é, mostra-se
curto e grosso, onde no destaque à carta-testamento de Vargas, o enfoque ao “Saio
da vida para entrar na história” ofusca a essência do texto, que é um primor em
sua íntegra, e que foi concluído com “chave de ouro” com a frase mais famosa.
Em Getúlio, louva-se o trabalho
de Tony Ramos e Drica Moraes, além de uma parte técnica rica e inovadora, onde
não se desmerece o trabalho da direção de arte, da fotografia e da trilha sonora,
que criaram um ambiente sombrio, bastante fiel aos acontecimentos daquele mês
de agosto de 1954, e que estavam bem aliados aos atos em que o ritmo do filme é
bastante ágil. Mas o trabalho de pesquisa para um período tão importante da
história brasileira apresenta-se como uma exposição mal persuasiva, de apenas
um ponto de vista, que deixa bastante a desejar para uma cinebiografia tão
esperada.
Fonte da Sinopse: CinePop



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