JOGOS VORAZES: A ESPERANÇA - PARTE 1
DIREÇÃO: Frances Lawrence
ELENCO: Jennifer Lawrence, Liam Hemsworth, Josh Hutcherson, Julianne Moore, Kiefer Sutherland, Philip Seymour Hoffman e Woody Harrelson
Após ser resgatada do Massacre Quaternário pela resistência
ao governo tirânico do presidente Snow (Donald Sutherland), Katniss
Everdeen (Jennifer Lawrence) está abalada. Temerosa e sem confiança, ela agora
vive no Distrito 13 ao lado da mãe (Paula Malcomson) e da irmã, Prim (Willow
Shields). A presidente Alma Coin (Julianne Moore) e Plutarch Heavensbee (Philip
Seymour Hoffman) querem que Katniss assuma o papel do tordo, o símbolo que a
resistência precisa para mobilizar a população. Após uma certa relutância,
Katniss aceita a proposta desde que a resistência se comprometa a resgatar
Peeta Mellark (Josh Hutcherson) e os demais Vitoriosos, mantidos prisioneiros
pela Capital.
A morte é a única verdade inquestionável que existe. Em uma
sociedade cada vez mais crescente, a divisão de opinião é óbvia e cabe a todos
saberem conviver com as divergências. No universo cinematográfico, há cerca de
10 anos, eis que obras literárias têm invadido as telonas e se transformado em
filmes mal estruturados, com direções falhas e uma história oca, porém lotando
as sessões de cinema com um público que grita ao ver os atores em cena (como se
eles fossem retribuir) e saem ecoando que viram o melhor filme de todos os
tempos. É lógico que estou me referindo à obras como Crepúsculo e Percy Jackson,
e após isso fica evidente que qualquer filme juvenil levará todos que gostam de
ver um cinema bem feito a terem um pé atrás que dificilmente não será confirmado,
mas felizmente toda regra tem sua exceção. Bem vindo a Jogos Vorazes.
Em um período futurístico, a trama se centraliza em uma
região devastada e governada por uma elite que trabalha na opressão aos mais
pobres (abrigados em distritos) e os obriga a matar uns aos outros como senso de
sobrevivência para eles e de diversão para quem estar no poder. E se a reversão
de valores acontece de maneiras até mais fáceis do que o esperado, então
denota-se que a mudança estava sim ao alcance de todos. Jogos Vorazes: A
Esperança – Parte 1 reafirma que na adversidade existente entre o protagonismo
e o antagonismo, o ato de vencer significa viver e o de perder significa morrer,
e no embate com a supremacia, o herói não é aquele que possui super poderes, e
sim o destemido que põe a cara a tapa mesmo tendo uma família em situação de
vulnerabilidade, que estende as mãos ao adversário frágil, e que não lidera um
grupo na base de discursos prontos de senso comum e sim na base racionalidade,
pois muitos atos heroicos podem acontecer de maneira natural. É aí que
apresenta-se Katniss – a grande figura do filme. Em um mundo onde o poder
humilha os submissos, nunca que uma mulher poderia estar uma liderança, mas o
roteiro escrito por Danny Strong (o mesmo dos ótimos telefilmes políticos
Virada no Jogo e Recontagem) e que teve o auxílio de Suzanne Collins (autora
dos livros da série), abusa positivamente da subjetividade ao derrubar diversos
parâmetros. Para Katniss, a palavra de ordem é reação, mas que não é fácil de
ser trabalhada, pois os próprios distritos tem as suas deficiências, que devem
ser resolvidas para ser atingido o objetivo final.
Jogos Vorazes: A Esperança – Parte 1 é peculiar para o
espectador brasileiro, pois acaba sendo uma metáfora involuntária do atual
momento político do país, onde os princípios democráticos são teoricamente
abraçados por todos, mas na prática despertam a ira de um lado que não aceita
que o opositor tenha saído vencedor, e mostra-se capaz até de reascender
regimes nada humanos para que sua vontade pessoal prevaleça. O oposto da paz em
que se vive pode levar-nos a proporções trágicas.
No elenco, não deve se esquivar dos competentes e
consagrados Julianne Moore, Kiefer Sutherland, Philip Seymour Hoffman e Woody
Harrelson, mas é bom focalizar o elenco jovem. Talvez seja pouco taxar de
impecável a atuação de Jennifer Lawrence. Essa moça tem 24 anos, fez poucos
filmes, mas já ganhou um Oscar de Melhor Atriz por O Lado Bom da Vida, além de
2 indicações por Inverno da Alma e Trapaça. Nunca ninguém conseguiu atingir tal
feito com tão pouca idade. Ela é um fenômeno. Muitos até acham exageradas essas
louvações à uma atriz que tem uma a vida inteira pela frente. Mas que culpa têm
o espectador, o crítico e ela se em cada trabalho seu é liberada uma carga
dramática ou cômica impressionante, que justificam todos os anseios de seu
personagem? Ainda vamos ouvir falar muito dela.
Josh Hutcherson colhe os louros de sempre ter direcionado
sua carreira para trabalhos sérios, que desafiariam seus dotes como ator, e que
rendem até hoje um saldo positivo para alguém que estourou em Hollywood como o
filho de um casal de lésbicas em Minhas Mães e Meu Pai, e que nunca se deixou
ludibriar por projetos onde o retorno financeiro era um pilar em meio a um
trágico enlace de obra com equipe. Liam Hemsworth parece ter aprendido com
erros do início da carreira, onde não era visível talento. No filme aqui
avaliado é bem notável a evolução que, neste momento, pode ser importante para
retirar dele dois rótulos que prejudicam sua personalidade pessoal e
profissional: o de irmão caçula de Chris Hemsworth (atual intérprete do Thor) e
de o ex-noivo de Miley Cyrus, que abandonou a cantora logo após os primeiros
ataques de rebeldia dela.
Jogos Vorazes: A Esperança – Parte 1 é uma obra jovem, mas
trabalhada de uma maneira madura e eficaz, honrando uma construção de um enredo
visionário e que critica a opressão e os efeitos de uma guerra. Eis o penúltimo
filme da saga, que esteve presente em 50% das salas de cinema do Brasil em sua
semana de estreia, que soube montar uma trama ágil, reflexiva, e capaz de
usufruir de todos os bons artifícios para entregar ao Mundo um desfecho épico.




1 comentários:
Olá, Breno. Pense num filme que, ainda, preciso parar pra ver. Tenho lido e visto outras coisas diferentes do gênero. Parabéns pelo texto.
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