Muita festa mexicana, festa argentina e belos discursos,
principalmente em prol dos direitos humanos. Esta foi a 87ª entrega do Oscar.
Na edição de 2015, oito produções concorriam na categoria principal e todas
saíram premiadas em outra categoria – a última vez que isso aconteceu foi em
2008. Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância) e O Grande Hotel
Budapeste chegaram empatados com 9 indicações e saíram empatados em prêmios.
Foram 4 para cada lado. Mais o trunfo maior foi do primeiro, agraciado como
Melhor Filme, Melhor Roteiro Original, Melhor Fotografia e Melhor Diretor para
Alejandro Gonzalez Iñarritu, que se tornou o segundo mexicano seguido e quinto
não americano seguido a vencer o prêmio na categoria. Iñarritu saiu da noite
com 3 estatuetas, igualando os feitos de Billy Wilder, Marvel Hamlisch, Francis
Ford Coppola, James Cameron, James L Brooks, Ethan e Joel Coen, Frances Walsh e
Peter Jackson. Eles só perdem para Walt Disney, que venceu 4 prêmios em uma só
edição.
Mesmo com o favoritismo para vencer Roteiro, O Grande Hotel
Budapeste teve que se contentar apenas com prêmios técnicos: Figurino, Design
de Produção, Maquiagem e Trilha Sonora – este último rendendo uma tardia estatueta
ao brilhante músico Alexandre Desplat. No que se imaginava que os 3 grandes
diretores balados sairiam oscarnizados, a Academia de Hollywood optou apenas
pelo mexicano. Wes Anderson (Hotel Budapeste) e Richard Linklater, de Boyhood –
Da Infância à Juventude, mais uma vez bateram na trave. Este último foi até
mais pesado, pois se acreditava que seu filme rodado durante 12 anos poderia
ser o grande vencedor da noite, mas teve que se contentar com o prêmio de
Melhor Atriz Coadjuvante para Patricia Arquette, que num dos melhores discursos
da noite, bastante louvado principalmente por Meryl Streep e Jennifer Lopez,
pediu uma igualdade nos salários e benefícios para homens e mulheres na
indústria cinematográfica, que lamentavelmente não existe por conta do machismo e foi bastante
escancarado recentemente.
Uma
das gratas surpresa da noite foi Whiplash – Em Busca da Perfeição vencendo 3
prêmios. Melhor Ator Coadjuvante para J. K. Simmons já era esperado, mas vencer
também Efeitos Sonoros e Montagem foi um sábio reconhecimento a um dos mais inteligentes
filmes do ano. O Jogo da Imitação venceu na categoria Roteiro Adaptado. Em seu
discurso, Graham Moore afirmou que tentara suicídio aos 16 anos de idade, por
se achar diferente do mundo, e pediu aos adolescentes que pensam o
mesmo, que abortem tal triste ideia e, ao receberem seu Oscar, passe adiante que todos têm um papel no Mundo.
Para Sniper Americano, sobrou a consolação de vencer Edição
de Som. Selma venceu Melhor Canção, com Glory, composição de John Legend e
Common, que, interpretada na cerimônia, levou David Oyelowo e Chris Pine às
lágrimas. Acho que agora a Academia será deixada em paz pelas polêmicas com o
filme.
Eddie Redmayne, com apenas 33 anos (baixo para os padrões)
venceu como Melhor Ator por interpretar Sthepen Hawking em A Teoria de Tudo.
Cate Blanchet parece ter gostado de tê-lo anunciado. O jovem britânico parecia
uma criança que ganhou o brinquedo que tanto queria e pediu mais apoio aos
portadores da esclerose lateral amiotrófica. Ida, da Polônia, foi o Melhor
Filme Estrangeiro. Operação Big Hero surpreendeu a todos, bateu Como Treinar o
Seu Dragão 2 e faturou Melhor Animação.
Uma das vitórias mais celebradas da noites foi a de Julianne
Moore, que faturou Melhor Atriz por Para Sempre Alice. Depois de 4 indicações e
nenhuma vitória, foi muito bom ver uma das melhores atrizes dos últimos 20 anos
vencendo o maior prêmio do cinema. Julianne é um verdadeiro obelisco da
composição dramática, que deixa sua marca em qualquer papel, seja ele o mínimo
que for. Não é exagero chamá-la de patrimônio da arte. Em seu discurso, ela pediu mais amparo aos portadores do Mal de Alzheimer. Pelo 4º ano seguido o Oscar de Melhor Atriz foi para uma personagem com algum problema mental, e pelo 2º ano seguido para uma personagem casada com Alec Baldwin.
Sobre a cerimônia em si, fica muita decepção com o
experiente Neil Patrick Harris, que até fez um belo número musical de abertura
ao lado de Anna Kendrick e Jack Black, mas depois exibiu um festival de
piadas sem a mínima graça, fora uma constrangedora e desnecessária
previsão presa uma caixa, e que não vale a pena eu ficar explanando aqui. De
início, a festa apresentou uma falha distribuição entre a entrega de prêmios e os especiais, mas da metade do fim tudo mudou. Um ponto forte da virada do jogo foi ver juntos John
Travolta e Idina Menzel (ou Glom Gazingo e Adele Dazeem) que levaram todos às
gargalhadas lembrando a gafe de 2014. As apresentações musicais foram bem
feitas, com destaque a Rita Ora, Tim McGraw, Jennifer Hudson, John Legend e
Common (já supracitados). Porém o grande momento da noite foi Lady Gaga no
tributo aos 50 anos de A Noviça Rebelde. Todos esperavam uma verdadeira
catástrofe, mas a cantora fez uma performance arrebatadora e emocionante,
mostrando uma voz linda e potente para músicas tão calmas. Com todos os méritos
Gaga foi aplaudida de pé por todos e não conteve as lágrimas, e para a alegria
geral, Julie Andrews (protagonista do filme) fez uma aparição surpresa e que levou todo o Dolby
Theater ao delírio. Nem eu me contive nesse momento. A cerimônia no final acabou
valendo a pena.
Num time de apresentadores bem diversificado entre estrelas
de quinta grandeza, atores promissores e sucessos de bilheteria, a festa se
encerrou com Sean Penn em seu melhor estilo não se censurando em falar um
palavrão para coroar Birdman.
Hoje, 23 de fevereiro de 2015, começa minha expectativa pelo
Oscar 2016. Espero sempre ineditismo. Qual grande ator, atriz ou diretor
vencerá pela primeira vez? Esse ano finalmente deu Julianne Moore. Gosto também
de repetições. Quem ampliará sua coleção? Nem sempre as escolhas do Oscar me
agradam, mas, como bom cinéfilo, fico na ansiedade para mais uma festa, pois,
como diria Penélope Cruz, é a arte se confraternizando, a arte que unifica. Um
grande abraço e até 2016.
0 comentários:
Postar um comentário