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sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

CREED - NASCIDO PARA LUTAR


CREED - NASCIDO PARA LUTAR
DIREÇÃO: Ryan Clooger
ELENCO: Michael B Jordan, Sylvester Stallone, Tessa Thompson e Phylicia Rashad
1 INDICAÇÃO AO OSCAR


O campeão mundial de boxe peso-pesado Apollo Creed morreu antes do nascimento de seu filho Adonis Creed (Michael B. Jordan), que torna-se um jovem promissor no ramo executivo, mas abandona a carreira para viver da luta, mudando-se assim para a cidade de Philadelphia – local onde o seu pai participou de um lendário confronto contra um desconhecido lutador chamado Rocky Balboa (Sylvester Stallone). Conhecendo o rival do seu genitor, ele propõe parceria para crescer na área, mas acaba percebendo que o boxe exige bem mais que condição física.


Reboots e remakes, mesmo sendo vistos com muita desconfiança por parte de uma parcela da comunidade cinéfila, estão cada vez mais adentrando as salas de cinema. O curioso é que de maneira ousada, filmes com quase 40 anos estão tendo sua história recontada – vide o exemplo do Star Wars. A franquia Rocky traz uma nostalgia gostosa, pois, querendo ou não, trata-se de um ícone fictício do boxe mundial, que conquistou a todos em 1976 e fez de sua trilha sonora um verdadeiro hino do esporte. Mas ao passo que Sylvester Stallone esteve brilhante no primeiro filme da série, sua carreira após essa obra pode muito bem ser caracterizada como um verdadeiro desastre, devido a atuações em diversos filmes, que oscilam entre a tragédia e o constrangedor. Daí vem a compreensiva apreensão de todos por vê-lo aceitar interpretar novamente o seu mais lendário personagem. O resultado final dá autenticidade a frase que diz que nunca é tarde para recomeçar.

Dirigido pelo jovem cineasta Ryan Coogler (que só veio a nascer 10 anos após o primeiro filme da linha Rocky ir para as telonas), que também o roteirizou ao lado de Aaron Covington, Creed – Nascido Para Lutar tem uma premissa impactante por tentar diminuir em grande grau o caráter genético que leva o jovem a buscar a proeza no boxe. Mesmo sempre crescendo aliado ao nome do pai, Adonis não colocava em primeiro plano o ato de honrar o nome do mesmo e sim tentava ser ele mesmo na luta e explorar a sua personalidade na busca de seu objetivo essencial. Assim, o filme estrutura sua linha no protagonista como um retrato de uma juventude que acaba por criar uma paixão por algo e almeja seguir sua vida ligada direta ou indiretamente a isso.

A formação da personalidade do jovem construída pelo filme provém curiosamente de maneira anormal. Ele é fruto de um caso extraconjugal de seu pai, mas mesmo com a morte dele e de sua mãe, acaba por ser adotado pela viúva de seu genitor de maneira inquestionavelmente afetiva, crescendo em um verdadeiro berço de ouro, uma mansão onde nada faltava, como muito bem mostra o filme, que não se esquiva de taxar o relacionamento entre os dois como um verdadeiro entre mãe e filho. Sem nenhum medo, a trama faz dele um sujeito avesso a tudo isso, sem censurar-se a abrir mão de privilégios para buscar uma realização pessoal. Mas vale ressaltar algo: amparo nunca lhe faltará. Sendo assim, Creed – Nascido para Lutar, conhecendo seu público alvo, acaba sendo um material didático de comprovação de ideais considerados utópicos para uma parcela da sociedade que leva seu conservadorismo até para a arte.

Mas e o Rocky Balboa? O filme não é sobre ele? De maneira sábia, Creed – Nascido para Lutar o insere como coadjuvante, e trabalhando a essência do personagem, o mistura com a questão sentimental que está tão presente na obra quanto o esporte. A relação entre o Rocky e Adonis Creed, previamente entregue pela sinopse da obra, pode brotar um temor de que possa copiar o que há 12 anos atrás foi exibido no drama vencedor do Oscar Menina de Ouro, mas a realidade é que cria-se uma estrutura diferente, porém bem usada, em que um passa a ser positivamente dependente do outro, sem que nenhum deixe de demonstrar uma força individual.

O resultado de tudo isso é a criação de um lutador inserido em um universo racional do boxe, e não em um conto de fadas onde tudo acontece de maneira rápida, como só se vê em filme mesmo. Cada adversário é apresentado com atributos e um currículo com números infinitamente superiores ao do aspirante, e os duelos derrubam preceitos de “sorte de principiante” e transparecem que ter o pé no chão é fundamental. Na luta final, que sem dúvidas é um dos grandes momentos do cinema no ano, nota-se a perspicácia do diretor em criar algo forte e real, sem medo de alongar o ato, apostando que o mesmo não viria a ser cansativo, e de fato não foi. Exibindo um combate disputado, com domínio de ambos os lados e levando o espectador a se perguntar quem está ganhando, Ryan Clooger entrega uma verdadeira e impressionante prova de resistência, que num final que é um verdadeiro primor, exibe que não importa o resultado, e sim mostrar para os outros e para si mesmo o quão bom você pode ser, consagrando-se assim como um autêntico lutador, como Rocky Balboa foi e ainda é.

No elenco, Michael B Jordan desliga-se da comédias juvenis e de esquecíveis quartetos, e entrega uma intensa atuação que transborda um talento e uma capacidade que ninguém nunca duvidou que ele tivesse, numa nata expressão de garra, adequando-se fisicamente ao Creed e dando o caráter emocional que o personagem exigia.

Agora falando do personagem mais famoso, poderíamos dizer que encontraríamos mais um trabalho de Sylvester Stallone que seria um prato cheio para os críticos que amam falar mal de suas performances. Mas acontece que ele é um ator ruim que todos gostam e é de respeitar vê-lo mais uma vez aceitando interpretar o Rocky Balboa. Mas acreditem: essa não é a única impressão que se tem com ele em cena. Eis uma performance surpreendente ao extremo. Stallone consegue envelhecer e se adequar a uma realidade moderna tão bem quanto o personagem, aceitando para si outras facetas que se confundem com o que há de mais famoso no Rocky. Sua perfeita postura humana na incrível cena do cemitério é uma introdução a um grandioso tom emocional do personagem, na forma de exibir o como ele adentrou à fase idosa longe de sua família, até chegar numa carga extrema diante de um recém-descoberto drama pessoal, que assemelhando-se ao que o personagem já presenciara com os seus entes queridos, mostra a faceta de um desespero em uma situação que ele quer que seja irreversível. Stallone absorve tudo isso com maestria e dá uma alma grandiosa ao Rocky, sem eliminar aquilo que ele era desde o primeiro filme da franquia, e nos melhores momentos da mesma.

Indicado ao Oscar 2016 de Melhor Ator Coadjuvante, Creed – Nascido para Lutar pode fazer Sylvester Stallone vencer pela primeira vez, a poucos meses de completar 70 anos, o maior prêmio do cinema mundial. Eis uma louvável audácia do cineasta Ryan Clooger em apostar mais uma vez no mais famoso boxeador da sétima arte, mesclando-o a outro personagem tão importante e interessante quanto o Rocky, sem se deixar contrair de aspectos negativos de outros filmes da linha e entregando uma obra impactante, fora o fato de podermos testemunhar um promissor Michael B Jordan da forma como sempre queríamos. E, como se não bastasse, ainda há espaço para aquela trilha sonora que desperta em qualquer ser humano a ânsia em querer ser um vencedor e guerreiro lutador. Salve Rocky Balboa! 



1 comentários:

Renata Laffite disse...

É um filme bem sucedido! Uma acertada escolha que traz peso dramático ao personagem de Sylvester Stallone (muito talentoso, muito em breve vai estrear o filme Fahrenheit 451), que não desperdiça a oportunidade e faz aqui uma interpretação memorável. Assim como Michael B. Jordan consegue passar a veracidade exigida para o seu Adonis, sempre muito conectado e lembrando em alguns andamentos os trejeitos de Carl Weathers. A fita também abre espaço para Tessa Thompson, onde faz uma figura que por sua vez enfrenta uma triste realidade que a cada dia parece mais próxima. Creed é um filme que consegue homenagear respeitosamente a obra de 76, apresentando personagens profundos e dando uma despedida digna a um dos maiores personagens do cinema.