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domingo, 17 de janeiro de 2016

O REGRESSO

 

O REGRESSO
DIREÇÃO: Alejandro Gonzalez Iñarritu
ELENCO: Leonardo DiCaprio, Tom Hardy, Domhnall Gleeson  e Will Poulter
12 INDICAÇÕES AO OSCAR


O até então desconhecido deserto americano é desbravado por uma expedição liderada pelo famoso explorador Hugh Glass (Leonardo DiCaprio), que é brutalmente atacado por um urso, levando todos a crer que perdeu a vida nesse ataque. Lutando para sobreviver, em meio a uma dor física incontrolável, ele é traído pelo melhor amigo John Fitzgerald (Tom Hardy). A perseverança e o lembrar de sua família o fazem resistir e enfrentar um forte inverno em buscar de redenção. 


É incontestável que o melhor cineasta nascido fora de um território anglo-saxão seja o espanhol Pedro Almodovar, mas se alguém tiver a ousadia de não reconhecer a afirmação, é muito provável que ele aponte o mexicano Alejandro Gonzalez Iñarritu como detentor desse título, sem que haja muita contestação ao fato. Produzindo em seu país de origem, mas inserindo a obra desde o início do século XXI em Hollywood, até se mudar para lá, ele entregou sucessos de críticas, como Amores Brutos, 21 Gramas, Babel e Biutiful (todos recebendo indicações ao Oscar), até triunfar na maior premiação do cinema mundial, em 2015, com o seu Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância), que renderam ao cineastas as estatuetas de Melhor Filme, Melhor Direção e Melhor Roteiro Original.

Mesmo que os três primeiros filmes citados adotem a mesma estrutura, há se observar diversas características na concepção das obras de Iñarritu, sem fugir da ousadia que ele não se censura em arriscar, chegando a apoteóticas boas recepções a cada lançamento. O Regresso é claramente um filme de auto risco, onde são exibidos elementos que cineastas experientes no gênero dificilmente explorariam, mostrando assim uma reformulação que deve prosseguir daqui pra frente na sétima arte.

Contando com uma fotografia viva de Emmanuel Lubezki, mas explorando perfeitamente o caráter sombrio que a obra impõe, não se nota a necessidade de uma introdução, pelo fato do forte ato inicial mostrar que uma simples expedição é, na verdade, um adentrar a um território indígena sem direito a conversa, pois a zona de conflito está formada e a guerra terá início, num cerne em que a produção não expõe os objetivos para tal, e paira no ar um genial suspense sobre a quem pertence o antagonismo. O desenrolar da trama também aponta que esses rótulos talvez não sejam divididos entre os lados, para que se denote com precisão o certo e o errado, pois há mocinhos e vilões dentro de cada grupo.

Iñarritu constrói cenas de ação com um altíssimo grau de dificuldade e não perde o controle da situação, concluindo bem os atos para adentrar no momento mais chamativo de O Regresso, justamente o em que o roteiro dá uma pausa, diálogos são excluídos e acompanhado por uma linda trilha sonora, o filme concede ao espectador o ato de testemunhar a dor que causa a luta pela sobrevivência, e isso não diante de duelos de armas de fogo contra flechas, e sim em sequências que são um verdadeiro desafio a vida. Um homem está gravemente ferido diante um rigoroso inverno, e aqui focaliza-se o personagem de Leonardo DiCaprio. Eis uma jornada amedrontante de uma frágil presa em meio fortes predadores, ou diríamos opressores prontos para ataques covardes, fora um lutar contra a sede, a fome e um forte frio que faz até de um cavalo morto, um refúgio a favor do aquecimento.

Nesse ponto, elogia-se profundamente a atuação de DiCaprio (Indicado ao Oscar 2016 de Melhor Ator por este filme), que vive justamente uma antítese de sua vida pessoal como ambientalista, e expõe uma força e uma garra no confronto com animais e índios, mas a fraqueza física acaba dando lugar a uma forte expressão de sofrimento, tornando muito real o desespero, o buscar de uma maneira de superar os percalços que a vida e os outro já haviam pregado, e uma força física em estado terminal, que resultou no engrandecimento do caráter humano do John, que recendo uma modesta (mas verdadeira) ajuda de um aborígene, reconhece a boa ação do próximo e tem nele um refúgio para aquela situação amargurante. Ao se depararem a uma imagem de Jesus Cristo, eles se dão um sincero abraço, num louvável gesto de afeto que levou O Regresso a um nível de emoção memorável, que poderia ter sido nulo, se não contasse com um forte Leonardo DiCaprio nunca antes visto, construindo um personagem em minúcias.

No campo do elenco, também há de se louvar a performance de Tom Hardy (Indicado ao Oscar 2016 de Melhor Ator Coadjuvante por este filme), principalmente no tocante em que sua carreira não era dotada de grandes trabalhos, mas aqui ele se veste de um sujeito deplorável, que não via motivos para esconder seu lado traidor, manipulador, em que mesmo para consagrar a vitória de um grupo, é capaz de eliminar companheiros para chegar ao objetivo.

Grande vencedor do Globo de Ouro e líder em indicações ao Oscar 2016 (12, no total), O Regresso apresenta uma trama que, seguindo uma linha de raciocínio lógica, poderia entregar um filme de ação, mas unindo racionalidade com emoção, explora bem cada personagem, e faz de cada ser humano ali contido, parte fundamental para garantir uma outra força à obra, que não deixa a desejar.      


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