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domingo, 21 de agosto de 2016

BEN-HUR


BEN-HUR
DIREÇÃO: Timur Bekmambetov
ELENCO: Jack Huston, Toby Kebbell, Morgan Freeman e Rodrigo Santoro


Ben-Hur (Jack Huston) é um príncipe que foi acusado injustamente de traição pelo seu irmão adotivo Messala (Toby Kebbell), que ocupa um alto posto no exército romano. Ao ser afastado de sua família, ele não tem nenhuma escolha a não ser ceder a escravidão. Depois de muito tempo, volta a sua terra com princípios vingativos, mas acaba por rever muitos conceitos.


Não posso ser hipócrita em trabalhar a análise deste filme, sem deixar de lado o repúdio que eu tenho por remakes. Considero uma verdadeira afronta à obra original, seja ela qual for, que acaba perdendo a sua identidade. Obviamente que algumas releituras chegam a ser melhores (vide King Kong), mas mesmo assim o incômodo impera. Já pensou alguém se propor a fazer um novo O Poderoso Chefão ou ...E o Vento Levou? Refazer Ben–Hur (filme recordista de Oscars, ao lado de Titanic e O Senhor dos Anéis – O Retorno do Rei, com 11 de estatuetas no total) é um absurdo tal qual seria de outro clássico. Tudo bem que o próprio filme estrelado por Charlton Heston seja uma regravação, mas seu antecessor não teve importância. Dr Jivago e A Noviça Rebelde têm remakes pífios, mas ninguém se importou nem antes, nem depois do lançamento. O que me assusta neste novo Ben-Hur é o destaque gigantesco que vem recebendo, que se sobrepõe a avaliação da qualidade da obra e nos distancia da obra que marcou o cinema.

Evidente que não irei fazer com que esse meu descontentamento interfira na crítica, afinal sou bastante ético, porém a falta de qualidade do filme me veio aos olhos o tempo inteiro. É necessário ter muito cuidado ao se trabalhar uma obra passada na Roma antiga, principalmente devido ao grande número de filmes existentes com alusão ao período histórico. Por que eu digo isso? Porque tem que ser cuidadoso o trabalho de usar a parte técnica para propor um diferencial em um estilo que já está um pouco manjado. Prova disso é a ousadia existente em películas sobre a antiguidade oriental, que têm dado um banho na luxuosidade e na inovação de figurinos, cenários, fotografia... Um exemplo é o deleite visual de Memórias de uma Gueixa, que esbanja beleza, mesmo sendo um filme fraco. Já Ben-Hur alia uma narrativa ruim a uma total falta de capacidade de se reinventar.

Sem querer pegar pesado demais, mas a cenografia mais parece que fora pedida emprestada de alguma obra barata, enquanto os figurinos denotam uma classe única para a sociedade, pois além da falta de criatividade, os poderosos da época que esbravejavam superioridade, estavam com vestimentas tão capengas e nada diferente da sociedade subalterna. A fotografia de Oliver Wood (responsável pela linha Bourne) não consegue se decidir sobre planos e brilho em um ambiente único, onde a resolução uma hora parecia coerente ao período, mas em outro momento mais tinha a ver com um período atual ou até mesmo futurístico. Os efeitos sonoros de uma única cena oscilavam entre a força necessária para aquele momento e o inacreditável silêncio total, desvalorizando todos os elementos que a situação da Roma Antiga e as grandes batalhas que ali acontecidas pedem. E tudo isso ainda está aliado a um 3D terrivelmente desnecessário.

No que se refere a narrativa, este novo Ben-Hur, dirigido por Timur Bekmambetov (o mesmo do ótimo O Procurado) e escrito por John Ridley (vencedor do Oscar por 12 Anos de Escravidão), encurta toda a sua história com o intuito de dar objetividade à trama, mas como a ideia foi por água abaixo, o que se observa é um meloso andar da carruagem, que incrivelmente torna-se pior, cena após cena, rebaixando toda a força existente em Roma, seja nas guerras, no povo, no império, e não consegue aproveitar nem a forte correlação bíblica que o filme poderia ter.

No que almejavam fazer do Ben-Hur (fracamente vivido por Jack Huston) um mártir e exemplo de superação, o produto entregue é de um prisioneiro qualquer e que em nada se diferenciava dos outros, tirando todos os méritos dos supostos aspectos heroicos contidos no mesmo. Logo, vê-lo dar a volta por cima não é um desejo que ganha o espectador, e talvez fica a dúvida se no quesito força e determinação, qualquer outro personagem poderia ser aproveitado para buscar-se coerência com os objetivos.

No antagonismo da obra, Toby Kebbell não faz jus a essência do personagem e consegue a proeza de exibir alguns dotes até mesmo benevolentes, fazendo de seu papel algo bem insignificante, destoando negativamente de toda a severidade que fez com que os vilões de filmes da Roma Antiga marcassem o cinema. Na parte amorosa dos dois personagens principais, o filme ainda consegue a proeza de escalar como pares deles, duas atrizes de fisionomia muito parecidas, que deixam quem está assistindo ao filme numa confusão, no mínimo sinistra. Ah, e esqueçam que Morgan Freeman e Rodrigo Santoro estiveram nele.

Com um resultado desastroso, a aliança produção/direção/roteiro de Ben-Hur, que outrora queria reviver um clássico, se preocupou tanto com a homenagem, que se esqueceu de olhar pela qualidade da mesma e acabou brincando com sua exigente parte técnica, deixando tudo a perder numa obra grandiosa, mas resumida numa competição indireta onde um ponto ainda consegue ser pior que o outro, desmerecendo em muito a memória de William Wyler e o poderio do personagem de Charlton Heston.




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