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domingo, 2 de abril de 2017

A BELA E A FERA


A BELA E A FERA
DIREÇÃO: Bill Condon
ELENCO: Emma Watson, Dan Stevens, Luke Evans, Kevin Kline, Ewan McGregor, Ian McKellen, Stanley Tucci e Emma Thompson


Bela é uma jovem bonita e inteligente, que está sofrendo um verdadeiro pesadelo que é ver seu pai servindo de prisioneiro de um monstro pavoroso, dentro de seu castelo. Conseguindo trocar de lugar com o genitor, ela acaba construindo um elo de amizade com os habitantes do local, e ao se aproximar da fera, descobre uma pessoa bem diferente da que imaginara.


Lançada em 1991, a animação A Bela e a Fera é uma peça forte de uma década extraordinária para os longas-metragens da Disney, e tem uma importância ainda maior por trabalhar com tamanha delicadeza e maestria a fábula da princesa, colocando ainda em evidência a principal marca registrada dos estúdios, iniciada com Branca de Neve e os Sete Anões, em 1937. Ao lado de WALL-E, é a película animada recordista em indicações ao Oscar (6, no total). Acabou vencendo em duas categorias: Trilha Sonora e Canção, para “Beauty and Beast” – uma das melhores da história do cinema. Só que seu maior marco na premiação foi se tornar a primeira produção no estilo a ser indicada na categoria Melhor Filme, sendo essa uma façanha tratada moralmente como única, visto que conseguiu esse feito num ano em que eram apenas cinco indicados, enquanto Up – Altas Aventuras e Toy Story 3 só chegaram lá quando os concorrentes eram 10.

Vinte e seis anos se passaram, e a Disney não se censura em apostar em uma versão live action de A Bela e a Fera, talvez numa maneira de aproximar as crianças da atualidade de uma obra venerada por seus pais. Tal iniciativa segue uma linha de animações que migraram recentemente para o outro estilo, citando Alice no País das Maravilhas, Cinderela e Mogli – O Menino Lobo; porém, nesta obra aqui avaliada, nota-se uma maior intenção de ser fiel à versão animada. Dirigido por Bill Condon (dos eficazes Dreamgirls – Em Busca de um Sonho e Deuses e Monstros, mas que também rodou os questionáveis últimos filmes da saga(?) Crepúsculo), nota-se que nesta película há uma extrema e louvável preocupação em absorver as características do ambiente em que a história se passa (escrita originalmente por Jeanne-Marie Leprince de Beaumont, e aqui roteirizada por Stephen Chbosky e Evan Spiliotopoulos), e investir naquilo que a modernidade cinematográfica permite, sem perder a sua essência. Neste tocante, destacam-se os efeitos visuais, fortes até em concepções de cenário, que pouco devem ao boom de atuais sucessos comerciais da Marvel e da DC Comics, além do figurino e da direção de arte, captando a cor e a luxuosidade que a trama exigia, e fincando os nomes de Jacqueline Durran e Sarah Greenwood como as melhores profissionais do segmento na atualidade, no que se refere ao estilo inglês (independentemente de época), e neste caso, mesclando-o inclusive às peculiaridades francesas.

Esbanjando racionalidade, foi gratificante ver a trama tocar em alguns pontos esquerdistas ao conceber uma sociedade com um bom percentual de negros, e elucidando a força da mulher em batalhas que tradicionalmente apenas os homens de período estariam aptos a lutar. Mas esses dois fatos não superam a grande cartada que foi a inclusão de um personagem homossexual. O fato, pioneiro em um filme da Disney, gerou polêmica por A Bela e a Fera ser infantil, e acabou vendo serem criadas campanhas de boicote ao redor do mundo, principalmente na Rússia. O resultado, que felizmente não interferiu na bilheteria, é de um Le Fou (interpretado por Josh Gad) tomado pela comicidade, e sabiamente participando dos mesmos atos do vilão Gaston (Luke Evans), dá um exemplo perfeitamente na prática de que opção sexual não define caráter de ninguém, e é muito bom ver as crianças sendo apresentadas à essa concepção, mesmo que o filme de fato não tenha feito nenhuma propaganda gay. 


O desenvolvimento da película pouco deve à história que conhecemos e acaba positivamente correspondendo às expectativas. Há de maneira notável a doçura e ao mesmo tempo braveza da Bela, capaz de despertar encanto, paixão e inveja em sua comunidade; e coloca-la no ambiente central da obra, expõe os elementos necessários para sua natural inserção em um local com figuras mágicas e um monstro temido, que jamais alguém imaginara que existisse. A verdade é que os tons maléficos da fera era uma postura que ela adotara de uma maneira hipócrita, pois sabia-se que de coração ela não seria capaz de cometer tais atos, apesar de sua personalidade desprezível enquanto ser humano. E as próprias figuras vivas, como as porcelanas, o guarda roupa, o piano, que por sinal são dignas da simpatia que ganham, sabem arquitetar um contexto que impõe à Bela e ao espectador (em especial os mais jovens) a importância de se valorizar a beleza interior do ser, e saber que ele pode ser mais que um rosto bonito ou tenebroso. Assim, a produção atinge o objetivo de fazer com que haja apreço pelo casal, sem que teorias levantadas por outrem, como a síndrome do Estocolmo e a zoofilia (nessa última forçaram a barra), pareçam influenciar na conclusão dos atos. E o romance e a perseguição seguida, chegam ao ápice da própria feiticeira comprar a briga a favor do casal.

O relacionamento da bela com a fera nos reserva um inesperado e especial momento: uma mágica viagem à Paris, onde a protagonista vai em busca de suas raízes, em um ato em que a mesma é apresentada à história de sua mãe, onde aqui vale lembrar a curiosidade de que quase todas as princesas das fábulas não têm mais a figura materna, e esse momento do filme acaba sendo uma confirmação da importância que a genitora tem na vida dessas jovens, mesmo não a conhecendo.

O elenco de A Bela e a Fera acaba sendo um acerto, principalmente porque não seria fácil recrutar as pessoas corretas para interpretar os clássicos musicais “Belle”, “Be Our Guest” e “Beauty and the Beast”, com a doçura, alegria e leveza que as canções requerem. A protagonista Emma Watson, em seu principal papel pós-Harry Potter, transpareceu até mais eficiência do que era imaginado, devido algumas críticas recebidas. Mas o grande destaque vai aos personagens concebidos por efeitos, que ganharam um time de dubladores que conferiu a eles o carisma necessário para que conquistassem o espectador com todos os méritos e nenhum pingo de esforço; e a situação fica mais gloriosa, quando ao se transformarem em humanos, descobrimos que por trás deles estavam verdadeiras estrelas, como Kevin Kline, Ewan McGregor, Ian McKellen, Stanley Tucci e Emma Thompson.

Concluindo com um saldo mais que positivo, e exibindo até novidades providas pelo diretor de trilha sonora Alan Menken, A Bela e a Fera torna-se o maior aspecto de confiança da Disney para persistir em transpor as animações para o live action, mesmo que cautelosamente, reforçando o quão fundamentais são os principais contos infantis, e assim propaga-los conforme as gerações. 






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