A BELA E A FERA
DIREÇÃO: Bill Condon
ELENCO: Emma Watson, Dan Stevens, Luke Evans, Kevin Kline, Ewan McGregor, Ian McKellen, Stanley Tucci e Emma Thompson
Bela é uma jovem bonita e
inteligente, que está sofrendo um verdadeiro pesadelo que é ver seu pai
servindo de prisioneiro de um monstro pavoroso, dentro de seu castelo.
Conseguindo trocar de lugar com o genitor, ela acaba construindo um elo de
amizade com os habitantes do local, e ao se aproximar da fera, descobre uma
pessoa bem diferente da que imaginara.
Lançada em 1991, a animação A
Bela e a Fera é uma peça forte de uma década extraordinária para os
longas-metragens da Disney, e tem uma importância ainda maior por trabalhar com
tamanha delicadeza e maestria a fábula da princesa, colocando ainda em
evidência a principal marca registrada dos estúdios, iniciada com Branca de
Neve e os Sete Anões, em 1937. Ao lado de WALL-E, é a película animada recordista
em indicações ao Oscar (6, no total). Acabou vencendo em duas categorias:
Trilha Sonora e Canção, para “Beauty and Beast” – uma das melhores da história
do cinema. Só que seu maior marco na premiação foi se tornar a primeira
produção no estilo a ser indicada na categoria Melhor Filme, sendo essa uma
façanha tratada moralmente como única, visto que conseguiu esse feito num ano
em que eram apenas cinco indicados, enquanto Up – Altas Aventuras e Toy Story 3
só chegaram lá quando os concorrentes eram 10.
Vinte e seis anos se passaram,
e a Disney não se censura em apostar em uma versão live action de A Bela e a
Fera, talvez numa maneira de aproximar as crianças da atualidade de uma obra
venerada por seus pais. Tal iniciativa segue uma linha de animações que migraram
recentemente para o outro estilo, citando Alice no País das Maravilhas,
Cinderela e Mogli – O Menino Lobo; porém, nesta obra aqui avaliada, nota-se uma
maior intenção de ser fiel à versão animada. Dirigido por Bill Condon (dos
eficazes Dreamgirls – Em Busca de um Sonho e Deuses e Monstros, mas que também
rodou os questionáveis últimos filmes da saga(?) Crepúsculo), nota-se que nesta
película há uma extrema e louvável preocupação em absorver as características
do ambiente em que a história se passa (escrita originalmente por Jeanne-Marie
Leprince de Beaumont, e aqui roteirizada por Stephen Chbosky e Evan
Spiliotopoulos), e investir naquilo que a modernidade cinematográfica permite,
sem perder a sua essência. Neste tocante, destacam-se os efeitos visuais,
fortes até em concepções de cenário, que pouco devem ao boom de atuais sucessos
comerciais da Marvel e da DC Comics, além do figurino e da direção de arte,
captando a cor e a luxuosidade que a trama exigia, e fincando os nomes de
Jacqueline Durran e Sarah Greenwood como as melhores profissionais do segmento
na atualidade, no que se refere ao estilo inglês (independentemente de época),
e neste caso, mesclando-o inclusive às peculiaridades francesas.
Esbanjando racionalidade, foi gratificante
ver a trama tocar em alguns pontos esquerdistas ao conceber uma sociedade com
um bom percentual de negros, e elucidando a força da mulher em batalhas que
tradicionalmente apenas os homens de período estariam aptos a lutar. Mas esses
dois fatos não superam a grande cartada que foi a inclusão de um personagem
homossexual. O fato, pioneiro em um filme da Disney, gerou polêmica por A Bela
e a Fera ser infantil, e acabou vendo serem criadas campanhas de boicote ao
redor do mundo, principalmente na Rússia. O resultado, que felizmente não
interferiu na bilheteria, é de um Le Fou (interpretado por Josh Gad) tomado
pela comicidade, e sabiamente participando dos mesmos atos do vilão Gaston
(Luke Evans), dá um exemplo perfeitamente na prática de que opção sexual não
define caráter de ninguém, e é muito bom ver as crianças sendo apresentadas à essa
concepção, mesmo que o filme de fato não tenha feito nenhuma propaganda gay.
O desenvolvimento da película
pouco deve à história que conhecemos e acaba positivamente correspondendo às expectativas.
Há de maneira notável a doçura e ao mesmo tempo braveza da Bela, capaz de despertar
encanto, paixão e inveja em sua comunidade; e coloca-la no ambiente central da
obra, expõe os elementos necessários para sua natural inserção em um local com
figuras mágicas e um monstro temido, que jamais alguém imaginara que existisse.
A verdade é que os tons maléficos da fera era uma postura que ela adotara de
uma maneira hipócrita, pois sabia-se que de coração ela não seria capaz de
cometer tais atos, apesar de sua personalidade desprezível enquanto ser humano.
E as próprias figuras vivas, como as porcelanas, o guarda roupa, o piano, que
por sinal são dignas da simpatia que ganham, sabem arquitetar um contexto que
impõe à Bela e ao espectador (em especial os mais jovens) a importância de se
valorizar a beleza interior do ser, e saber que ele pode ser mais que um rosto
bonito ou tenebroso. Assim, a produção atinge o objetivo de fazer com que haja apreço
pelo casal, sem que teorias levantadas por outrem, como a síndrome do Estocolmo
e a zoofilia (nessa última forçaram a barra), pareçam influenciar na conclusão
dos atos. E o romance e a perseguição seguida, chegam ao ápice da própria
feiticeira comprar a briga a favor do casal.
O relacionamento da bela com a
fera nos reserva um inesperado e especial momento: uma mágica viagem à Paris,
onde a protagonista vai em busca de suas raízes, em um ato em que a mesma é
apresentada à história de sua mãe, onde aqui vale lembrar a curiosidade de que quase
todas as princesas das fábulas não têm mais a figura materna, e esse momento do
filme acaba sendo uma confirmação da importância que a genitora tem na vida
dessas jovens, mesmo não a conhecendo.
O elenco de A Bela e a Fera
acaba sendo um acerto, principalmente porque não seria fácil recrutar as
pessoas corretas para interpretar os clássicos musicais “Belle”, “Be Our Guest”
e “Beauty and the Beast”, com a doçura, alegria e leveza que as canções
requerem. A protagonista Emma Watson, em seu principal papel pós-Harry Potter,
transpareceu até mais eficiência do que era imaginado, devido algumas críticas recebidas.
Mas o grande destaque vai aos personagens concebidos por efeitos, que ganharam
um time de dubladores que conferiu a eles o carisma necessário para que conquistassem
o espectador com todos os méritos e nenhum pingo de esforço; e a situação fica
mais gloriosa, quando ao se transformarem em humanos, descobrimos que por trás
deles estavam verdadeiras estrelas, como Kevin Kline, Ewan McGregor, Ian
McKellen, Stanley Tucci e Emma Thompson.
Concluindo com um
saldo mais que positivo, e exibindo até novidades providas pelo diretor de
trilha sonora Alan Menken, A Bela e a Fera torna-se o maior aspecto de
confiança da Disney para persistir em transpor as animações para o live action,
mesmo que cautelosamente, reforçando o quão fundamentais são os principais
contos infantis, e assim propaga-los conforme as gerações.
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