LADY BIRD - É HORA DE VOAR
DIREÇÃO: Greta Gerwig
ELENCO: Saoirse Ronan, Laurie Metcalf, Lucas Hedges e Timothée Chalamet
Uma adolescente de família
pobre, vive contra o seu gosto na cidade de Sacramento, no estado da
Califórnia. Lá, como toda jovem, acaba por se entregar a amizades, ao mesmo
tempo que se envolve em aventuras, relacionamentos amorosos, conflitos, sem
desprender-se dos planos de um futuro que vem pela frente.
O mundo cinéfilo se chocou com
uma inesperada notícia nos derradeiros momentos do ano de 2017: Lady Bird – É
Hora de Voar bateu o recorde de avaliações positivas no famoso site Rotten Tomatoes.
O fato surpreende pelo fato de sua diretora Greta Gerwig (atriz de filmes como
Frances Ha, Jackie e Mulheres do Século XX) estar estreando na função de maneira
solo (em 2008, ela dirigiu o filme Nights and Weekends, mas em parceria com Joe
Swanberg), e todo o enredo da trama nos remeter àquelas comédias adolescentes
clichês, que no máximo conseguem ser meramente corretas. A curiosidade pela
obra aumentou consideravelmente, e quem a assiste, há de admitir que não se trata
de um filme qualquer.
Ao mesmo tempo, ninguém pode
se censurar a afirmar que o início assusta pelo contexto óbvio na qual está
inserido, com aquela inconformada ida a uma nova escola e muitas brigas com a mãe surgindo
do nada, mas acontece que é fácil e vantajoso confiar em Greta Gerwig (que também assina o
roteiro do filme), e só o fato dela incluir um assustador acidente no primeiro
ato, logo se notou que ela sabia muito bem o que estava fazendo com uma peça
aparentemente manjada.
A ambientação de boa parte da
trama de Lady Bird – É Hora de Voar é numa escola católica, mas curiosamente
sem tanto destaque às questões dogmáticas e o extremo rigor na educação dos
discentes, abrindo inclusive brechas para piadas com o fanatismo religioso dos
irlandeses – corriqueiro em muitos trabalhos cômicos americanos. Diante disso,
a obra arquiteta a construção de personagens jovens com comportamentos condizentes
com a idade, ao mesmo tempo que mostravam certas atitudes surpreendentes para
adolescentes. A própria protagonista, batizada de Christine, a fim de ter
personalidade própria, muda de maneira não oficial o seu nome para Lady Bird,
corrigindo constantemente (mesmo não parecendo chato) quem não chamá-la assim.
Agora se engana quem acha que se trata de uma garota extremamente rebelde.
Talvez nem isso ela seja, pois na verdade trata-se de uma menina que apenas não
se importa tanto com as coisas, vive como quer, mas sem almejar cometer
excessos, e se cometeu, não exibia más intenções.
O andar da carruagem do filme,
mostra a perspicácia de Greta Gerwig em construir uma Lady Bird sonhadora com
um futuro independente, seja na sua formação profissional ou somente no ato de
poder comprar o que quer, aliado ao fato do espectador se deparar com uma
admirável protagonista, que não só toma a iniciativa diante de diversos fatos, como também é
avançada para a idade em determinados assuntos, e não se censura em se por na linha de frente
na execução de trabalhos artísticos da escola, mesmo que muitos julguem isso como mico. A partir daí, o conceito do
filme cresce, e como não poderia deixar de ser, a trama apresenta um romance
cintilante entre Christine e Danny (interpretado por Lucas Hedges, que disputou
o Oscar de Ator Coadjuvante em 2017, por Manchester à Beira Mar), com um belo clímax,
impulsionado por uma perfeita trilha sonora de Jon Brion (que também assinou
Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças) e que fazem os olhos do espectador brilharem
a cada cena daquele casal.
Pena que essa história de amor
não seguiu um caminho artisticamente lógico, mas ao mesmo tempo reconhece-se
que Greta Gerwig sabe tão bem como todos nós, que namoro adolescente não é
duradouro, e munida de um fato comum, ela concebe, diante de um comportamento digno
da Lady Bird, uma nova e polêmica discussão em torno de questões pertinentes aos
jovens de maneira geral, mas que muitos estão se esquivando das mesmas. Logo se
vê que ela não estava a fim de fazer um filme em cima somente da comicidade
juvenil, pois também estavam muito claros os tons dramáticos e emocionais que Lady
Bird – É Hora de Voar possuía.
Diante de fatos e situações nas
quais a protagonista teve que se deparar, é mais que merecido tirar o chapéu
para a espetacular atuação de Saoirse Ronan. Perfeita na emoção, na travessura,
no conflito, no amor e na postura determinada que a personagem detinha, fazendo
que qualquer ser (independente de raça, credo, classe ou orientação sexual) se
identifique com ela até com um grito no meio da rua, após um beijo. A força que
a Lady Bird exibiu durante todo o filme, mostra, sem sombra nenhuma de dúvidas,
que ninguém a interpretaria como Ronan a interpretou. Faz-se justo também citar
a talentosa Laurie Metcalf (a mãe do Sheldon Cooper, do seriado The Big Bang
Theory), que representa a força de uma mãe, que teve um passado complicado, e
que hoje, com muita luta, segura as pontas de uma família com problemas financeiros,
e que mesmo com atitudes extremas, não perde o grande amor pelos seus entes. Só
não a acho merecedora do posto de favorita ao Oscar de Atriz Coadjuvante. Vamos
esperar 04 de março – data da premiação.
Reluzente em seu pouco mais de
90 minutos de duração, Lady Bird – É Hora de Voar é um filme que é mais que uma
comédia ou um romance adolescente, é uma obra sobre seres humanos. Greta Gerwig
foi perfeita ao cria-los na dose certa para fazer valer o dito que “dinheiro
não é boletim da vida”, como a própria obra prega. A maior curiosidade é que a
trama se passa em 2002, no período pós-11 de setembro, onde em meio a um país
em reflexão, pessoas ainda enaltecem sua personalidade e demonstram coragem diante de momentos de medo que aquela nação passava. Fica o desejo de que o mundo
tenha mais Lady Birds e que o cinema tenha mais lindas obras de Greta Gerwig.
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