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quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

LADY BIRD - É HORA DE VOAR



LADY BIRD - É HORA DE VOAR
DIREÇÃO: Greta Gerwig
ELENCO: Saoirse Ronan, Laurie Metcalf, Lucas Hedges e Timothée Chalamet


Uma adolescente de família pobre, vive contra o seu gosto na cidade de Sacramento, no estado da Califórnia. Lá, como toda jovem, acaba por se entregar a amizades, ao mesmo tempo que se envolve em aventuras, relacionamentos amorosos, conflitos, sem desprender-se dos planos de um futuro que vem pela frente.


O mundo cinéfilo se chocou com uma inesperada notícia nos derradeiros momentos do ano de 2017: Lady Bird – É Hora de Voar bateu o recorde de avaliações positivas no famoso site Rotten Tomatoes. O fato surpreende pelo fato de sua diretora Greta Gerwig (atriz de filmes como Frances Ha, Jackie e Mulheres do Século XX) estar estreando na função de maneira solo (em 2008, ela dirigiu o filme Nights and Weekends, mas em parceria com Joe Swanberg), e todo o enredo da trama nos remeter àquelas comédias adolescentes clichês, que no máximo conseguem ser meramente corretas. A curiosidade pela obra aumentou consideravelmente, e quem a assiste, há de admitir que não se trata de um filme qualquer.

Ao mesmo tempo, ninguém pode se censurar a afirmar que o início assusta pelo contexto óbvio na qual está inserido, com aquela inconformada ida a uma nova escola e muitas brigas com a mãe surgindo do nada, mas acontece que é fácil e vantajoso confiar em Greta Gerwig (que também assina o roteiro do filme), e só o fato dela incluir um assustador acidente no primeiro ato, logo se notou que ela sabia muito bem o que estava fazendo com uma peça aparentemente manjada.

A ambientação de boa parte da trama de Lady Bird – É Hora de Voar é numa escola católica, mas curiosamente sem tanto destaque às questões dogmáticas e o extremo rigor na educação dos discentes, abrindo inclusive brechas para piadas com o fanatismo religioso dos irlandeses – corriqueiro em muitos trabalhos cômicos americanos. Diante disso, a obra arquiteta a construção de personagens jovens com comportamentos condizentes com a idade, ao mesmo tempo que mostravam certas atitudes surpreendentes para adolescentes. A própria protagonista, batizada de Christine, a fim de ter personalidade própria, muda de maneira não oficial o seu nome para Lady Bird, corrigindo constantemente (mesmo não parecendo chato) quem não chamá-la assim. Agora se engana quem acha que se trata de uma garota extremamente rebelde. Talvez nem isso ela seja, pois na verdade trata-se de uma menina que apenas não se importa tanto com as coisas, vive como quer, mas sem almejar cometer excessos, e se cometeu, não exibia más intenções.

O andar da carruagem do filme, mostra a perspicácia de Greta Gerwig em construir uma Lady Bird sonhadora com um futuro independente, seja na sua formação profissional ou somente no ato de poder comprar o que quer, aliado ao fato do espectador se deparar com uma admirável protagonista, que não só toma a iniciativa diante de diversos fatos, como também é avançada para a idade em determinados assuntos, e não se censura em se por na linha de frente na execução de trabalhos artísticos da escola, mesmo que muitos julguem isso como mico. A partir daí, o conceito do filme cresce, e como não poderia deixar de ser, a trama apresenta um romance cintilante entre Christine e Danny (interpretado por Lucas Hedges, que disputou o Oscar de Ator Coadjuvante em 2017, por Manchester à Beira Mar), com um belo clímax, impulsionado por uma perfeita trilha sonora de Jon Brion (que também assinou Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças) e que fazem os olhos do espectador brilharem a cada cena daquele casal. 


Pena que essa história de amor não seguiu um caminho artisticamente lógico, mas ao mesmo tempo reconhece-se que Greta Gerwig sabe tão bem como todos nós, que namoro adolescente não é duradouro, e munida de um fato comum, ela concebe, diante de um comportamento digno da Lady Bird, uma nova e polêmica discussão em torno de questões pertinentes aos jovens de maneira geral, mas que muitos estão se esquivando das mesmas. Logo se vê que ela não estava a fim de fazer um filme em cima somente da comicidade juvenil, pois também estavam muito claros os tons dramáticos e emocionais que Lady Bird – É Hora de Voar possuía.

Diante de fatos e situações nas quais a protagonista teve que se deparar, é mais que merecido tirar o chapéu para a espetacular atuação de Saoirse Ronan. Perfeita na emoção, na travessura, no conflito, no amor e na postura determinada que a personagem detinha, fazendo que qualquer ser (independente de raça, credo, classe ou orientação sexual) se identifique com ela até com um grito no meio da rua, após um beijo. A força que a Lady Bird exibiu durante todo o filme, mostra, sem sombra nenhuma de dúvidas, que ninguém a interpretaria como Ronan a interpretou. Faz-se justo também citar a talentosa Laurie Metcalf (a mãe do Sheldon Cooper, do seriado The Big Bang Theory), que representa a força de uma mãe, que teve um passado complicado, e que hoje, com muita luta, segura as pontas de uma família com problemas financeiros, e que mesmo com atitudes extremas, não perde o grande amor pelos seus entes. Só não a acho merecedora do posto de favorita ao Oscar de Atriz Coadjuvante. Vamos esperar 04 de março – data da premiação.

Reluzente em seu pouco mais de 90 minutos de duração, Lady Bird – É Hora de Voar é um filme que é mais que uma comédia ou um romance adolescente, é uma obra sobre seres humanos. Greta Gerwig foi perfeita ao cria-los na dose certa para fazer valer o dito que “dinheiro não é boletim da vida”, como a própria obra prega. A maior curiosidade é que a trama se passa em 2002, no período pós-11 de setembro, onde em meio a um país em reflexão, pessoas ainda enaltecem sua personalidade e demonstram coragem diante de momentos de medo que aquela nação passava. Fica o desejo de que o mundo tenha mais Lady Birds e que o cinema tenha mais lindas obras de Greta Gerwig.



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