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sexta-feira, 30 de julho de 2021

UM LUGAR SILENCIOSO 2

 


UM LUGAR SILENCIOSO 2
DIREÇÃO: John Krasinski
ELENCO: Emily Blunt, Cillian Murphy e Djimon Hounsou


O terror que atingiu a família Abbott já está se espalhando mundo afora, e agora cabe a eles e ao resto da população encarar os seres da maldade nessa árdua luta pela vida, onde o silêncio continua sendo o principal mecanismo de defesa. A situação se torna mais perigosa quando há a constatação de que os inimigos de outrora não são os únicos que representam qualquer ameaça.

Os anos de 2017 e 2018 foram muito positivos para o gênero do terror no cinema, devido a grandiosos filmes, onde, curiosamente, era enxergado o talento na direção e no roteiro de dois humoristas: Jordan Peele, que nos entregou Corra!; e John Krasinski, que fez de Um Lugar Silencioso, um dos melhores longas de 3 anos atrás. Neste último, o clímax de suspense prevalece e cresce a cada barulho. Os fantasmas do passado são um sopro de temor que insiste em se multiplicar numa família. E se não há fera indomável, partir para o ataque à mesma parece ser a única solução, mesmo que seja algo praticamente suicida. Assim, a mescla de sofrimento e desespero só tende a se multiplicar, e num momento de extremo perigo, que infelizmente ninguém está imune, percebemos a humanidade em um pai, que quando assume grandiosamente a função, consegue ser tão capaz de atos fatais em prol do ente, quanto uma mãe.

Após um enorme sucesso, convertido em indicações a prêmios (como o Oscar) em categorias atípicas para filmes do tipo, há de se ficar sem entender o porquê de Krasinski querer fazer uma sequência para esse ótimo longa. O pior é que, na verdade, a gente entende. O capitalismo falou mais alto. De fato, não havia necessidade dessa continuação, mas pode-se dizer que ela, desde a sua concepção, apresentou elementos que a tornasse digna de nossa curiosidade.

É inegável o amadurecimento de John Krasinski enquanto cineasta. Talvez ele e sua esposa Emily Blunt formem o único casal que possa bater de frente com Joel Coen e Frances McDormand na dúvida sobre qual é o mais talentoso de Hollywood. No prólogo de Um Lugar Silencioso 2, inteligentemente a inclusão da família Abbott em uma área de zona urbana, nos dá uma ideia de como seria uma inserção deles num meio que não seja rural, além da perspicácia do par e de seus filhos no lidar de situações simples e aterrorizantes do dia-a-dia. Assim, ao invés do primeiro ato introduzir este segundo filme, ele executa o real ponto de partida do filme anterior, onde, uma ágil sequência no trânsito, com um aprimoramento dos efeitos visuais e um melhor “andar de mãos dadas” da edição de som com os efeitos sonoros, nos dão um recado de que o longa não está a fim de perdas de tempo.

Sendo assim, parecia que 15 minutos eram suficientes para desejar que fosse construída uma estátua de ouro do John Krasinski, que também escreve o roteiro de Um Lugar Silencioso 2, ao lado de Bryan Woods, repetindo assim a parceria do primeiro longa. Novamente, eles conseguiram trazer metáforas, como um forno, que representa uma espécie de casulo temido, mas necessário; o paradoxo de uma intensa convivência popular se arquitetar tendo como base o silêncio; um maior investimento na surdez em tempos de tormenta; e um ambiente de pura guerra, onde os dramas são bem maiores do que se possa imaginar.

Mas a grande ironia de Um Lugar Silencioso 2 é que este filme, que não é ruim, tem uma grande queda de qualidade em comparação ao primeiro. Apesar de todas as virtudes apresentadas nos parágrafos supracitados, a execução, avaliada como um todo, não foi tão positiva como a ideia em si. Apesar da sensação de que monstros podem ser tão humanos quanto a paranormalidade, a ausência de clímax neste longa beira o revoltante, tal qual é a redução do peso dos personagens, principalmente o de Emily Blunt, onde notavelmente sua relevância torna-se nula diante de outros elementos desinteressantes, que ganharam um superestimado destaque, quando a mãe Abbott poderia ter tido um grandioso desenvolvimento, que até exploraria o gigantesco talento de Blunt.

Apesar dos pesares, não há motivo para perdermos a confiança em John Krasinski. Afinal, sua premissa para essa continuação não poderia ter sido melhor, apesar de algumas falhas na execução. Um Lugar Silencioso 2 nos afastou da ideia de que enquanto uma doença não tem cura, não resta ao enfermo nada senão o sofrimento; mas quando o antídoto é encontrado, a saída é explorá-lo e repassar a fórmula para todos. Talvez o ideal seria retornar à sua casinha no campo, pois o longa nos dá um novo exemplo do porquê que a vida longe da cidade grande é melhor de ser vivida.

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