Os anos de 2017 e 2018 foram muito positivos para o gênero
do terror no cinema, devido a grandiosos filmes, onde, curiosamente,
era enxergado o talento na direção e no roteiro de dois humoristas: Jordan
Peele, que nos entregou Corra!; e John Krasinski, que fez de Um Lugar
Silencioso, um dos melhores longas de 3 anos atrás. Neste último, o clímax de
suspense prevalece e cresce a cada barulho. Os fantasmas do passado são um
sopro de temor que insiste em se multiplicar numa família. E se não há fera
indomável, partir para o ataque à mesma parece ser a única solução, mesmo que
seja algo praticamente suicida. Assim, a mescla de sofrimento e desespero só
tende a se multiplicar, e num momento de extremo perigo, que infelizmente ninguém
está imune, percebemos a humanidade em um pai, que quando assume grandiosamente
a função, consegue ser tão capaz de atos fatais em prol do ente, quanto uma
mãe.
Após um enorme sucesso, convertido em indicações a
prêmios (como o Oscar) em categorias atípicas para filmes do tipo, há de se
ficar sem entender o porquê de Krasinski querer fazer uma sequência para esse
ótimo longa. O pior é que, na verdade, a gente entende. O capitalismo falou
mais alto. De fato, não havia necessidade dessa continuação, mas pode-se dizer que
ela, desde a sua concepção, apresentou elementos que a tornasse digna de nossa
curiosidade.
É inegável o amadurecimento de John Krasinski enquanto
cineasta. Talvez ele e sua esposa Emily Blunt formem o único casal que possa
bater de frente com Joel Coen e Frances McDormand na dúvida sobre qual é o mais
talentoso de Hollywood. No prólogo de Um Lugar Silencioso 2, inteligentemente a
inclusão da família Abbott em uma área de zona urbana, nos dá uma ideia de como
seria uma inserção deles num meio que não seja rural, além da perspicácia do
par e de seus filhos no lidar de situações simples e aterrorizantes do
dia-a-dia. Assim, ao invés do primeiro ato introduzir este segundo filme, ele
executa o real ponto de partida do filme anterior, onde, uma ágil sequência no
trânsito, com um aprimoramento dos efeitos visuais e um melhor “andar de mãos
dadas” da edição de som com os efeitos sonoros, nos dão um recado de que o longa não está a fim de perdas de tempo.
Mas a grande ironia de Um Lugar Silencioso 2 é que este filme, que não é ruim, tem uma grande queda de qualidade em comparação ao primeiro. Apesar de todas as virtudes apresentadas nos parágrafos supracitados, a execução, avaliada como um todo, não foi tão positiva como a ideia em si. Apesar da sensação de que monstros podem ser tão humanos quanto a paranormalidade, a ausência de clímax neste longa beira o revoltante, tal qual é a redução do peso dos personagens, principalmente o de Emily Blunt, onde notavelmente sua relevância torna-se nula diante de outros elementos desinteressantes, que ganharam um superestimado destaque, quando a mãe Abbott poderia ter tido um grandioso desenvolvimento, que até exploraria o gigantesco talento de Blunt.
Apesar dos pesares, não há motivo para perdermos a confiança em John Krasinski. Afinal, sua premissa para essa continuação não poderia ter sido melhor, apesar de algumas falhas na execução. Um Lugar Silencioso 2 nos afastou da ideia de que enquanto uma doença não tem cura, não resta ao enfermo nada senão o sofrimento; mas quando o antídoto é encontrado, a saída é explorá-lo e repassar a fórmula para todos. Talvez o ideal seria retornar à sua casinha no campo, pois o longa nos dá um novo exemplo do porquê que a vida longe da cidade grande é melhor de ser vivida.
0 comentários:
Postar um comentário