GONZAGA - DE PAI PARA FILHO
DIREÇÃO: Breno Silveira
ELENCO: Chambinho do Acordeon, Julio Andrade, Land
Vieira, Luciano Quirino, Nanda Costa, Ana Roberta Gualda, Claudio Jaborandy,
Cyria Coentro, Giancarlo di Tomazzio.
Um pai e um filho, dois artistas, dois sucessos.
Um do sertão nordestino, o outro carioca do Morro de São Carlos; um de direita,
o outro de esquerda. Encontros, desencontros e uma trilha sonora que emocionou
o Brasil. Esta é a história de Luiz Gonzaga e Gonzaguinha, e de um amor que
venceu o medo e o preconceito e resistiu à distância e ao esquecimento.
Como a maioria dos brasileiros (não todos,
evidente), sou um apaixonado por carnaval. Este ano, como um bom espectador dos
Desfiles das Escolas de Samba do Rio de Janeiro, fiquei bastante satisfeito com
o título da Unidos da Tijuca, que, em seu enredo, homenageou Luiz Gonzaga.
Desde o desfile que venho pesquisando sobre a vida do Rei do Baião. Não que eu
o desconhecesse (longe de mim), mas não custava nada engrandecer minha cultura
acerca do nordestino. O que eu posso dizer aqui é que, no decorrer de oito
meses, nenhuma pesquisa, por mais rica que fosse não me encantou mais que Gonzaga – De pai Para Filho, mais uma
obra-prima de Breno Silveira.
Em um ponto eu concordo com Isabela Boscov:
Breno Silveira faz filmes sobre pais e filhos. Sua filmografia está aí para
comprovar. Mas, neste caso, nos deparamos com uma relação bem conturbada. Eu
não devia estar falando isso, mas não irei me censurar. Em meus quase 23 anos
de vida, não tive pai, mesmo que o sujeito esteja vivo até hoje. Nenhum
telefonema, nenhuma visita, nenhum acompanhamento, nenhuma assistência financeira,
nenhum gesto de amor e carinho... Logo, estava testemunhando um assunto que eu
conhecia muito bem. De fato, para tudo, todos têm suas razões. Não que qualquer
ato, por pior que seja, tenha justificativa. Não é à toa que, em Gonzaga – De Pai Para Filho, seja demonstrada uma trama onde todos os
problemas serão colocados em pratos limpos, e cabe a Luiz Gonzaga e Gonzaguinha
buscar a mais cabível solução, e ao espectador perceber se o correto aconteceu.
Acreditem, Graças a Breno Silveira, nenhum fato acerca dos dois escapa a
percepção de todos. E, felizmente, não testemunham-se atos tristes todo
momento.
Em uma sociedade atual onde o nordestino é
duramente discriminado sem razões concretas, a vida de Luiz Gonzaga se resume a
uma só palavra: Deslumbre. Não que essa vida tenha sido um total mar de rosas,
mas porque sempre se podia tirar algo de positivo dela. Em um só filme, Breno
Silveira entrega uma história cômica, dramática, de superação, de sucesso, sem
estender ou encurtar os atos. Com um elenco que não parecia estar atuando, e
sim sendo o personagem, adentra-se ao extremo da vida de Gonzaga, com seus
traumas amorosos, suas estripulias militares, sua rejeição duramente sofrida,
os objetivos que tardavam em serem alcançados, a difícil tentativa de ter
sempre a família completa ao seu redor... Tudo isso é observado sem permitir
que todos percam a conexão com o Gonzaga que conhecemos. Quem acompanha o
filme, ri e chora junto naturalmente, como se Luiz Gonzaga fosse um ente
querido que conhecemos muito bem. E o filme chega ao ápice do sublime na genial
inclusão de canções da carreira dos Gonzagas nos atos, dando autenticidade para
todos na arte de estar vendo o filme que se queria ver. Voltando a
discriminação contra o nordestino, Breno Silveira dá um tapa na cara da sociedade
contemporânea, ao mostrar o louvor recebido por Luiz Gonzaga no momento do
sucesso alcançado no Rio de Janeiro, por um povo de um século anterior ao nosso
enaltecendo uma novidade bem recebida e dando o devido e merecido status de rei
para Luiz Gonzaga. Na cena em que o Rei do Baião canta gratuitamente “Que nem
Jiló” no teto de um cinema para um público deslumbrado com o que via, eu, como
um bom e orgulhoso nordestino, imediatamente fui às lágrimas e me perguntava:
Por quê? Por quê? Por que tanto preconceito sem razão? Como pode o século XXI
ser mais retrógrado que o XX?
Com um final entregando as mais belas doses
de emoção agora 100% centradas na relação entre os dois músicos, Gonzaga – De Pai Para Filho coloca com
maestria o nome de Breno Silveira no patamar dos grandes cineastas brasileiros,
patamar esse onde já se encontram Fernandos, Walters e Glaubers. Numa
atualidade em que o cinema nacional tem
como ponto alto Selton Mello, lembro-me de seu comentário em que o mesmo pede
que o nosso cinema pare de pagar pau por Hollywood. Não que ele esteja errado,
mas Deus livrai-nos de contestar o poder que a indústria americana tem, e não
nego que encher-me-ia de orgulho ver Breno Silveira mostrando seu talento na
Meca Cinematográfica, da mesma maneira que Breno me fez ter orgulho ao mostrar
o talento do inoxidável Luiz Gonzaga sem desmerecer, diminuir ou distorcer a
trajetória pessoal e profissional de Gonzaguinha.
Fonte da Sinopse: CinePop
O
Que É, O Que É?
Gonzaguinha
Eu
fico
Com a pureza
Da resposta das crianças
É a vida, é bonita
E é bonita...
Viver!
E não ter a vergonha
De ser feliz
Cantar e cantar e cantar
A beleza de ser
Um eterno aprendiz...
Ah
meu Deus!
Eu sei, eu sei
Que a vida devia ser
Bem melhor e será
Mas isso não impede
Que eu repita
É bonita, é bonita
E é bonita...
E
a vida!
E a vida o que é?
Diga lá, meu irmão
Ela é a batida
De um coração
Ela é uma doce ilusão
Hê! Hô!...
E
a vida
Ela é maravilha
Ou é sofrimento?
Ela é alegria
Ou lamento?
O que é? O que é?
Meu irmão...
Há
quem fale
Que a vida da gente
É um nada no mundo
É uma gota, é um tempo
Que nem dá um segundo...
Há
quem fale
Que é um divino
Mistério profundo
É o sopro do criador
Numa atitude repleta de amor...
Você
diz que é luta e prazer
Ele diz que a vida é viver
Ela diz que melhor é morrer
Pois amada não é
E o verbo é sofrer...
Eu
só sei que confio na moça
E na moça eu ponho a força da fé
Somos nós que fazemos a vida
Como der, ou puder, ou quiser...
Sempre
desejada
Por mais que esteja errada
Ninguém quer a morte
Só saúde e sorte...
E
a pergunta roda
E a cabeça agita
Eu fico com a pureza
Da resposta das crianças
É a vida, é bonita
E é bonita...




1 comentários:
Esse filme é excelente. Provavelmente, o melhor nacional em 2012, seguido somente de "À Beira do Caminho", que também, curiosamente, foi dirigida por Breno Silveira. A força dessa história está no relacionamento turbulento entre pai e filho e da compreensão e respeito dele das diferenças entre eles. A atuação de Julio Andrade é assombrosa e uma das melhores coisas de um longa que comove sem nem sequer notar.
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