BIRDMAN ou (A INESPERADA VIRTUDE DA IGNORÂNCIA)
DIREÇÃO: Alejandro Gonzalez Iñarritu
ELENCO: Michael Keaton, Edward Norton, Emma Stone, Naomi Stone, Amy Ryan e Zach Galifianakis
9 INDICAÇÕES AO OSCAR
Riggan
Thompson (Michael Keaton) era um ator de sucesso que marcou época ao
interpretar o Birdman, um super- herói que entrou para o seleto grupo dos mais
populares. Ao recusar interpretar o personagem novamente, sua carreira tem uma
queda brusca. Tentando recuperar o prestígio, ele encabeça a produção de um
espetáculo na Broadway, mas a relação com os colegas Mike Shiner (Edward
Norton), Lesley (Naomi Watts) e Laura (Andrea Riseborough) não é nada fácil,
além de ter que conviver com uma estranha voz que tenta lhe dominar.
O filme pode enganar ao supor que se trata de uma
obra de ação, da mesma maneira que muitos podem achar bem utópicas tais
situações ali existentes. Mas me remeto a Argo em uma cena em que Tony Mendes (Ben
Affleck) diz para John Chambers (John Goodman) que está precisando criar uma
mentira, e o mesmo responde que chegou ao lugar certo: a indústria de showbusiness.
É aí que podemos ter em mente quão real Birdman é, por expor um fato generalizado
que está na cara e ninguém percebe, para a alegria de muitos.
O filme é uma obra que incomoda, já que não tem o
mínimo compromisso em criar demagogias, graças ao brilhante roteiro escrito
racionalmente pelo diretor Alejandro Gonzalez Iñarritu, em parceria com Nicolás
Giacobone, Alexander Dinelares e Armando Bo (todos indicados ao Oscar). Em um
ato contínuo, Birdman traz uma atual realidade de ter que viver uma carreira
artística. Para muitos, há 70 anos atrás, o chegar de novos meio para a atuação
não era tão relevante, e o se consolidar em apenas um, ativando seu prazer
artístico era satisfatório. Porém, para tudo, sempre há um novo tempo. Nas artes,
a essência está cada vez mais sendo abandonada e o se colocar nos veículos de
maiores alcances é uma meta obrigatória, e a disputa é contra pessoas onde o
talento nem sempre é alcançado e os desaforos não são mesmo levados para casa. Muito
é dito que prêmios, fama e sucesso não são tudo, mas as controvérsias estão
cada vez mais sendo escancaradas. Daí o total desespero de Riggan, que tenta se
apegar com aquilo que realmente vale na vida, mas a voz perturbadora que ele
ouve nada mais é do que o seu principal sentimento de que querer tudo aquilo
que ele já teve de volta e manter-se sempre no auge, para que quando a sua missão
humana na terra se findar, sua morte ser mais comentada que a de George
Clooney. A metáfora em Birdman é dizer que ninguém se cansa de ser valorizado e
as derrotas não são muito levadas na boa com um sorriso de pessoas civilizadas.
O ápice do filme está na atuação de Michael Keaton
(Indicado ao Oscar 2015 de Melhor Ator por este filme), que tem uma história de
vida parecida com a do personagem, mas não deixa as coisas se mesclarem e entrega
uma personalidade intrigante ao personagem, propondo um elo com o espectador e
encabeçando com maestria sequências arrepiantes, onde louva-se o seu adentrar
no transtorno psicológico que o personagem passa.
Os demais membros do elenco cumprem bem o papel,
fazendo desse time um dos mais bem sucedidos no ano. Edward Norton (Indicado ao
Oscar 2015 de Melhor Ator Coadjuvante por este filme) é a face da antipatia e
do estrelismo, usufruindo da profissão para se fazer alguém superior aos
demais. Emma Stone (Indicada ao Oscar 2015 de Melhor Atriz Coadjuvante por este
filme) é de uma presença forte, desmistificando qualquer preconceito para uma
jovem atriz consagrada nas comédias e derruba diversos estereótipos nos quais
já estávamos acostumados ao testemunhar em sua carreira. Mas é um absurdo ver toda
essa celebração com essa mocinha e nada ser falado da estupenda performance de Naomi
Watts, que arrasa como uma sonhadora que traz na pele as consequências
negativas que o realizar de um sonho podem trazer, exibindo uma bela carga
dramática, que poderia ter sido mais reconhecida na temporada de premiações.
Bem conduzido com bastante precisão por Iñarritu
(Indicado ao Oscar 2015 de Melhor Diretor por este Filme), Birdman é um filme
possuidor de uma narrativa que não se permite chegar a complexidade e
constitui-se de uma história onde o espectador está completamente ligado a
trama e seu protagonista, sem desprender-se dos demais personagens e dos
contextos que estão diretamente ligados, para no fim constatar que está num
mundo bem real.
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