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quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

BIRDMAN ou (A INESPERADA VIRTUDE DA IGNORÂNCIA)



BIRDMAN ou (A INESPERADA VIRTUDE DA IGNORÂNCIA)
DIREÇÃO: Alejandro Gonzalez Iñarritu
ELENCO: Michael Keaton, Edward Norton, Emma Stone, Naomi Stone, Amy Ryan e Zach Galifianakis
9 INDICAÇÕES AO OSCAR


Riggan Thompson (Michael Keaton) era um ator de sucesso que marcou época ao interpretar o Birdman, um super- herói que entrou para o seleto grupo dos mais populares. Ao recusar interpretar o personagem novamente, sua carreira tem uma queda brusca. Tentando recuperar o prestígio, ele encabeça a produção de um espetáculo na Broadway, mas a relação com os colegas Mike Shiner (Edward Norton), Lesley (Naomi Watts) e Laura (Andrea Riseborough) não é nada fácil, além de ter que conviver com uma estranha voz que tenta lhe dominar.


O filme pode enganar ao supor que se trata de uma obra de ação, da mesma maneira que muitos podem achar bem utópicas tais situações ali existentes. Mas me remeto a Argo em uma cena em que Tony Mendes (Ben Affleck) diz para John Chambers (John Goodman) que está precisando criar uma mentira, e o mesmo responde que chegou ao lugar certo: a indústria de showbusiness. É aí que podemos ter em mente quão real Birdman é, por expor um fato generalizado que está na cara e ninguém percebe, para a alegria de muitos.

O filme é uma obra que incomoda, já que não tem o mínimo compromisso em criar demagogias, graças ao brilhante roteiro escrito racionalmente pelo diretor Alejandro Gonzalez Iñarritu, em parceria com Nicolás Giacobone, Alexander Dinelares e Armando Bo (todos indicados ao Oscar). Em um ato contínuo, Birdman traz uma atual realidade de ter que viver uma carreira artística. Para muitos, há 70 anos atrás, o chegar de novos meio para a atuação não era tão relevante, e o se consolidar em apenas um, ativando seu prazer artístico era satisfatório. Porém, para tudo, sempre há um novo tempo. Nas artes, a essência está cada vez mais sendo abandonada e o se colocar nos veículos de maiores alcances é uma meta obrigatória, e a disputa é contra pessoas onde o talento nem sempre é alcançado e os desaforos não são mesmo levados para casa. Muito é dito que prêmios, fama e sucesso não são tudo, mas as controvérsias estão cada vez mais sendo escancaradas. Daí o total desespero de Riggan, que tenta se apegar com aquilo que realmente vale na vida, mas a voz perturbadora que ele ouve nada mais é do que o seu principal sentimento de que querer tudo aquilo que ele já teve de volta e manter-se sempre no auge, para que quando a sua missão humana na terra se findar, sua morte ser mais comentada que a de George Clooney. A metáfora em Birdman é dizer que ninguém se cansa de ser valorizado e as derrotas não são muito levadas na boa com um sorriso de pessoas civilizadas.

O ápice do filme está na atuação de Michael Keaton (Indicado ao Oscar 2015 de Melhor Ator por este filme), que tem uma história de vida parecida com a do personagem, mas não deixa as coisas se mesclarem e entrega uma personalidade intrigante ao personagem, propondo um elo com o espectador e encabeçando com maestria sequências arrepiantes, onde louva-se o seu adentrar no transtorno psicológico que o personagem passa.

Os demais membros do elenco cumprem bem o papel, fazendo desse time um dos mais bem sucedidos no ano. Edward Norton (Indicado ao Oscar 2015 de Melhor Ator Coadjuvante por este filme) é a face da antipatia e do estrelismo, usufruindo da profissão para se fazer alguém superior aos demais. Emma Stone (Indicada ao Oscar 2015 de Melhor Atriz Coadjuvante por este filme) é de uma presença forte, desmistificando qualquer preconceito para uma jovem atriz consagrada nas comédias e derruba diversos estereótipos nos quais já estávamos acostumados ao testemunhar em sua carreira. Mas é um absurdo ver toda essa celebração com essa mocinha e nada ser falado da estupenda performance de Naomi Watts, que arrasa como uma sonhadora que traz na pele as consequências negativas que o realizar de um sonho podem trazer, exibindo uma bela carga dramática, que poderia ter sido mais reconhecida na temporada de premiações.

Bem conduzido com bastante precisão por Iñarritu (Indicado ao Oscar 2015 de Melhor Diretor por este Filme), Birdman é um filme possuidor de uma narrativa que não se permite chegar a complexidade e constitui-se de uma história onde o espectador está completamente ligado a trama e seu protagonista, sem desprender-se dos demais personagens e dos contextos que estão diretamente ligados, para no fim constatar que está num mundo bem real.


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