RELATOS SELVAGENS
DIREÇÃO: Damián Szifron
ELENCO: Ricardo Darin, Oscar Martinez, Leonardo Sbaraglia e Erica Rivas
1 INDICAÇÃO AO OSCAR
A vida não é fácil, devemos nos acostumar com isso. A
imprevisibilidade faz com que personagens se surpreendam com suas próprias
atitudes, onde diante de fatos trágicos que parecem querer atingir a uma só
pessoa, leva um ser humano a perder todo o controle de seu psicológico.
Hoje em dia no Brasil está crescendo gradativamente o debate
sobre o dito limite do humor. Aquilo que pode ser naturalmente encarado como
cômico e aquilo que soa uma tremenda falta de respeito passível de processos
judiciais. Admito não perder meu tempo com isso, pois concordo e discordo com
muitos argumentos de ambas as partes. Agora se dermos atenção a um país
vizinho, basta só tomarmos o exemplo de Relatos Selvagens, para percebermos que
no quesito piada, a Argentina está dando de 7 a 1 no Brasil, o que dá muitos
pontos ao hermanos nessa que é a mais imbecil rivalidade do Mundo.
Tornando contemporânea a maneira de se fazer uma
tragicomédia, o filme não se amedronta em se dividir em atos onde a introdução,
o desenvolvimento e a conclusão de um acontecem antes de se adentrar ao próximo.
Ao pé da letra, trata-se de uma fórmula que pode deixar tudo a perder, tornando
o filme cansativo e fazendo facilmente o espectador se perguntar sobre o que é
aquilo que ele está vendo com um ar de negação. Mas não é isso o que acontece.
Se no início deve haver algo forte para impactar, Relatos Selvagens deu show
nesse quesito, ao transformar uma passagem simples ocorrida em um avião (perdoem o
trocadilho) em uma cena genialmente arquitetada, que surpreende em seu desfecho exibindo atitudes que os outros fazem, que muitos julgam como algo
para se deixar para lá, mas que na verdade enfurece e muito o ser humano. Sendo
assim, todos ficam presos ao filmes e esperando ansiosamente ao próximo ato,
que assim como o último, vale muito a pena.
O roteiro de Relatos Selvagens aliado a uma direção intensa
e ousada de Damián Szifron exibe com perfeccionismo o quão somos pequenos e não
temos controle nenhum sobre nossas atitudes tal qual pensamos. O rancor de fato
existe e é levado eternamente por todos, o que pode nos levar a se questionar
se realmente um possível perdão dado foi sincero. O grande acerto do filme foi
trabalhar tais fatos de maneira fortemente humorística, pois caso contrário poderia
resultar em um filme com um grande potencial de drama psicológico que
incomodaria e muito quem o assiste. Os tons cômicos acrescentados justamente
nos personagens antagonistas dão aquele glamour ao vilão que todos gostam de
ver.
Ao passo que o início da obra é simplesmente impecável e o
demais atos inteligentes, pode-se dizer que o final fechou com chave de ouro
esse brilhante filme argentino. Em um ato que dá foco a um casamento, intitulado
Hasta que la muerte nos separe, os problemas que dão muito trabalho aos terapeutas
de casais nos trazem um incrível festival de reviravoltas brilhantemente
conduzido por Erica Rivas, ex- mulher do ótimo ator Rodrigo De La Serna, que,
roubando a cena, tornou-se o grande nome de um elenco que ainda conta com o
superstar sulamericano Ricardo Darin. Desenvolvido com clichês bem usados com
umas pitadas de revanchismo ao estilo Quentin Tarantino, o final abusa
positivamente da intensidade, levando todos às gargalhadas por duas razões: A
comicidade da cena e o admitir que somos tão ridículos e capazes de fazer
exatamente tudo aquilo que o filme mostra (atos nada benevolentes e a aceitação de algumas humilhações). Não são só os personagens que se surpreendem
com si mesmos. Nós também estamos nesse time. Indiretamente é a história de
vida de muitos que faz com que nos apeguemos a nossa crença e peçamos perdão
por todos, pois, definitivamente, não sabemos o que fazemos.
Indicado ao Oscar 2015 de Melhor Filme Estrangeiro, Relatos
Selvagens reforça esse atual e grande momento do cinema argentino, colocando o
país com um belo e merecido destaque no cenário artístico mundial. A situação
torna-se melhor quando percebemos que os governados por Cristina Kirchner e
conterrâneos de Sua Santidade Papa Francisco também acertam em cheio nas
comédias, fazendo disso um de três motivos para que nossos vizinhos possam ir
ao cinema para prestigiar o humor nacional. Os outros dois é que lá não tem
Globo Filmes, nem Leandro Hassum.
3 comentários:
Um filmaço, talvez o melhor filme Argentino que já vi em toda minha vida, gostei de todos os contos de forma geral, claro que, esse filme sofre do problema clássico de um conto ser melhor que o outro, contudo gostei de todos, especialmente do Darin e do ultimo ... filmão, bem conduzido, escrito e dirigido, sem dúvidas o melhor dos cinco filmes estrangeiros.
http://movieseldridge.blogspot.com.br/
No que diz respeito ao cinema, os brasileiros levam de goleada dos argentinos. Ainda não assisti a "Relatos Selvagens", mas o filme muito me interessa, especialmente por causa das boas críticas que tenho lido.
Cleber, de fato existem contos melhores que os outros, mas chamar de problema clássico em um filmaço como esse é exagero.
Kamila, as boas críticas chamaram minha atenção e felizmente pude perceber o quão certas elas estavam.
Abraços
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