DIVERTIDA MENTE
DIREÇÃO: Pete Docter
ELENCO ORIGINAL: Amy Poehler, Bill Hader, Diane Lane e Mindy Kaling
A garotinha Riley tem 11
anos de idade e adora praticar esportes. Ela passa por uma inesperada mudança
em sua vida, que é quando os seus pais decidem mudar de cidade. Dentro de seu
cérebro, suas emoções convivem harmonicamente (ou não). São elas a alegria, o
medo, a raiva, o nojo e a tristeza. Em um problema no controle, a primeira e a
última acabam senso expelidas e precisam urgentemente retornar para não
permitir que haja uma mudança radical na vida da menina.
Uma das mais belas ironias
da Pixar é produzir diversos de seus filmes partindo de um pressuposto que é
entreter e divertir crianças de todas as idades, mas acaba liberando uma
incrível carga emocional, que acaba fazendo de suas obras infantis, um trabalho
de gente grande. Toy Story 3 foi um belo reflexo de vida de quem passou mais de
dez anos assistindo a franquia, sem deixar de entregar algo impactante para
quem o via pela primeira vez. E através dos elementos dessa obra que, em 2011,
ganhou 2 Oscars, Divertida Mente constrói uma trama espetacular em diversos
sentidos, o que denota mais um marco no poderoso estúdio ligado a Disney, após o questionável Valente, que não conseguiu agradar a gregos e troianos.
Sendo um prato cheio para um
público que hoje tanto venera o “fator família”, Divertida Mente constrói um
lar de respeito, apreço e amparo a personagem protagonista, dando autenticidade
às ilhas existentes no pensamento da Riley, que dosava corretamente os valores familiares,
a força da amizade e as positivas manias bobas, que dão um tom descontraído a
sua vida, sem perder a autoestima. Um cerne da obra é a criação de sentimentos,
sem que os mesmos ganhem ares antagonistas, justificando as passagens da vida
da garota que a desagradavam, como puros mecanismos de defesa, para que certas
situações não alcancem proporções piores.
Quando alcança o acidente,
que faz com que a trama ganhe um ritmo intrigante e bem mais ágil, Divertida
Mente mostra-se um show de inteligência, investindo em fatores do inconsciente
humano, alguns até misteriosos, mas que qualquer ser demonstra dificuldade de se
desprender dele, citando como exemplo a sempre agradável companhia do amigo
imaginário, fisicamente concebido de uma maneira sensata, mas precoce para a
cabeça de uma criança; os sonhos, que, em sua maioria são positivos,
apresentam-se neste filme ao estilo Razzle Dazzle de Chicago, onde podemos imaginar
tudo como uma grande festa, onde no final tudo fica bem, aliviando a todos por ter sido
apenas um sonho; e a questão publicitária que consome a qualquer um, onde todos
ficam inconformados com a aquele jingle, muitas vezes bobo, mas que não dá para
tirar da mente. E falando nela, a questão do esquecimento daquilo que
vivenciamos, apresenta-se como um buraco negro, com todos os dotes
amedrontantes para alguém que estar adentrando a ele e saindo definitivamente
da vida de alguém.
De acordo com o que já fora
dito, vale muito celebrar a beleza e a criatividade do trabalho de direção de
arte de Divertida Mente (assinada por Ralph Eggleston e Bert Berry), que mesmo
em um universo fantasioso e infantil, é de uma verdade absoluta, de acordo com
o que o filme prega e com a experiência de vida do espectador.
Com um deslumbrante
desenvolvimento, a maior moral da história de Divertida Mente é o de propagar a
alegria e a tristeza como dois sentimentos essenciais na vida do ser humano. A
primeira por questões óbvias e por ser uma batalhadora (como brilhantemente o
filme exibe), ao ser consciente da responsabilidade de ser a característica
principal de um homem ou uma mulher, e não entrar em processo de perda, mesmo em momentos
difíceis. A segunda não é escancarada como um defeito, mas como uma forma de
expressão, de desabafo, que tem que ser explorada para a resolução do problema
que leva um ser a tal emoção. Deixar a vida sem alegria e tristeza, e entregue ao
medo, ao nojo e a raiva faz com que qualquer um guie sua vivência com destino a
atitudes irresponsáveis e lamentáveis. E o filme ainda migra para a mente dos
outros personagens, afirmando que situações podem acontecer com qualquer um.
Com uma linda e memorável
trilha sonora de Michael Giacchino, além de (odeio admitir isso) surpreendentes
e competentes trabalhos da dublagem brasileira de Miá Melo, Dani Calabresa e
Katiuscia Canoro, o filme enaltece a competência do diretor e
roteirista Pete Docter, que é um mestre na arte de investir em emoção, citando
os derradeiros momentos de Monstros S.A. e o sublime ato inicial de Up – Altas Aventuras.
Em Divertida Mente, é inevitável deliciar-se com a obra, que, acima de tudo,
propõe reflexão, até mesmo para adultos, inclusive aqueles que reconhecem os
desvios da juventude e admitem o que faltou de verdade.
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