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sábado, 13 de fevereiro de 2016

O QUARTO DE JACK


O QUARTO DE JACK
DIREÇÃO: Lenny Abrahamson
:ELENCO: Brie Larson, Jacob Tremblay, William H Macy e Joan Allen
4 INDICAÇÕES AO OSCAR


A escritora Emma Donoghue roteiriza a versão cinematográfica de seu livro O Quarto de Jack. A trama gira em torno de Ma (Brie Larson), que foi sequestrada por um homem e vive num quarto de 10 m2 com o filho Jack (Jacob Tremblay) – fruto desse sequestrador e que nunca viu a luz do dia. Ao mesmo tempo em que fica em estado de desespero por conta da situação, ela tem a tarefa de criar seu filho, não abdicando de contar-lhe histórias antes de dormir, celebrar o seu aniversário. Cansados da situação, Ma e Jack elaboram um plano de fuga, onde, acima de tudo, poderão serem vistos valores familiares se sobressaindo para que os objetivos sejam atingidos.


Lenny Abrahamson (Indicado ao Oscar 2016 de Melhor Diretor por este filme) apresenta o grande trabalho de sua pouco conhecida carreira, e ele não poderia estar se revelando ao mundo de maneira melhor. Tratando um assunto delicado, o espectador se depara com a desumanidade de atos profundamente criminosos, que terrivelmente não são puramente fictícios, no tocante em que casos como esse têm ganho os noticiários nos últimos anos, principalmente nos Estados Unidos. Evidente que o exibido em O Quarto de Jack não é nem 10% da dura realidade, mas é um escancarar perfeito dos instintos de uma sociedade, sejam eles positivos e negativos.

Ao mesmo tempo em que questões emocionais são postas a prova, a parte técnica do filme surpreende no trabalho de planos numa área minúscula, onde os cortes feitos no trabalho de edição aumentam a intensidade da obra, focalizando a perspicácia do diretor numa precisão extraordinária, aproveitando bem espaço e elenco, para o melhor enfatizar a situação, que por sinal, não exibe frieza, mesmo com Ma e Jack não estarem derramando lágrimas a todo momento. Nota-se claramente a questão da adaptação. Lógico que se espera um resgate, mas enquanto estivesse ali, tinha que saber viver, até mesmo porque uma criança estava ali contida. Com isso, percebe-se a criação de brinquedos através de cascas de ovo, e para um ambiente monótono, a companhia de um rato chega a ser algo empolgante.

Com o intuito de transformar mãe e filho em exemplo de superação, a parceria direção/produção/roteiro cria um ato para a criação de dois mitos em busca da liberdade, sem entrar em contradição com uma realidade dura de se admitir. Logo, o simples ato de enrolar-se e desenrolar-se num tapete pode ser muito fácil, mas para alguém de nunca saiu de área de 10 m2 é uma verdadeira batalha que pode levá-lo a surtos psicológicos. E claramente o espectador é obrigado a admitir o quão verdadeira é aquela situação, que passa a ser mais desesperadora do que imaginamos. Só que é evidenciado o instinto de guerreira da mãe, que não desiste e passa aquela força e tranquilidade de que vai chegar lá.

Dando uma resposta aos questionamentos do público logo em sua metade, O Quarto de Jack não chega a ser irresponsável por esse ato que não foi gratuito, já que dali por diante começa uma nova saga, que é a da reabilitação, onde duas pessoas reinseridas numa sociedade, a princípio, curiosa, serão entregues aos mesmos desafios que o mundo real entrega para os “livres”, sem poupar mãe e filho. É aí que entra a questão familiar do amparo, mas que não está isenta de problemas, como o olhar para uma criança e ver nela um descendente de um responsável por um dano terrível, mesmo havendo amor dos demais para/com ela. E ainda por cima não poupar Jack, com tão pouca idade, de saber que genética é nula numa concepção familiar, ou seja, um sujeito que lhe fez um mal absurdo não é digno de ser chamado de pai. A maioria das famílias, com certeza deixariam a criança crescer e amadurecer para avaliar a questão paterna, mas o perfeito roteiro do filme (indicado ao Oscar, por sinal) nos dá a dimensão da extrema gravidade daquele sequestro que fez jus a toda desumanidade existente em um sequestrador.

O Quarto de Jack conta com um forte elenco orquestrado por Brie Larson (Indicada ao Oscar de Melhor Atriz por este filme e favorita ao prêmio), que mostra a firmeza e a garra da mãe persistente, que não desiste de tentar conceder uma vida digna ao filho, mas lutando para estar do seu lado, pois sua postura maternal e sua esperança são fortes o suficiente para ela ter uma força de sempre querer estar junto ao Jack, tão emocionantemente vivido pelo jovem Jacob Tremblay,que é a alma do filme, vivendo o garoto de uma maneira elétrica, oscilando perfeitamente entre a infantilidade, o sofrimento e os atos heroicos.

Indicado a 4 Oscars (Filme, Diretor, Atriz e Roteiro), o paralisante O Quarto de Jack mostra um panorama perfeito do cárcere privado, principalmente quando outra vulnerável vida está em jogo, elucidando que ainda há questões maiores e uma simples liberdade é só o começo de outras árduas lutas, que requerem novas vitórias, para que aí sim haja o sonhado final feliz.




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