O QUARTO DE JACK
DIREÇÃO: Lenny Abrahamson
:ELENCO: Brie Larson, Jacob Tremblay, William H Macy e Joan Allen
4 INDICAÇÕES AO OSCAR
A escritora Emma Donoghue
roteiriza a versão cinematográfica de seu livro O Quarto de Jack. A trama gira
em torno de Ma (Brie Larson), que foi sequestrada por um homem e vive num
quarto de 10 m2 com o filho Jack (Jacob Tremblay) – fruto desse
sequestrador e que nunca viu a luz do dia. Ao mesmo tempo em que fica em estado
de desespero por conta da situação, ela tem a tarefa de criar seu filho, não
abdicando de contar-lhe histórias antes de dormir, celebrar o seu aniversário.
Cansados da situação, Ma e Jack elaboram um plano de fuga, onde, acima de tudo,
poderão serem vistos valores familiares se sobressaindo para que os objetivos sejam
atingidos.
Lenny Abrahamson (Indicado
ao Oscar 2016 de Melhor Diretor por este filme) apresenta o grande trabalho de
sua pouco conhecida carreira, e ele não poderia estar se revelando ao mundo de
maneira melhor. Tratando um assunto delicado, o espectador se depara com a
desumanidade de atos profundamente criminosos, que terrivelmente não são puramente
fictícios, no tocante em que casos como esse têm ganho os noticiários nos
últimos anos, principalmente nos Estados Unidos. Evidente que o exibido em O
Quarto de Jack não é nem 10% da dura realidade, mas é um escancarar perfeito
dos instintos de uma sociedade, sejam eles positivos e negativos.
Ao mesmo tempo em que questões
emocionais são postas a prova, a parte técnica do filme surpreende no trabalho
de planos numa área minúscula, onde os cortes feitos no trabalho de edição
aumentam a intensidade da obra, focalizando a perspicácia do diretor numa
precisão extraordinária, aproveitando bem espaço e elenco, para o melhor
enfatizar a situação, que por sinal, não exibe frieza, mesmo com Ma e Jack não
estarem derramando lágrimas a todo momento. Nota-se claramente a questão da adaptação.
Lógico que se espera um resgate, mas enquanto estivesse ali, tinha que saber
viver, até mesmo porque uma criança estava ali contida. Com isso, percebe-se a
criação de brinquedos através de cascas de ovo, e para um ambiente monótono, a
companhia de um rato chega a ser algo empolgante.
Com o intuito de transformar
mãe e filho em exemplo de superação, a parceria direção/produção/roteiro cria
um ato para a criação de dois mitos em busca da liberdade, sem entrar em
contradição com uma realidade dura de se admitir. Logo, o simples ato de enrolar-se e desenrolar-se num tapete pode ser muito fácil, mas para alguém de nunca
saiu de área de 10 m2 é uma verdadeira batalha que pode levá-lo a
surtos psicológicos. E claramente o espectador é obrigado a admitir o quão
verdadeira é aquela situação, que passa a ser mais desesperadora do que
imaginamos. Só que é evidenciado o instinto de guerreira da mãe, que não
desiste e passa aquela força e tranquilidade de que vai chegar lá.
Dando uma resposta aos
questionamentos do público logo em sua metade, O Quarto de Jack não chega a ser
irresponsável por esse ato que não foi gratuito, já que dali por diante começa
uma nova saga, que é a da reabilitação, onde duas pessoas reinseridas numa
sociedade, a princípio, curiosa, serão entregues aos mesmos desafios que o mundo
real entrega para os “livres”, sem poupar mãe e filho. É aí que entra a questão
familiar do amparo, mas que não está isenta de problemas, como o olhar para uma
criança e ver nela um descendente de um responsável por um dano terrível, mesmo
havendo amor dos demais para/com ela. E ainda por cima não poupar Jack, com tão pouca idade, de saber
que genética é nula numa concepção familiar, ou seja, um sujeito que lhe fez um
mal absurdo não é digno de ser chamado de pai. A maioria das famílias, com certeza
deixariam a criança crescer e amadurecer para avaliar a questão paterna, mas o
perfeito roteiro do filme (indicado ao Oscar, por sinal) nos dá a dimensão da
extrema gravidade daquele sequestro que fez jus a toda desumanidade existente
em um sequestrador.
O Quarto de Jack conta com
um forte elenco orquestrado por Brie Larson (Indicada ao Oscar de Melhor Atriz
por este filme e favorita ao prêmio), que mostra a firmeza e a garra da mãe
persistente, que não desiste de tentar conceder uma vida digna ao filho, mas
lutando para estar do seu lado, pois sua postura maternal e sua esperança são
fortes o suficiente para ela ter uma força de sempre querer estar junto ao
Jack, tão emocionantemente vivido pelo jovem Jacob Tremblay,que é a alma do
filme, vivendo o garoto de uma maneira elétrica, oscilando perfeitamente entre
a infantilidade, o sofrimento e os atos heroicos.
Indicado a 4 Oscars (Filme, Diretor,
Atriz e Roteiro), o paralisante O Quarto de Jack mostra um panorama perfeito do
cárcere privado, principalmente quando outra vulnerável vida está em jogo,
elucidando que ainda há questões maiores e uma simples liberdade é só o começo
de outras árduas lutas, que requerem novas vitórias, para que aí sim haja o
sonhado final feliz.




0 comentários:
Postar um comentário