PICA-PAU - O FILME
DIREÇÃO: Alez Zamm
ELENCO: Timothy Omundson, Thaila Ayala, Graham Verchere e Jordana Largy
Um casal de mercenários tenta expandir suas finanças,
construindo uma luxuosa casa para vir a ser alugada numa área de proteção
ambiental, localizada numa pacata cidade do norte dos Estados Unidos. O
empreendimento passa a sofrer risco, pois um Pica-Pau, ameaçado de perder seu
habitat natural, passa a ser o principal lutador em defesa da fauna e flora
local.
O cinema se rende a um dos principais fenômenos dos desenhos
animados no Brasil. O Pica-Pau ganha sua versão na sétima arte, e ainda por
cima em live action, levando às salas tupiniquins, pessoas de todas as gerações
que garantiam o ibope da produção televisa, independente de qual emissora era
exibida. Curiosamente, numa atualidade brasileira em que muito se exige a moral
e os bons costumes naquilo que a tv exibe, é incrível como que esse desenho
passa incólume às discussões, visto que se ele ganhar uma análise atenta, é suficiente para
enxergar que o Pica- Pau é um ser invejoso, preguiçoso e que tenta tirar proveito de
tudo, inclusive o que não é seu, ou seja, um péssimo exemplo para as crianças.
E sabem por que eu citei bastante nosso país neste parágrafo? Porque aqui o
filme foi lançado nos cinemas, diferente de diversos outros países do mundo,
incluindo os Estados Unidos, que não fizeram do passarinho um fenômeno e nem se
preocuparam em distribuir sua película nas telonas. Eles sabiam muito bem o que
estavam fazendo.
Em meio a um conflito familiar e a busca pela afetividade
entre um pai ganancioso (casado com uma mulher metida a madame) e um filho pré-adolescente,
Pica-Pau - O Filme investe nas belezas naturais americanas, incitando uma forte defesa às
questões ambientais, ao ponto de inverter a personalidade do protagonista, que
passa a ser um amigo voraz da natureza, que clama pela preservação da bela e tradicional
paisagem da divisa dos Estados Unidos com o Canadá. Diante disso, não se
adiantem em cultivar qualquer elogio à obra, pois na verdade ela é um
emaranhado de clichês dos mais absurdos e uma mensagem melosa, que mais irrita
do que encanta, num trágico roteiro escrito por Alex Zamm (que também dirige o
filme), William Robertson, Daniel Altieri e Steven Altieri – quatro cabeças
pensantes, mas não suficientes para dar o mínimo de dignidade à Pica-Pau – O Filme,
e que têm carreiras com películas tão constrangedoras, que nem vale a pena
citá-las aqui.
Usando e abusando daquilo que a sétima arte chama de trash, a
exclusão dos tons vilanescos do Pica-Pau alcançaram a proeza de se tornarem bem
mais incômoda do que o contrário. No tocante em que a mescla de antagonismo
tradicional, mercenarismo e sustentabilidade tenta ser levada a sério, a forte ausência
de piadas na trama não impede o questionamento por parte do público sobre quais
as intenções de executar tal projeto. Em contrapartida, há de se admitir que se
houve sim piadas no roteiro, as mesmas são tão ruins, mas tão ruins, que passaram
despercebidas.
Com uma grandiosa infantilidade nos sentidos literal e
figurado da palavra, Pica-Pau – O Filme investe em um desenvolvimento em que as
coisas, tais quais conflitos, despedidas e tragédias acontecem, mas está tudo
ok. Todos são encarados numa naturalidade, tal como a amizade do pássaro com o garoto e a
reconciliação deste último com seu pai, que atingem níveis alarmantes de artificialidade,
no tocante em que o roteiro não dá sustento ao sentimentalismo proposto, fora
que ficam algumas dúvidas sobre as repentinas aparições do Pica-Pau em
determinados momentos, além da inclusão e exclusão sem noção de um núcleo de
inimigos jovens do filho do vigarista Lance. Fora isso, se há um festival musical, onde deduz-se que música vencedora tenha que ser boa, se preparem para uma obra
fonográfica simplesmente horrorosa, que dá vontade de deixar de ver o filme.
Tendo como maior destaque a presença (não a atuação) da
brasileira Thaila Ayala, que inicia sua carreira internacional, Pica-Pau – O Filme
é um show de fatos sem sentido, numa construção cômica oca, onde
questionamentos sobre a ordem natural dos fatos multiplicam-se, transformando-o
no pior filme de 2017, daqueles em que os filhos põem os pais de castigo por leva-los
ao cinema para ver isso.
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