BLADE RUNNER 2049
DIREÇÃO: Dennis Villeneuve
ELENCO: Ryan Gosling, Harrison Ford, Robin Wright e Jared Leto
Trinta anos se passam e a
sociedade cada vez mais em extinção, pode atingir níveis caóticos, caso o
policial K (Ryan Gosling), do Departamento de Polícia de Los Angeles, consiga
escancarar um enorme segredo que assola o universo. Diante disso, ele inicia uma
grande busca pelo policial Deckard (Harrison Ford), que se ressocializado, pode
mudar os rumos do planeta.
Nunca neguei de ninguém uma
célebre ojeriza que eu tinha de Ridley Scott, diminuída em 2015 com a sua obra-prima Perdido em Marte. Pena que este filme pouco será lembrado em toda a
sua filmografia, que tem o seu ápice em Blade Runner – marco cinematográfico de
1982. Mais de trinta anos se passaram para que uma aguardada sequência lotasse
as salas de cinema do mundo inteiro. No ato, a direção desta vez ficou com o
cineasta canadense Dennis Villeneuve, responsável por excelentes filmes, como
Prisioneiros, Sicario e A Chegada. Blade Runner 2049 está sendo elogiado mundo
afora, mas admito ter me agradado menos do que esperava. Vai ver é o fantasma
Ridley Scott me assombrando de novo.
Não me vejo impedido de
começar por aquilo que realmente a obra tem de melhor, faz-se justo elucidar a
noção que a parte técnica de Blade Runner 2049 tem de imaginar e construir um impressionante futuro diante
dos melhores elementos cinematográficos, disponibilizados neste início de
século XXI. Logo, os efeitos visuais, a mixagem de som e a edição de som
proporcionam um ar de potência bastante dignos para um filme do gênero. Em
contrapartida, vale ressaltar que para uma obra de ficção científica,
não foram esses segmentos que mais chamaram a atenção, e sim o trabalho de
trilha sonora de Hans Zimmer que, em parceria com Benjamin Wallfisch, entrega
uma louvável ousadia, que absorve inclusive o que há de tenebroso na trama, fazendo de 2017 um ano memorável para ele, visto que vale lembrar a sua linda trilha em Dunkirk. Aliada a essa qualidade, tem-se a brilhante fotografia do mestre Roger Deakins, impactante ao extremo e impressionando pela eficácia da faceta sombria que o filme propõe, mesclada a
um uso forte de cores, que inclusive ao desaparecerem com os personagens,
reforçam o teor de mistério da película.
A concepção do protagonista
vivido pelo cada vez mais merecidamente celebrado Ryan Gosling, consegue criar
o quebra-cabeça perfeito de um homem temido e requisitado por muitos, quando também é
um estranho para os mesmos, justificando isso pela própria vida que leva, que
no campo amoroso, mostra para o espectador o que seria uma versão futurística de
Ela, filme que em 2014 rendeu o Oscar de Roteiro Original para Spike Jonze. O
roteiro escrito por Michael Green e Hampton Fancher (este último responsável
pela área no filme da década de 1980) sabe construir todo o ar enigmático que
justifica quão delicada é uma situação onde uma grande “regra de vida” em cima da evolução de uma espécie, pode
sofrer uma modificação drástica, e que a ideia de socializá-la é contestada por partes,
visto que por mais necessária que seja, uma guerra civil pode ser construída. Querendo ou não, noções de responsabilidades, por mais gananciosos alguns personagens sejam, têm que ser trabalhadas. Será
que só de replicantes a sociedade humana de Blade Runner 2049 pode manter-se em
sobrevivência?
Sábio na arte de mesclar a situação principal com histórias
cruzadas, o elo direção/produção/roteiro investe na questão familiar e seus valores, ao extrair
o que de mais dramático o filme poderia ter e aquilo que o seu roteiro proporcionava para tal, e assim reinserem Harrison Ford na
franquia, desta vez como coadjuvante, mas fundamental para uma trama que
conseguiu extrair do veterano ator uma presença forte e brilhantemente
executada (num contexto parecido com o de Sylvester Stallone em Creed – Nascido
para Lutar), para um elenco que também contou com excelentes nomes, como o de Robin
Wright, Jared Leto e, para uma grata surpresa de minha parte, o somali Barkhad
Abid, que não o via desde Capitão Philips.
O que justifica o meu apreço
não ter sido tão forte por esse filme, é o fato dele ter uma duração
notavelmente exagerada. Foram desnecessárias 2 horas e 43 minutos que
comprometeram toda a objetividade que Blade Runner 2049 poderia ter, ao mesmo
tempo que prejudicou a agilidade de seu ritmo, que mais curto, com certeza
exploraria mais vorazmente sequências de ação que poderiam substituir momentos
aborrecidos, que por sinal foram poucos, porém suficientes para que não
despertasse em mim o sentimento de que esse é um dos melhores filmes do ano e mais um marco na carreira de Dennis Villeneuve. Uso com bastante força a primeira pessoa, porque reitero que é
fato que a maioria dos críticos estão aplaudindo de pé essa obra, e não me
regozijo em ser a exceção da regra justamente com esse filme. Ainda ouviremos
falar dele, até mesmo porque a parte técnica faz por merecer. E se bobear, ele
pode até entrar para a história. E sabem onde esse ponto me interessa? Na
chance de Blade Runner 2049 ser o primeiro filme a render um Oscar de
fotografia para Roger Deakins. Pelo menos na parte detrás das câmaras, o final pode ser feliz para um de seus protagonistas.
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