VICTORIA & ABDUL - O CONFIDENTE DA RAINHA
DIREÇÃO: Stephen Frears
ELENCO: Judi Dench, Ali Fazal, Olivia Williams e Michael Gambom
No século XIX, o Reino Unido
detinha um poderio sobre diversas nações, bem maior que hoje. Sendo a Índia um
desses países subalternos, ficou designado que dois jovens indianos viajariam à
Londres para servir à Rainha Victoria. A adaptação a nova localidade e a
postura dos súditos perante a realeza não foram bem aceitos pelos dois. Uma quebra
de protocolo por parte de Abdul, faz com que isso chame a atenção da rainha,
que logo quer saber quem é esse ousado sujeito. Incrivelmente, uma bela amizade surge, mas tal
fato em muito desagrada a família real inglesa.
Ninguém pode negar o quanto a
família real britânica, do início a sua contemporaneidade, chama a atenção de todo
mundo, e cada vez mais desperta a curiosidade geral, independentemente se
somos apreciadores do regime monarquista ou se não entendemos como alguém pode ganhar
poder sobre um país inteiro por causa de seu sangue. Se passar para o cinema as histórias já conhecidas do Palácio de Buckingham e suas adjacências faz com
que muitos vão ao cinema, imagina entregar uma trama inédita da popular Rainha
Victoria? Felizmente, filmes dessa linha, podem até não ser espetaculares, mas
dificilmente dão errado.
Não à toa, a escolha certeira
foi de escalar Stephen Frears para dirigir Victoria & Abdul – O Confidente
da Rainha. Logo ele, que tem uma segurança enorme ao levar a família real para as telonas,
como em A Rainha (que lhe rendeu uma de suas três indicações ao Oscar) e não
hesita em colocar em seus projetos, as mais poderosas atrizes do mundo, em especial
as inglesas. Sendo assim, não é difícil ver Judi Dench em suas obras, como Philomena
e Senhora Henderson Apresenta. Amparado pelo bom roteiro de Lee Hall (de Billy
Elliot e Cavalo de Guerra), Frears acha espaço na película para destacar situações
cômicas, como o hábito alimentar da realeza, além de investir no ato de como a
Rainha Victoria tinha o dom de amedrontar o próximo. Assim, nessa dosagem, o
filme não se transformou em um dramalhão cansativo.
Victoria & Abdul – O Confidente
da Rainha também não abre mão do poderio publicitário da sétima arte e promove
a Índia, seus pontos turísticos (como o Taj Mahal), sua cultura e até a culinária,
com foco à manga – fruta tropical que os brasileiros conhecem muito bem.
Focalizando o filme em seu objetivo central, Stephen Frears mostra-se tão
ousado e corajoso como o jovem Abdul, ao ambientar sua obra num sistema de
gigantesca periculosidade para um sujeito pobre, que, em outras palavras, estava se
metendo em um ninho de cobras, e no que se pode apostar que esse indiano poderia
ser um aproveitador e/ou bajulador, que quis crescer em cima da solidão de uma
rainha com a idade já avançada e que ligava um sinal de alerta na linha
sucessória, há de admitir que em certos momentos, Abdul se arriscou demais ao
manter sua personalidade verdadeira, como ao trazer questões como a sua religião para
o vínculo com a rainha. Uma retaliação poderia ter sido fatal.
Assim, a trama favoreceu a humanização
da Rainha Victoria (que detém o segundo maior reinado da história britânica,
perdendo apenas a atual rainha. Elizabeth II, no caso), que, mesmo bastante idosa,
ainda se impunha como chefe de estado e mostrou-se principalmente tolerante com
a comunidade muçulmana, gerando a ira de grande parte dos ingleses, inclusive seu filho mais velho - fato que nos dá embasamento para medir desde quando o preconceito religioso impera neste mundo,
e em qual época se tornou mais grave.
Conseguindo ser levemente
divertido, seguindo a linha feel good movie, Victoria & Abdul – O Confidente
da Rainha ainda conta com uma linda trilha sonora de Thomas Newman, que
engrandece principalmente os belos momentos de companheirismo da rainha com o
indiano, onde mesmo com bastante pressão, ela se mostra uma mulher claramente
compreensiva, diante de tudo que já passara na vida e na confiança que agora
ela tinha em Abdul. E neste tocante, vale enaltecer a grande atuação da dama
Judi Dench, que não perde sua forte compostura em meio às oscilações entre o
poder e a fragilidade da rainha, a alegria e a tristeza, o domínio e sua
humanidade, que no geral, fez com que a personagem histórica caísse no gosto de
quem assiste a obra.
Num desfecho que focaliza o fim do duradouro
reinado da Rainha Victoria, sem surpreender com o que estava reservado a Abdul,
Stephen Frears ainda se dá corretamente ao direito de investir numa separação
mais propícia para que sejam eternizadas as situações de amparo, felicidades e
confidência, nas quais a mulher mais poderosa do mundo e um pobre imigrante se propuseram
a passar juntos, em uma sessão de puro regozijo para o espectador que pôde conferir Victoria
& Abdul – O Confidente da Rainha.
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