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quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

A FORMA DA ÁGUA


A FORMA DA ÁGUA
DIREÇÃO: Guillermo Del Toro
ELENCO: Sally Hawkins, Octavia Spencer, Richard Jenkins e Michael Shannon
13 INDICAÇÕES AO OSCAR

Os Estados Unidos da década de 1960 é uma nação que vive transformações, se envolve em conflitos e passa a ter uma sociedade diferente. No laboratório secreto do governo, Elisa é uma zeladora que se depara com uma figura monstruosa e agressiva, escondida a sete chaves pelas autoridades, mas acaba tendo uma afeição por ela. Assim, a mulher monta um plano arriscado de fuga e que contará com a ajuda de pessoas de sua inteira confiança, mas pode esbarrar em sujeitos perigosos.


A sétima arte se rende cada vez mais às obras hollywoodianas de cineastas mexicanos – os últimos cinco anos estão aí para comprovar. Após louvações a nomes como o de Alfonso Cuaron e principalmente Alejandro Gonzalez Iñarritu, chegou a hora de Guillermo Del Toro estar no centro das atenções, o que é uma grande justiça, visto que, em minha modesta opinião, é dele o melhor filme mexicano da história: O Labirinto do Fauno. Hoje, ele vê o mundo aclamar o seu A Forma da Água, que ontem (23 de janeiro) recebeu 13 indicações ao Oscar e é sim a obra a ser batida na premiação.

Roteirizando a película ao lado de Vanessa Taylor (uma das responsáveis por escrever os episódios de Game of Thrones), Del Toro investe na concepção de uma protagonista deficiente (muda, no caso), mas que foge de certos parâmetros que a indústria já proporcionou. Neste ponto, podem ser citadas Holly Hunter, em O Piano, e Rinko Kikuchi, em Babel, que mesmo com personagens interessantes, brotavam um ar de sofrimento, mais inerente ao que a sociedade fazia questão de assemelha-las. Já a Elisa, de A Forma da Água, é uma mulher que desde sempre esbanja otimismo, lealdade e felicidade, que transbordam da telona e atingem o espectador, que desde já mantém uma boa conexão com a personagem, se agradando inclusive com o simples fato dela adorar merengue de limão, o que prova que nenhuma decisão de um diretor para um filme é por acaso. Tudo é minuciosamente pensado, e aqui Del Toro acertou em cheio.

Escalada como protagonista e não deixando a peteca cair com uma forte presença, Sally Hawkins vê sua personagem, em seu lar, rodeada pelo vizinho companheiro Giles (interpretado por Richard Jenkins), que a trata com confiança e credibilidade na mulher que ela pode sim lutar em ser, a ponto de sem nenhum pudor, recomendar que ela faça muito sexo. Mas como a trama é centralizada no local de trabalho da personagem principal, logo se nota ali uma outra amiga, Zelda (interpretada por Octavia Spencer), que tem pose de liderança, mas que junto a Elisa forma uma união nada bem vista pelos colegas, já que uma é deficiente e a outra é negra – fazendo assim com que o filme explore, mesmo que minimamente, o forte preconceito do período contra as minorias (o que não se difere tanto da atualidade).

Passando a explorar seu tipo de personagem preferido (monstro, no caso), Del Toro o introduz como uma figura enigmática, mas propícia a ser desbravada se os demais possuíssem certo tipo de personalidade. Não à toa, A Forma da Água investe numa Elisa mais observadora e surpreende com uma Zelda ingênua, que tem tal defeito aproveitado pela amiga, para conseguir se aproximar da criatura e saber o porquê dela ser um grande segredo de estado americano. Assim, a obra mescla tons divertidos e de apreensão, pois não é tão simples considerar que pode haver uma relação saudável entre uma humana e um monstro aquático provido da Amazônia, e que vivia acorrentado. Neste tocante, vale lembrar de As Aventuras de Pi, onde, se era para o jovem indiano conviver com um tigre, pois o ideal era que o animal viesse a ser domesticado. E se, voltando para o filme aqui avaliado, o “anfíbio em forma de homem” sofria agressões num ambiente tipicamente militar, Elisa foi corajosa o suficiente, ao desobedecer seus superiores e se aproximar do monstro, propondo a ele um novo comportamento, com direito a ouvir música e comer ovo cozido.


O mais interessante é a maneira como espectador se dá conta como já está envolvido com o filme, torcendo pela amizade entre as duas figuras centrais da obra, a ponto de não estranhar que tal relação estava passando para algo maior, indo para o campo amoroso. Elisa já estava tão apaixonada pela figura, quanto estava curiosa pela vida debaixo d’água, mas como as coisas nunca são simples, eis que A Forma da Água tem um necessário antagonismo, que se aproveita da questão de guerra que assolava os Estados Unidos da década de 1960, e vê a criatura como uma peça de um jogo econômico, que resultaria em muito dinheiro para a Terra do Tio Sam. E é aí que o filme trabalha a luta por um grande amor de uma maneira ousada e que jamais um cinéfilo esperava testemunhar, atestando a forte capacidade que Guillermo Del Toro tem de dar uma grande maturidade às fábulas aparentemente infantis, conforme ele já mostrou em outras obras.

Belo não somente na arte em questão, A Forma da Água é um filme que emociona com lindas cenas debaixo d’água e ainda propõe a quem o assiste, se deliciar com passagens com figuras artísticas do período clássico do cinema, detentoras do fanatismo de Elisa, e capazes de fazer qualquer um dançar ao som de um baita Chica Chica Boom Chic, de Carmem Miranda. Seu desfecho, expõe um Del Toro seguro na adrenalina que as cenas exigiam, mas sem se desvincular da doçura do casal principal, que é amado do jeito que é, fazendo com ninguém torça para que aquele “sapo” vire um príncipe, já que assim é que ele é o ser ideal, e ainda por cima, ninguém está se importando se tal romance pode vir a ser associado a zoofilia.

Com performances espetaculares de Sally Hawkins, Octavia Spencer e Richard Jenkins (todos indicados ao Oscar 2018), A Forma da Água é uma produção memorável, com um final icônico, capaz de enaltecer a poesia que foi aquela relação e o deslumbre que foi o filme.



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