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sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

GUERRA DOS SEXOS


GUERRA DOS SEXOS
DIREÇÃO: Jonathan Dayton e Valerie Faris
ELENCO: Emma Stone, Steve Carell, Andrea Riseborough, Sarah Silverman e Bill Pulman


O ex-campeão de tênis Bobby Riggs desafia a estrela feminina Billie Jean King para uma partida, em meio a um grande debate sobre as diferenças de tratamentos dados a homens e mulheres no esporte. As divergências ideológicas, vorazmente monitoradas pela mídia, farão com que ambos busquem incansavelmente atingir seus objetivos, que não são os mesmos, apesar da luta acontecer no mesmo espaço.


É praticamente inconcebível lembrar das grandes comédias do século XXI, e não colocar a brilhante e emocionante história da Pequena Miss Sunshine no pelotão de frente. Diante disso, o casal de diretores Jonathan Dayton e Valerie Faris conseguiu ganhar uma apoteótica confiança por parte daqueles que gostam de prestigiar um agradável cinema. Daí a boa expectativa que muitos tinham com Guerra dos Sexos. As intenções na concepção desse filme foram boas, mas o resultado infelizmente acabou por ser decepcionante, com muitos erros evitáveis.

É fato que o prólogo da obra apresenta o grande contraste no tratamento social e profissional dado aos homens e às mulheres (seja qual for a área, e, por mais que doa admitir isso, seja qual for o tempo), expondo dois personagens, sendo eles uma campeã no esporte e um “quase idoso” frustrado e viciado em apostas, ou seja, uma mulher de bons atributos e um homem com imagem repugnante, com o filme trabalhando com bastante foco a vida de ambos. Adivinha quem mais sofre nessa vida? Pois é. Sem nenhuma delonga, Guerra dos Sexos exibe um período em que o tênis, nos Grands Slams, chegava a premiar o gênero masculino com valores 8 vezes maiores que o feminino. Tal situação não passava incólume e as próprias tenistas questionavam isso, elucidando que as principais competições também tinham as mulheres como um atrativo. Mas eis que o roteiro escrito por Simon Beaufoy (que ganhou o Oscar por Quem quer ser um Milionário?) aponta: “Os homens são mais interessantes de se assistir”. Uma verdadeira porrada, mas que não deixa de ser uma realidade de um indigesto senso comum.

Prestigiando o contexto histórico no qual a obra está inserida (a trama é real), o filme expõe a coragem das tenistas em boicotar aquilo que as desvalorizava, a ascensão financeira de todas e a inédita inserção de cores nos uniformes delas, diante de uma padronização de roupas brancas no esporte. Até que chega o momento em que o cinéfilo, em meio as qualidades do filme, se vê em volta de questionamentos e constatações que diminuem a película. O desenvolvimento em cima do Bobby (vivido por Steven Carell) o posiciona em uma realidade muito distante da vivida pelo outro núcleo do filme, deixando dúvidas de sua relevância e do rastro que o mesmo irá seguir até se tornar tão importante quanto a protagonista. Fora isso, ainda tem a grande falha da direção e do roteiro em querer fazer dele um vilão, quando na verdade ele é apenas um sujeito antipático, egocêntrico e bizarro; e felizmente essa realidade foi captada por Carell, que, não à toa, está sendo merecidamente celebrado na temporada de premiações – diferente do filme.

E num desenvolvimento de uma trama sobre diferenças entre homens e mulheres, Guerra dos Sexos se arrisca ao mesclar tudo isso a um romance homoafetivo e da seguinte maneira: uma mulher casada trai o marido com outra mulher. De fato, há um acréscimo no caráter de discussões que a obra tenta propagar, só que este fato em nada privilegiou a comunidade LGBT, diminuiu as mulheres e ainda reforçou todas as visões machistas que o filme deveria ter combatido. É mais que notável que Guerra dos Sexos não consegue decolar, nem pôr em prática seus debates e reflexões, nem quando chocantes verdades são expostas. A sensação por parte de quem esperava uma defesa humanística em forma de película, é que a guerra é só um jogo e que talvez nenhum competidor tenha sido trabalhado de uma forma, para ganhar a simpatia e a torcida de quem assiste. Nem mesmo a ótima atuação de Emma Stone (no papel da Billie Jean King) é suficiente para transformar a tenista numa heroína.

Mesmo que o filme possua brilhantes diretores, produtores e um grande roteirista, o apanhado geral mostra que houveram sim escolhas infelizes para brotar uma discussão sobre desigualdade de gênero, mesmo com a exposição de um forte machismo, pois o filme não soube dar um destaque ao empoderamento feminino, que surgia e desaparecia rápido no contexto, somando esses fortes deslizes a outras falhas na questão narrativa, como a maneira esquisita como o marido de Billie descobriu a traição, e a inimizade existente entre a protagonista e outra tenista, aparentemente sem razão e que poderia ter contribuído para que outros fatores não levassem o filme a ser uma obra que pecou em todos os segmentos.

Investir em celebráveis atores e atrizes para o enriquecimento da obra não foi suficiente para alavancar Guerra dos Sexos e dar ao filme a relevância que ele almejava e que era esperada pelo público. Talvez o único lado positivo é que dificilmente a obra acarretará em valorização no discurso pró-homens, afinal, até para isso ela surge como algo totalmente esquecível.



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