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segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

VIVA - A VIDA É UMA FESTA


VIVA - A VIDA É UMA FESTA
DIREÇÃO: Lee Unkrich
ELENCO: Gael Garcia Bernal, Benjamin Bratt e Rene Victore


Miguel é um garoto de uma família mexicana que, por questões passadas, aboliu a música de sua vida e dos outros membros, mesmo assim ele sonha em ser um grande músico e tem como ídolo o tradicional cantor latino Ernesto de la Cruz. Querendo investir na carreira, ele acaba por curiosamente indo para no mundo dos mortos. Lá, ele conhece o falecido Hector, que se propõe a ajudar Miguel, desde que o menino o ajude a não ser esquecido por seus parentes vivos.


No tocante em que criadores de filmes de animação têm total liberdade para ambientar suas histórias onde bem entender, seja nos Estados Unidos, na Inglaterra ou num mundo imaginário (como de costume), vale ressaltar quão louvável foi, nos últimos dez anos, a indústria ter ido buscar novos países para seus filmes, promovendo os pontos turísticos, as tradições e a cultura do local. Isso pôde ser visto em Ratatouille, Kung Fu Panda e em Rio, por exemplo. Desta vez, a Pixar desbrava o México, mais famoso vizinho latino dos americanos, e que tem sido bem defendido no último ano, diante da embaraçosa atualidade vivida na América.

Viva – A Vida é uma Festa, dirigido por Lee Unkrich (que também dirigiu Toy Story 3) concebe com bastante fidelidade um México suburbano, com a população tendo sua fisionomia que nos remete aos antepassados maias e astecas, bem diferente do que as novelas exibidas no Brasil exibem, mas ao tempo, nota-se, por parte dele, bastante apego às questões artísticas e aos festivais culturais que a terra do Chaves e do Chapolin realiza corriqueiramente, brotando um ar de “povo feliz” em todas as circunstâncias para o mexicano. Sem se impor nenhum tipo de censura por se tratar de um filme infantil, Unkrich investe na questão da morte (isso, da morte!), encarada ali de maneira tão diferente dos demais países do mundo. Segundo uma matéria escrita por Rafaella Panceri, para o Correio Braziliense, datada de 30 de outubro de 2016: “No México, a morte tem significado único. Em vez de lamentada, é festejada uma vez ao ano — de 31 de outubro a 2 de novembro (Dia de Finados no Brasil). Durante a festa, considerada pela Unesco como patrimônio da humanidade, é tradição reunir família e amigos para comemorar a visita dos antepassados à Terra. Se, no Brasil, a data é sinônimo de cemitérios lotados e melancolia, no México a animação toma conta, pois se acredita que os mortos devem ser recebidos com alegria e coisas de que gostavam enquanto vivos. A famosa caveira mexicana (La Catrina), altares coloridos, fantasias, comidas e bebidas típicas mudam a cara de várias cidades do país. A atmosfera é fúnebre, mas promete estimular até os mais desanimados”.

Sendo assim, no culto ao lendário e fictício músico Ernesto de la Cruz, não surpreende que tal idolatria não caiba somente a Miguel, mas a toda a população da cidade; e assim, na tentativa do garoto de buscar a personalidade própria, driblando sua família avessa a música, não surpreende que foi buscando a intercessão de seu ídolo, que ele foi buscar os instrumentos (literalmente falando) suficientes para que o povo conhecesse seu talento musical. A surpreendente passagem para o reino dos mortos, mostra que o roteiro escrito pelo próprio diretor, em parceria com Adrian Molina (que também co-dirige a obra), Jason Katz e Matthew Katz, superou os níveis de criatividade ao criar um local como um mundo qualquer, com as mesmas estruturas, características e desigualdades, mas onde todos corriam o risco de passar por uma nova morte, caso fossem esquecidos pelos entes da terra. Neste ponto, cabe apontar fatores interessantes, como o encontro de mortos comuns com figuras ilustres, como a lendária pintora Frida Khalo, e o reencontro com seus familiares falecidos, sendo prontamente reconhecido por eles, mesmo que em vida, não tenham se conhecido, citando a relação de Miguel com a sua tataravó. 


E nesta situação de querer entender o porquê da música ser proibida em seu lar, o menino, com base em imagens, seguindo a linha de raciocínio lógica que aparentemente o filme tinha, é levado a crer que seu tataravô é o ídolo Ernesto de la Cruz e aí parte em busca do mesmo, como forma de ter a sua bênção para voltar ao mundo dos vivos e ser um grande cantor. Assim, surge a parceria com o (a princípio) somente adorável vagabundo Hector, que mais parece ser um simples “fiel escudeiro” de uma jornada, como existem em muitas animações. Mal sabíamos nós, pobres cinéfilos, que as surpresas estavam só chegando. O esperado encontro, que resultou num relacionamento entre Miguel e Ernesto era de um regozijo profundo, mas só que ali teve início uma extraordinária virada na trama, onde verdades secretas vieram à tona, arestas abertas e imperceptíveis foram fechadas e fora determinado quão fundamental cada personagem era, sendo ele do menor para o maior. Ninguém ali estava pelo simples acaso. Logo, torna-se impressionante para os olhos de quem vê, a coragem de Lee Unkrich de trabalhar uma trama em cima de um forte assassinato, não poupando o poderio vilanesco do antagonista, tornando Viva – A Vida é uma Festa uma forte e digna história de gente grande, mesmo sendo ela teoricamente infantil e que em momento algum perde a sua essência diante de um público majoritariamente formado por crianças.

O decorrer da trama exibe uma mescla de aventura, ação e torcida pela esperteza dos protagonistas que resultaram num forte senso de justiça sendo executado, mas além disso ficam marcadas na mente, as fortes doses de emoção incutidas num ato que exibia uma luta pela sobrevivência (mesmo no mundo dos mortos), pela verdade absoluta, pelo perdão, pelo recomeço, e, acima de tudo, aproveitando o caráter didático que uma obra como essa pode ter, ensina que, mesmo que tenham havidos sentenças exageradas, uma criança sempre tem que buscar ouvir os mais velhos e valorizar a família que de fato o valoriza e constrói o que há de melhor num lar, além de que, perto ou longe, no plano físico ou espiritual, sempre haverá alguém que estar olhando para você.

Mais do que nunca, sendo capaz de arrancar lágrimas do espectador, assim como fez em Toy Story 3, Lee Unkrich mostra para a indústria cinematográfica que também é capaz de ser destemido e ousado, fazendo uma ode a um país e seus costumes, abusando de uma originalidade em cima de todo e qualquer tipo de sentimento que possa haver num filme; e assim ver sendo mais enaltecido o seu nome entre os grandes cineastas da toda poderosa Pixar. Sem nenhum exagero, Viva – A Vida é uma Festa pode ser com todos os méritos, considerada a melhor animação da década.



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