O Oscar chegou aos seus 90 anos
e quando um número assim é importante, logo se espera uma grande cerimônia.
Repetiram-se os mesmos produtores e o apresentador do ano passado (Jimmy
Kimmel), e este teve o desafio de se manter engraçado em meio a um período
turbulento em que vive Hollywood. De fato, ele conseguiu, mas o que de mais genial ele
propôs foi, novamente, surpreender o público de casa e o de qualquer ponto de
Los Angeles com uma aparição surpresa. Desta vez, ele, ao lado de estrelas como
Gal Gadot, Margot Robbie, Lupita Nyong’o e Armie Hammer, invadiram um cinema
para agradecer ao público por sempre prestigiá-los.
Para uma festa que celebrava
os 90 anos, não tiveram tantas lembranças históricas. Recordaram os vencedores
das categorias de atuação (mas com ausências perceptíveis), homenagearam os filmes como um todo (independente de
serem premiados ou não), mas aí teve um sem-noção tributo a obras que retrataram
guerras – isso ninguém entendeu. Quem teve essa ideia? Todos estranharam, pois parecia o levantar de uma bandeira republicana, num ambiente majoritariamente democrata.
Sem esquivar-se das atuais polêmicas, Ashley
Judd, Salma Hayek e Annabella Sciorra fizeram um belo discurso contra o assédio
sexual e introduziram um vídeo que cobrou mais inclusão das minorias na indústria.
"As mudanças que estamos testemunhando são lideradas por novas e poderosas
vozes, diferentes, nossas vozes, que estão se unindo em um grito que diz "basta".
Nós trabalhamos juntas para nos assegurar que os próximos 90 anos sejam de
possibilidades ilimitadas de igualdade, diversidade, inclusão
e interseccionalidade. Foi isso que este ano nos prometeu", disse
Judd.
Mas se teve algo que foi o ápice
da cerimônia, posso tranquilamente dizer que foram os números musicais, capazes
de fazer aumentar o apreço de qualquer um por cada uma daquelas canções
apresentadas.
Partindo para os prêmios, no
duelo técnico entre Dunkirk e Em Ritmo de Fuga, melhor para o primeiro, que
saiu da noite com vitórias em Montagem, Efeitos Sonoros e Edição de Som. O Destino
de uma Nação não surpreendeu ao vencer em Maquiagem, tampouco A Forma da Água
em Design de Produção e Trilha Sonora. Trama Fantasma foi o Melhor Figurino, e
seu estilista Mark Bridges ainda levou para casa um jet ski por ter feito o
mais curto discurso da noite.
Viva – A Vida é uma Festa foi
a Melhor Animação. Perfeito! É o melhor trabalho animado da década. Surpreendentemente,
ainda levou para casa Melhor Canção (“Remember Me”), batendo a favorita “This
Is Me”, de O Rei do Show, garantindo assim o bicampeonato do casal de compositores
Kristen Anderson Lopez e Robert Lopez, que são os mesmos autores de “Let It Go”,
do filme Frozen – Uma Aventura Congelante.
Em Melhor Filme Estrangeiro, o
chileno Uma Mulher Fantástica venceu com todos os méritos. Eis 10º Oscar
sulamericano e 3º do país em questão, que só perde para a Argentina, que tem 6,
e só está a frente do Uruguai, que tem 1. O Brasil continua na seca. Vale
lembrar que esse filme se tornou a primeira obra vencedora do Oscar, protagonizada
por uma transexual, no caso a talentosa Daniela Vega.
Dentre todos os blockbusters,
Blade Runner 2049 foi uma verdadeira decepção nas bilheterias, mas curiosamente
foi o único a ser premiado no Oscar, e em duas categorias: Efeitos Visuais e Fotografia
– com grandioso destaque a esta última, pois finalmente foi reconhecido o
talento do mestre Roger Deakins, que após 13 indicações e 13 derrotas,
finalmente levou o seu Oscar para casa. Claro que ele foi aplaudido de pé.
Os prêmios de roteiro foram
para as minorias e com total justiça. Corra venceu entre os originais,
tornando-se o primeiro filme de terror a vencer na categoria, além de fazer o
gênero voltar a ser premiado, após 26 anos. Seu roteirista Jordan Peele tornou-se
o quinto negro a ganhar o Oscar no segmento. Vale ressaltar que os demais 4
venceram após o ano de 2010. Me Chame pelo seu Nome foi o melhor entre os adaptados,
fazendo de James Ivory, homossexual assumido, o mais velho vencedor da
história, aos 89 anos.
Eu, Tonya, talvez o grande
injustiçado nas categorias filme e direção, se contentou com o prêmio de Atriz
Coadjuvante para Allison Janney. Merecidíssimo! Para mim, era a melhor atuação
dentre todas as indicadas, independente de gênero, se era protagonista ou
secundário. Sem nenhuma surpresa, Gary Oldman foi o Melhor Ator por O Destino
de uma Nação. Enfim, ele está recompensado pela carreira, mas a atuação dele no
filme é excelente.
Três Anúncios para um Crime,
de tão badalado ao longo do ano, venceu apenas 2 prêmios: Ator Coadjuvante,
para Sam Rockwell, que logo será esquecido; e Melhor Atriz, para Frances McDormand
(o segundo Oscar da carreira dela), que fez o melhor discurso da noite e
emocionou a todos, ao pedir que todas as mulheres indicadas se levantassem, para
receberam as merecidas louvações. "Todas nós temos histórias para contar e
projetos para financiar. Não falem conosco sobre isso nas festas esta noite.
Nos convidem para seus escritórios daqui uns dias. Ou podem ir aos nossos. O
que for melhor. E contaremos tudo sobre eles. Tenho três palavras para deixar
com vocês esta noite, senhoras e senhores: cláusula de inclusão", afirmou.
Chegado o grande momento,
conheceríamos o Melhor Filme. Para apresentar, Warren Beatty e Faye Dunaway –
os mesmos que em 2017 erraram o anúncio do vencedor, após a troca dos
envelopes. Curiosamente, esperava-se ironias e piadinhas por parte deles mesmos,
mas isso não aconteceu, e eles apresentaram a categoria sem delongas. A dúvida
pairava no ar: Será que A Forma da Água confirma o favoritismo? Nos últimos
dois anos, os resultados foram surpreendentes. Três Anúncios para um Crime e Corra
estavam em alta, poderiam vencer. Nada de choque, deu A Forma da Água mesmo. O
meu favorito volta a vencer, após 6 anos. Del Toro, sarcástico, checou o envelope para
garantir. Belo não somente na arte em questão, A Forma da Água é um
filme que emociona com lindas cenas debaixo d’água e ainda propõe a quem o
assiste, se deliciar com passagens com figuras artísticas do período clássico
do cinema. É uma produção memorável, com um final icônico, capaz de enaltecer a
poesia que foi aquela relação e o deslumbre que é a obra.
O Oscar 2018 foi uma bela
festa, mesmo que com poucas homenagens históricas, mas teve um saldo bem
positivo com seus premiados, capaz de construir poucas discordâncias entre os
críticos e os cinéfilos. Como sempre, ao seu término, fico com a seguinte
dúvida: Quem vence ano que vem? Enfim, ainda temos um 2018 inteiro pela frente
para ver o que essa linda arte, que é o cinema, nos reserva. Dia 24 de fevereiro
de 2019, data do próximo Oscar, temos mais um encontro marcado.
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