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terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

THE POST - A GUERRA SECRETA



THE POST - A GUERRA SECRETA
DIREÇÃO: Steven Spielberg
ELENCO: Meryl Streep, Tom Hanks, Sarah Paulson e Bruce Greenwood


The Washington Post – um dos mais importantes jornais dos Estados Unidos, publica um gigantesco e secreto documento relatando as ações militares do país, durante a Guerra do Vietnã. O material levou a Casa Branca a uma grave crise política, sem nenhuma tendência a melhora.


É muito bom ver a contemporaneidade fazendo história. Digo isso porque neste ano de 2018, completam-se duas décadas do melhor filme de guerra de todos os tempos: O Resgate do Soldado Ryan. Marcos cinematográficos só nos remetem aos primórdios da arte. O responsável por essa obra-prima foi Steven Spielberg, que é sem dúvida o mais popular cineasta do planeta, que antes e depois desse filme supracitado, focalizou seu trabalho na diversidade de temas, e com The Post – A Guerra Secreta, o jornalismo investigativo passa a ser o seu objeto de estudo a ser levado para as telonas.

No início do parágrafo passado, toquei no assunto “guerra” não só porque o filme aqui avaliado está ligado a um conflito, mas porque as imagens iniciais de The Post – A Guerra Secreta mostram justamente uma batalha, que desde já leva Spielberg, com o amparo dos roteiristas Liz Hannah e Josh Singer (este último é vencedor do Oscar de Roteiro pelo também filme jornalístico Spotlight – Segredos Revelados) a montar um discurso um tanto quanto parcial, já que, no “dicionário americano”, guerra remete à ideologia do partido republicano, e diante de uma sequência de ininterruptos tiros de metralhadora, que ameaçam a integridade principalmente dos combatentes da terra do Tio Sam, o filme exibe uma faceta do governo que crer que as coisas tendem a piorar, mas a solução de tudo é continuar guerreando. Como bom democrata, Spielberg não deixa de dar uma alfinetada inicial no partido que hoje detém o poder nos Estados Unidos.

Mas como o foco da obra é o jornalismo, eis que a trama apresenta o repórter Daniel (vivido por Matthew Rhys, o Kevin da minha querida série Brothers & Sisters), que presenciando in loco a Guerra do Vietnã e com sua proximidade com os representantes da presidência americana no país asiático, sabe que casos e fatos sérios rondam o confronto, e pelo bem de sua profissão e até de sua nação, ele tem certeza que deixa-los ocultos é um crime. Vale enfatizar que diante de um furo, ninguém segura um jornalista, mas há situações (como a do Daniel) em que assinar uma matéria pode ser um suicídio profissional e até mesmo pessoal, então que se passe a bola para outro e que seja exposto que governos são bem mais recheados de segredos do que possamos imaginar. É agora que o The Washington Post entra de fato no jogo.

No que tinha tudo para ser uma grande obra, The Post – A Guerra Secreta começa a mostrar seus primeiros deslizes, como em meio a chefões do jornal, faz brotar um desnecessário diálogo sobre uma credencial negada para a cobertura de um casamento. Como querer exibir a eficiência do periódico, se praticamente o introduzem com um fato bobo e descartável, que em nada contribuiu com a história? O que valia mesmo era o escândalo que aqueles jornalistas tinham em mãos, e que hoje é um dos graves exemplos de fatos que marcaram o governo de Richard Nixon – tido por muitos como o pior Presidente que os Estados Unidos já teve e com um índice de reprovação que talvez nem Donald Trump atinja. Diante da bomba prestes a explodir, para o The Washington Post também valeria carregar o pensamento de compartilhar ou não os documentos secretos com outros jornais, como o The New York Times, ou investigar se eles também estão munidos dessas informações fortes. Será que vale a pena a camaradagem e a solidariedade? É bom realmente ser o primeiro a escancarar uma verdade inconveniente? Assim, Spielberg investe num clímax de tensão entre os redatores na dúvida sobre a publicação ou não do material, pois quem estava a ser confrontado era o temido Nixon, e uma retaliação podia ser fatal. Acontece que The Post – A Guerra Secreta se arrasta de maneira desgastante, deixando um suspense nulo no ar, devido ao monótono foco nos jornalistas, enquanto a imagem do governo americano é ocultada, tirando do filme a possibilidade de engrandecer suas doses de adrenalina, autenticando a guerra entre jornal e Casa Branca, que supostamente é a premissa da obra. Em outras palavras, é como exibir um Fla-Flu com as câmeras, durante os 90 minutos, exibindo somente um dos times e a possibilidade de seu craque marcar o gol da vitória. Sendo assim, cabe o questionamento: o que Spielberg quis de fato com esse projeto?

A partir daí, multiplicando-se em atos que em nada somava com a trama, The Post – A Guerra Secreta quis investir em fantasmas que assombram repórteres, como a dúvida entre fazer amigos ou fontes, e se aquilo que se escreve pode trazer implicações jurídicas. Resultado da paranoia toda: torcida para que o filme logo acabe, e no chamativo que uma obra envolvendo a Guerra do Vietnã pode trazer, fica claro que, tratando-se de Richard Nixon, é melhor serem produzidos filmes sobre o escândalo de Watergate, que o levou à renúncia.

No elenco, vale citar que Meryl Streep está digna como sempre, mas adiciona a seu currículo mais uma desnecessária indicação ao Oscar. E falando na premiação, a bizarra atuação de Tom Hanks, é mais uma prova de seu desespero, visível nos últimos anos, para voltar a ser indicado à premiação. Seu jejum já dura 17 anos e acredito que ele não está sendo vítima de injustiça.

Que os Deuses do cinema me perdoem, mas lá se vai mais uma tentativa de eu voltar a louvar um filme de Steven Spielberg, que em The Post – A Guerra Secreta, se perdeu numa clara intenção de não ser imparcial e assim jogou tudo o que podia jogar contra um presidente republicano, sem nem cogitar abrir um espaço para uma inserção do outro lado, que sabiamente trabalhada, poderia até implicar ainda mais com Nixon e tornar mais heroica a imagem do The Washington Post, que não teve defendida nem um terço de sua coragem. Enfim, lá se vão 20 anos de O Resgate do Soldado Ryan, e antes disso, Spielberg nos deu A Lista de Schindler, Parque dos Dinossauros, E.T. O Extraterrestre, Os Caçadores da Arca Perdida, Tubarão... Sinceramente, torço para que ele não se torne um diretor, que em pleno exercício de sua carreira, invista tanto em seu futuro, mas que acabe vivendo do passado.

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