JOGADOR Nº 1
DIREÇÃO: Steven Spielberg
ELENCO: Tye Sheridan, Olivia Cooke e Mark Rylance
O ano é 2044 e o digital já se
sobrepõe a realidade, onde os jogos ditam mais a vida de um ser humano do que
possamos imaginar. OASIS é uma disputa que tem como fonte de inspiração o final
do século XX, e quem nele encontrar as três chaves secretas, vence o tão
sonhado prêmio, mas para isso, a vida real que já tinha o mínimo apreço, passa
a não ter nenhum.
Há poucas semanas, ao comentar
sobre The Post – A Guerra Secreta, mostrei meu descontentamento com Steven Spielberg,
afirmando que faz muitos anos que não me agrado com um filme dele. Enfim, o
tabu acabou. Depois de tantos épicos, eis que a jovem ficção-científica Jogador nº
1 devolve ao seu diretor um louvável status de mestre.
A obra tem um prólogo que mistura
deslumbre e impacto, e não necessariamente em sua história, e sim por sua impecável direção de
arte futurística, que impressiona com um ambiente que, na nossa cronologia, é
daqui a menos de 30 anos. Abusando positivamente da originalidade, os
roteiristas Ernest Cline (autor da obra original na qual o filme é baseado) e Zak
Penn (de Os Vingadores, O Incrível Hulk e X-Men) dão uma verdadeira aula ao
espectador leigo do que seja uma inteligência nerd e o que está por trás dessa
cultura que para alguns, pode ser considerada pura falta do que fazer. Mas aí
todos se veem envolvidos com o OASIS, que é sim um jogo doutrinador, mas a caça
às chaves passa a ser tão importante para o Wade, quanto para quem assiste ao
filme.
Com um dos mais impressionantes
trabalhos de efeitos visuais no cinema desde As Aventuras de Pi, Jogador nº 1 não busca
ser econômico em sequências de ação que atingem um nível tão surreal, quanto os obstáculos a la Mario World que acompanhamos nos games, e carregando o peso
de ser um dos mais importantes nomes da sétima arte, Steven Spielberg passa a
encher o filme de menções a outras obras cinematográficas, transformando a película
em uma ode. Quem não se agradou ao ver King Kong, Jurassic Park e até mesmo Clube
dos Cinco e Curtindo a Vida Adoidado? Os regozijos são intermináveis.
Trabalhando bem o filme enquanto cinema, mas estruturando o seu roteiro com as peculiaridades dos
jogos, Jogador nº 1 passa a desenrolar-se através dos tão preciosos atalhos,
que auxiliam qualquer um a atingir o objetivo final, ou seja, “zerar o jogo”,
em bem menos tempo do que o esperado, mas Spielberg sabiamente lembra a todos:
o temido chefão demora a aparecer, e o modo de buscar da vitória deve mudar.
A partir daí, o grupo que
lidera a busca pelas três chaves, executa um mecanismo de defesa recheado pela
agilidade que só bons jogadores têm, e que acima de tudo sabem que quem vive
numa ilusão, não quer ser distraído. Assim, ofertas de melhores armas aparecem,
mas como em todo jogo, há tanto estratégia quanto blefe, e aí o tempo vai
passando, as dificuldade aumentam, a dúvida pelo sucesso paira no ar, mas Jogador
nº 1 continua a ser uma obra-prima, e retornando às menções às outras obras do
cinema, o ponto mais alto foi quando O Iluminado, um dos mais importantes
filmes de terror da história, adentra e incrementa ainda mais a trama.
A agilidade que a obra pedia, executada
com firmeza pela técnica, foi brilhantemente aprimorada pelo jovem e desconhecido
elenco, que autentica uma atual tendência de Steven Spielberg de não trabalhar
com célebres companheiros de seus filmes. Analisando a equipe como um todo, Jogador
nº 1 não teve produtores como Kathleen Kennedy e Frank Marshall, e nada de trilha
sonora de John Williams, mas a obra conta sim com um Spielberg na melhor de
suas formas, que não era visto desde, sei lá, O Resgate do Soldado Ryan, em 1998?
O desfecho da obra conta com a
força de um ótimo filme de ação recheado de ficção científica, e o drama de se
constatar que quando tudo está perdido sempre apresenta uma luz no fim do túnel, e em Jogador
nº 1, Spielberg e companhia dão aula de originalidade e sacadas excelentes ao introduzir a tão sonhada vida extra de qualquer gamer, que para os cinéfilos
representa um grandioso ressurgimento do cineasta, engrandecendo as altas
expectativas com seus próximos filmes. Salve o Mestre!
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