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sábado, 12 de maio de 2018

COM AMOR, SIMON


COM AMOR, SIMON
DIREÇÃO: Greg Berlanti
ELENCO: Nick Robinson, Jennifer Garner, Josh Duhamel e Tony Hale


Simon é um garoto de 16 anos que já é convencido de sua homossexualidade, mas ainda não tem coragem de se assumir publicamente. De maneira acidental, seus e-mails em que constam a realidade sobre sua vida amorosa, caem nas mãos de um colega de turma, que passa a chantageá-lo - o que torna a vida de Simon tão dramática quanto a sua busca pelo misterioso garoto com quem conversa na internet.


Em 2008, quando o terceiro e fraco filme da linha High School Musical foi lançado, tive a constatação de que como as crianças estavam gostando cada vez mais dos musicais, poderia garantir uma empatia com o gênero por muitos anos. Curiosamente, 10 anos depois, nota-se que a juventude vai para a frente das telonas para prestigiar obras com temas polêmicos e que muito ainda se insiste em pregar que eles não são recomendáveis para essa faixa etária. Mesmo que utopicamente, quero crer que, assim, filmes com temática LGBT passarão a recrutar maiores públicos e principalmente a quebrar tabus. Com Amor, Simon foi uma grata surpresa, que, acima de qualquer aplauso, merece ser visto.

O primeiro ponto positivo que pude constatar na obra foi o fato de eu conseguir passar a levar a sério o ator Nick Robinson (protagonista da trama), após aquele seu horrível personagem infantil com instintos adúlteros, em Jurassic World – O Mundo dos Dinossauros. Em Com Amor, Simon, mostrando firmeza e coragem na performance, ele encara com aquela insegurança nata, os jovens pais que se despem de radicalidades e tentam acompanhar a nova fase da vida dos filhos, a ponto de influenciarem na masculinidade do adolescente, sem serem machistas e até apoiando práticas, como o ato de ver revistas adultas e a masturbação.

Nesta obra, dirigida por Greg Berlanti, o tormento íntimo do Simon traz à tona discussões pertinentes a realidade de ser um homossexual no atual mundo em que vivemos: Por que há homofobia? Por que há gays encubados? Talvez ambos fatos sejam a resposta para uma chantagem, que até desprovida de tanta maldade, faz com que as convicções do jovem, atinjam um nível de risco que o perturba, mesmo tendo ele os pais liberais que tem (neste caso, interpretados pelos ótimos Josh Duhamel e Jennifer Garner). Uma coisa é seus genitores lidarem com naturalidade a uma primeira embriaguez, mas qual seria a reação dos mesmos, ao saberem que o filho é gay?! Daí o drama aumenta e faz com que Simon se pergunte: Por que gays têm que se assumirem? Diante disso, de maneira genial, o filme, roteirizado por Elizabeth Berger e Isaac Aptaker (baseado no livro de Becky Albertalli) faz uma genial analogia ao ato de héteros estarem assumindo sua condição e receberem uma repulsa familiar.

Construído sem estereótipos, Simon se junta a um time de personagens dotados de uma simpatia cintilante, onde inclusive fazem com que o público seja capaz de torcer pelo chantageador Martin (vivido por Logan Miller), que não queria dinheiro, nem regalias, e sim conquistar a doce Abby (Alexandra Shipp). Sim, podem acreditar que há torcida por isso.

Mas ciente que tem que trabalhar os tabus, Com Amor, Simon fortalece os dramas com o passar da obra, e cria um forte suspense sobre como o protagonista deve se assumir, qual será a reação de seus pais, e, paralelo a isso, quem é o misterioso garoto com que ele se relaciona na internet, usa o pseudônimo Blue e é de seu convívio. O filme começa a investir em suspeitos, fatos e atos que levam o espectador a se aproximar da trama e querer matar a charada antes da hora, como em toda típica novela brasileira, onde no último capítulo saberemos quem é o assassino.

Se não tinha mais como esconder sua condição sexual, Simon transborda tal conturbação para todos os seus ambientes e a leva para fora das telonas. Para nenhum pai é fácil aceitar no início; para os amigos, fica a dúvida sobre o porquê de ter escondido isso deles; e na escola, o inevitável julgamento faz com que o mundo caia sobre ele. Mas o filme é perspicaz o suficiente para dar uma virada na trama, levantar a bandeira LGBT e num forte diálogo do protagonista com a sua mãe, ele afirma: “Mãe, ainda sou eu” e ela retruca: “Simon, você ainda é você”. Assim, um acalanto atinge a todos que estão direta e/ou indiretamente ligados a Com Amor, Simon.

Utilizando naturalmente o desfecho da obra para a quebra da identidade secreta do Blue, o filme ainda deixa espaço para embaralhar o suspense, fazer uma comicidade imperar, para no fim, fazer soberano o tão esperado final feliz de um filme divertido e reflexivo, construído por mãos sem destaque na indústria cinematográfica e que agora colhem merecidos frutos, por fazerem de Com Amor, Simon uma boa exceção na pouco eficaz adaptação de obras literárias juvenis para a sétima arte.  


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