COM
AMOR, SIMON
DIREÇÃO:
Greg Berlanti
ELENCO: Nick
Robinson, Jennifer Garner, Josh Duhamel e Tony Hale
Simon é um garoto de 16 anos
que já é convencido de sua homossexualidade, mas ainda não tem coragem de se
assumir publicamente. De maneira acidental, seus e-mails em que constam a realidade
sobre sua vida amorosa, caem nas mãos de um colega de turma, que passa a chantageá-lo - o que torna a vida de Simon tão dramática quanto a sua busca pelo misterioso
garoto com quem conversa na internet.
Em 2008, quando o terceiro e fraco filme da linha High School Musical foi lançado, tive a
constatação de que como as crianças estavam gostando cada vez mais dos musicais,
poderia garantir uma empatia com o gênero por muitos anos. Curiosamente, 10
anos depois, nota-se que a juventude vai para a frente das telonas para
prestigiar obras com temas polêmicos e que muito ainda se insiste em pregar que
eles não são recomendáveis para essa faixa etária. Mesmo que utopicamente, quero
crer que, assim, filmes com temática LGBT passarão a recrutar maiores públicos
e principalmente a quebrar tabus. Com Amor, Simon foi uma grata surpresa, que,
acima de qualquer aplauso, merece ser visto.
O primeiro ponto positivo que
pude constatar na obra foi o fato de eu conseguir passar a levar a sério o ator
Nick Robinson (protagonista da trama), após aquele seu horrível personagem
infantil com instintos adúlteros, em Jurassic World – O Mundo dos Dinossauros. Em
Com Amor, Simon, mostrando firmeza e coragem na performance, ele encara com
aquela insegurança nata, os jovens pais que se despem de radicalidades e tentam
acompanhar a nova fase da vida dos filhos, a ponto de influenciarem na
masculinidade do adolescente, sem serem machistas e até apoiando práticas, como
o ato de ver revistas adultas e a masturbação.
Nesta obra, dirigida por Greg
Berlanti, o tormento íntimo do Simon traz à tona discussões pertinentes a
realidade de ser um homossexual no atual mundo em que vivemos: Por que há
homofobia? Por que há gays encubados? Talvez ambos fatos sejam a resposta para uma
chantagem, que até desprovida de tanta maldade, faz com que as convicções do
jovem, atinjam um nível de risco que o perturba, mesmo tendo ele os pais liberais que
tem (neste caso, interpretados pelos ótimos Josh Duhamel e Jennifer Garner).
Uma coisa é seus genitores lidarem com naturalidade a uma primeira embriaguez,
mas qual seria a reação dos mesmos, ao saberem que o filho é gay?! Daí o drama
aumenta e faz com que Simon se pergunte: Por que gays têm que se assumirem?
Diante disso, de maneira genial, o filme, roteirizado por Elizabeth Berger e Isaac
Aptaker (baseado no livro de Becky Albertalli) faz uma genial analogia ao ato
de héteros estarem assumindo sua condição e receberem uma repulsa familiar.
Construído sem estereótipos,
Simon se junta a um time de personagens dotados de uma simpatia cintilante,
onde inclusive fazem com que o público seja capaz de torcer pelo chantageador
Martin (vivido por Logan Miller), que não queria dinheiro, nem regalias, e sim
conquistar a doce Abby (Alexandra Shipp). Sim, podem acreditar que há torcida por
isso.
Mas ciente que tem que
trabalhar os tabus, Com Amor, Simon fortalece os dramas com o passar da obra, e
cria um forte suspense sobre como o protagonista deve se assumir, qual será a
reação de seus pais, e, paralelo a isso, quem é o misterioso garoto com que ele
se relaciona na internet, usa o pseudônimo Blue e é de seu convívio. O filme
começa a investir em suspeitos, fatos e atos que levam o espectador a se
aproximar da trama e querer matar a charada antes da hora, como em toda típica
novela brasileira, onde no último capítulo saberemos quem é o assassino.
Se não tinha mais como
esconder sua condição sexual, Simon transborda tal conturbação para todos os
seus ambientes e a leva para fora das telonas. Para nenhum pai é fácil aceitar
no início; para os amigos, fica a dúvida sobre o porquê de ter escondido isso
deles; e na escola, o inevitável julgamento faz com que o mundo caia sobre ele.
Mas o filme é perspicaz o suficiente para dar uma virada na trama, levantar a
bandeira LGBT e num forte diálogo do protagonista com a sua mãe, ele afirma: “Mãe, ainda
sou eu” e ela retruca: “Simon, você ainda é você”. Assim, um acalanto atinge a
todos que estão direta e/ou indiretamente ligados a Com Amor, Simon.
Utilizando naturalmente o
desfecho da obra para a quebra da identidade secreta do Blue, o filme ainda
deixa espaço para embaralhar o suspense, fazer uma comicidade imperar, para no
fim, fazer soberano o tão esperado final feliz de um filme divertido e reflexivo,
construído por mãos sem destaque na indústria cinematográfica e que agora
colhem merecidos frutos, por fazerem de Com Amor, Simon uma boa exceção na pouco eficaz adaptação de obras literárias juvenis para a sétima arte.
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