A
GANHA-PÃO
DIREÇÃO:
Nora Twomey
ELENCO:
Saara Chaudry, Soma Bhatia, Ali Kazmi
O Afeganistão vive um momento
de terror, devido o forte e ditatorial governo talibã que assola o país. Nele,
vive uma garotinha chamada Parvana, que após testemunhar a injusta prisão de
seu pai, e tendo uma família formada só por mulheres, se vê na obrigação de se
disfarçar de homem para trabalhar e sustentar seus entes queridos.
Em 2007, chamou a atenção de
Hollywood uma adorável animação chamada Persepolis, que foi aclamada pela
crítica e que expunha um ambiente que pouco despertava o interesse da Meca do
cinema. Quatro anos depois, eis a redenção: A Separação, do Irã, vence um
merecidíssimo Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, e a partir dali, os olhos
começam a se voltar com mais força às produções ambientadas no Oriente Médio.
Num atual período, em que já existe apoios mais humanizados à essas áreas
asiáticas, não surpreende o sucesso que A Ganha-Pão fez, conseguindo inclusive
uma indicação ao Oscar 2018 de Melhor Animação. O curioso é que a obra é uma coprodução
entre Canadá, Irlanda e Luxemburgo, mas o fator denúncia e o forte drama
emocional presentes nela, não são manchados pela nacionalidade de quem a
concebeu.
Um fundo do poço, um lugar
recluso, uma solitária... qualquer um desses temíveis lugares podem
caracterizar a primeira imagem de A Ganha-Pão - animação produzida em seu estilo
tradicional, sem qualquer aprimoramento moderno, dirigida por Nora Twomey e
escrita por Anita Doron e Deborah Ellis, e que não deixa passar incólumes os cenários
célebres da alquimia e da religião islâmica, numa trama que, apesar de
fictícia, constrói-se amparada por fatos bem atuais e por citações a grandes
nomes que neste planeta já habitaram, como Alexandre, o Grande.
Adentrando a uma
contemporaneidade em que a religião é bem capaz de ditar as mais absurdas
guerras, que sequer fogem ao testemunho de uma pobre e inocente criança, o
filme investe corriqueiramente no aumento do poder do drama incutido na
história, que acertadamente tão desprovida de respostas quanto os atos do
exército talibã, coloca o dedo na ferida dos mais terríveis problemas
familiares da região, para fazer uma trama recheada de polêmicas, mas todas necessárias para escancarar uma realidade dura e que pede que o mundo
esteja mais a par dela.
Num ato que exibe uma mudança
escandalosa nos padrões do Oriente Médio, mas que é bela aos olhos de quem vê e sabe o porquê daquilo, A Ganha-Pão é tomado pela valentia de uma doce
garotinha em prol de uma família, num ato em que a atualidade e o folclore do
mundo árabe se misturam naquilo que acaba por tornar-se uma jornada pela glória
plena, onde a vitória dos desfavorecidos denota que justiça social é
fundamental em qualquer lugar.
A busca pela bondade suprema
no olhar daqueles que vivem onde muitos têm o ódio no coração é o ápice dessa obra. A
Ganha-Pão é um filme despido de mandamentos da arte, e do seu jeito agradável de
impor amor e terror ao mesmo tempo, figura cheia de méritos entre as mais lindas animações do
último ano.
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