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segunda-feira, 25 de junho de 2018

O TÚMULO DOS VAGALUMES


TÚMULO DOS VAGALUMES
DIREÇÃO: Isao Takahata
ELENCO: Ayano Shiraishi e Tsutomu Tatsumi


O Japão está sendo devastado pela Segunda Guerra Mundial. Em meio a isso, os irmãos Seita e Setsuko vivem uma jornada em busca da proteção, após se separarem do pai que luta nos combates, e da mãe que está gravemente ferida no hospital. A fome e a miséria, além da falta da esperança, acabaM norteando a jornada dos dois, que têm na sobrevivência o maior dentre todos os afãs.


Por eu ser um ser humano que odeia despedidas acima de tudo, principalmente quando envolve crianças, tenho que confessar que dentre os milhares de filmes que já vi na vida, as animações sempre foram as que mais me fizeram chorar. Não existe a menor possibilidade das lágrimas serem contidas em Toy Story 3, O Rei Leão, O Cão e a Raposa, Monstros S.A., dentre inúmeros outros.

Falando no gênero, vale ressaltar que Melhor Filme de Animação é a mais jovem categoria do Oscar. Ela foi criada somente em 2002, devido à baixa produção anual de filmes do gênero até então. Mesmo que hoje o prêmio seja monopolizado (sem nenhuma surpresa e até com seus méritos) pela Disney e pela Pixar, vale apontar a forte presença de filmes estrangeiros (inclusive o brasileiro O Menino e o Mundo, em 2016) ao longo de quase 20 anos de disputa, com bastante destaque ao Japão - por 6 vezes indicados e 1 vez vencedor, com A Viagem de Chihiro, do mestre Hayao Miyazaki. E foi justamente esse país, que há 30 anos, produziu um lendário anime, que só pude conferir no último dia 23 de junho de 2018, e que simplesmente se tornou o mais triste filme que já vi (tinha que ser uma animação). Apesar de ser excelente, se eu soubesse a fundo como era, confesso que jamais o teria visto. Bem vindos a Túmulo dos Vagalumes.

Dirigido por Isao Takahata (que infelizmente faleceu no último mês de abril, fundou o estúdio de todas as animações japonesas indicadas ao Oscar, o Ghibli; e disputou o prêmio, por O Conto da Princesa Kaguya, em 2015), Túmulo dos Vagalumes, assim como boa parte dos filmes da “terra do sol nascente”, não se esquiva de ser dramático ao extremo, a ponto de logo em seu prólogo, anunciar a morte de um personagem que tem tudo para ser adorável e, claro, sofredor. Baseado na autobiografia de Akiyuki Nosaka, o filme não brinca com sentimentalismo, e mesmo em estilo animado, tem o dom de transparecer um ambiente de devastação de uma guerra, e botando o dedo na mais frágil das feridas, atinge o espectador com o choro e o temor de uma criança em meio aos conflitos, numa dose voraz de emoção, que se torna mais forte na crença de que tudo aquilo não é nem 1/3 de um sofrimento coletivo ou individual, como ver uma mãe padecendo com ferimentos graves, após graves ataques.

Com aquela trilha sonora de velório, composta por Michio Mamiya, mas que não chega a ser algo negativo, as brincadeiras dos irmãos em meio aos vagalumes mostram, mesmo que minimamente, um sopro de paz para quem vive diante do terror, e ainda é incrível que até quando supõe-se que a trágica situação pode melhorar, os percalços se multiplicam. Diante disso, na obra se sobressai uma grande empatia por parte do Seita e da Setsuko, com direito a aula que ambos dão sobre o apego às pequenas coisas, dotadas de um lindo valor sentimental.

O andar da trama de Túmulo dos Vagalumes, transforma a pequena Setsuko (brilhantemente dublada por Ayano Shiraishi) num centro das atenções, numa espécie de diferencial, pois para o espectador, ela se torna uma filha, já que todos passam a se preocupar com o seu zelo, e as lágrimas dela são as nossas lágrimas. E em meio as tristezas e as tentativas de ser feliz, os questionamentos ecoam: Por que os vagalumes têm que morrer tão cedo? Por que quem nos traz alegria nos deixam tão repentinamente? A partir daí, o clamor que tanto nos amedronta acontece: “Não me deixe só. Fique comigo”, e durante aquela saga sem fim, a suposta luz no fim do túnel passa a ser o gigantesco mito que antecede o mais destruidor dos fatos expostos pelo filme.

Os prantos se multiplicam na mesma proporção em que as razões para viver se esgotam. Os flashbacks são inevitáveis, mas seria melhor se não viessem à cabeça nem do Seita, nem do espectador. Os vagalumes nada mais são do que o ponto de encontro de uma linda família, que via na luz dos animais, a mais bela claridade que conseguia se propagar em meio a uma outra claridade: a das bombas sendo jogadas pelos aviões. O lendário crítico de cinema Roger Eberth sabiamente considerou Túmulo dos Vagalumes um dos melhores filmes de guerra da história. Eu, concordando com ele, decidi ao seu término, seguir o conselho de meu melhor amigo: revi o seu prólogo, que me deixou mais emocionado ainda, por estar ali incutida a remota chance de um acalanto final, que seria impossível de ser colocado no desfecho da obra, e que inteligentemente foi estruturado no lugar certo. Concluo apenas dizendo que as lágrimas durante o ato de assistir essa obra foram inevitáveis, assim como foram enquanto escrevia esta crítica. Viva o cinema japonês!


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