O CONTO
DIREÇÃO:
Jennifer Fox
ELENCO: Laura Dern, Elizabeth Debicki, Ellen Burstyn, Jason Ritter, Frances Conroy, John Heard, Common, Isabelle Nélisse
Jennifer,
mesmo adulta, não consegue se esquivar de fortes problemas familiares. A
situação piora quando a sua mãe descobre que ela fora vítima de abuso sexual,
quando tinha apenas 13 anos, por parte de dois treinadores. Tal descoberta foi
feita através de manuscritos de Jennifer, que, ao serem relidos após anos pela própria autora,
percebe-se que existem umas controvérsias na história.
Jennifer
Fox é uma das mais conceituadas documentaristas de Hollywood, mesmo que nunca
tenha tido destaque nas temporadas de premiações. Como todos sabem, o maior
impulso da carreira do profissional desse gênero cinematográfico é a falta de
apreço pelo fictício. E como todo bom artista, mesmo quando o corpo pede
descanso, a cabeça não para. Por isso, a diretora, após 31 anos de carreira, levou
sua própria vida, que é um prato cheio para qualquer documentário, para as
telonas. Só que desta vez não foi ao estilo documental, e sim com atores interpretando
os personagens reais. Corajosa, Jennifer relata os abusos sexuais que sofreu
enquanto atleta, aos 13 anos, em O Conto – novo telefilme da HBO, que
concorrerá ao Emmy 2018 em 2 categorias, inclusive Melhor Atriz para Laura Dern,
que, aos 51 anos, vive um grande momento da carreira, seja na televisão, no
cinema ou em órgãos que administram a indústria.
Tendo em
vista que os fantasmas do passado, munidos do senso de que (infelizmente)
ninguém esquece aquilo que quer esquecer, costumam assombrar bem mais do que
aquilo que o presente tem a oferecer, Jennifer transforma sua própria vida em
um mar de dúvidas, com o instinto de se redescobrir e talvez enterrar o
tormento incapaz de abandona-la, mesmo quando ela já tem mais de 50 anos. Como
uma buscadora da verdade a qualquer custo, ela transforma-se em algo imparável,
quando sente que está próxima de dar um furo jornalístico para sua própria
vida.
Perspicaz
na área sentimental, O Conto consegue criar um ambiente em que uma pré-adolescente
chega a se sentir profundamente a vontade em um novo lar, fazendo com que o
espectador, que já assiste a obra com o intuito de se revoltar, piore tal
sentimento, pois cada vez fica mais revoltante o que o futuro do filme tem a
exibir, principalmente no tocante em que a pequena Jennifer, antes de virar uma
estatística de uma verdade inconveniente, mostra-se desagradada com sua família
biológica, e busca em seus treinadores o afeto de pais e filha que ela estava
sentindo falta.
Há de se
admitir que por muitos momentos, a menina posa com uma criticidade invejável,
mas O Conto tem a capacidade de provar que o espectador pode ser tão ingênuo
quanto ela, no momento em que sua imaturidade toma conta da trama, e se
transforma em seu mal maior. Tal mal, acaba a acompanhando durante toda a sua
vida, que com suas frustrações já bem afloradas, faz com que a Jennifer adulta
converse com o seu próprio passado, para tentar definitivamente deixar concreto
tudo o que aconteceu em sua vida, que lhe deixa isolada de todos e ainda não
lhe indica como agir daqui pra frente.
Com uma
câmera nas mãos e filmando praticamente a si própria, Jennifer Fox sabiamente
constrói as cenas de abuso sem certos tipos de foco, mas fortes o suficiente
para gerar a enorme ojeriza que o espectador tem com a criminosa desumanidade
na qual a ele está sendo exposta, que ainda por cima conta com uma fisionomia
revoltantemente cínica e debochada do abusador. Assim, O Conto transforma-se em
uma obra atormentadora, devido aos fatores ali presentes, e uma vida inteira em
que um trauma, mesmo dotado de dúvidas, consegue ser um fator de pressão até em
alguém que vive a receber aplausos. A atitude final de Jennifer pode não ter
agradado a todos, mas o sentimento real é o seguinte: ela é quem menos merece
ser julgada nesse drama.
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