HEREDITÁRIO
DIREÇÃO:
Ari Aster
ELENCO:
Toni Collette, Gabriel Byrne, Alex Wolff e Milly Shapiro
Uma idosa reclusa morre e isso
faz com que sua família sofra uma grande transformação. Eles passam a serem
dependentes das pioras características que essa senhora tinha em vida. Quando
está mais claro que um trágico futuro os reserva, fica praticamente impossível
para essas pessoas não optarem por aquilo que há de mais obscuro para tentar se
livrarem daquilo que as atormenta.
Será que estamos sendo um
tanto quanto exagerados quando pensamos que no clube onde estão O Exorcista,
Psicose, O Silêncio dos Inocentes, Carrie – A Estranha, dentre outros, podem
serem adicionadas obras recentes, como Corra! e Um Lugar Silencioso? Pelo sim ou pelo não, a única certeza é que o cinema de terror, que na década passada tinha
bem mais cara de caça-níquel, hoje vive um momento especial, repleto de
excelentes produções, que acima de tudo impactam por uma originalidade que há
muito tempo era necessária na sétima arte. Dando uma bela continuidade neste
áureo momento do horror cinematográfico, temos Hereditário.
Dirigido pelo desconhecido
diretor Ari Aster, o filme, de maneira interessante, tem um foco inicial numa
maquete, o que para muitos pode ser algo qualquer normal ou um simples elemento
cenográfico, mas na verdade não deixa de ter algo metafórico nela: o quão bom seria se tudo fosse
algo tão pequeno. Acontece que pequeno somos apenas nós, não nossos problemas. A vida
nos prega cada peça, e o roteiro escrito pelo próprio cineasta não economiza no
que há de mais negativo no fato de estarmos sempre vulneráveis àquilo que tanto
tememos. Só perder a mãe já é algo terrível, mas os dramas como um todo
continuam a serem relatados, e infelizmente cresce a certeza de que novos
virão.
Os aplausos a direção de Aster
crescem assim como a sua coragem ao eliminar efêmeros personagens, que desde o
seu início mostravam o quão fundamentais seriam para a trama. No executar de escolhas arriscadas, o diretor consegue
uma dosagem incrível de uma simplicidade juvenil com uma tragédia de
gigantescas proporções em inúmeros sentidos. Como aquilo será noticiado? Nem o
próprio filme se deu ao trabalho, pois não há como explicar. A difícil tarefa de
deixar a vida continuar torna-se cada vez mais impossível, já que diante de uma
sucessão de fatos no mínimo lamentáveis, viver não é mais algo que importe.
A fotografia de Pawel
Pogorzelski em Hereditário, investe num forte escuro que denota um luto eterno,
em meio a uma natural busca por culpados, um tanto quanto inútil, pois como o próprio
filme afirma: “Não há perdão sem admissão de culpa”. Com o medo passando a ser
constante, assim como os piores exemplos de alucinações, o filme, para uma obra
do gênero, consegue sobressair-se ao mostrar que o psicológico pode ser pior
que o macabro, e a atuação espetacular da atriz australiana Toni Collette (de O
Sexto Sentido) consegue exibir com força uma faceta que escancara que viver
toda aquela situação não é nem um terço do que um cidadão consciente possa
imaginar.
Ciente que a
racionalidade e a coerência é mais importante que a felicidade em um contexto,
Ari Aster enaltece um medo que ganha forma, e num mundo cada vez mais
contraditório e anormal, qualquer ato sem noção vale para se livrar do
tormento, afinal, em Hereditário, o inferno astral ganha sombrios ares literais.
0 comentários:
Postar um comentário