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terça-feira, 4 de setembro de 2018

HEREDITÁRIO


HEREDITÁRIO   
DIREÇÃO: Ari Aster
ELENCO: Toni Collette, Gabriel Byrne, Alex Wolff e Milly Shapiro


Uma idosa reclusa morre e isso faz com que sua família sofra uma grande transformação. Eles passam a serem dependentes das pioras características que essa senhora tinha em vida. Quando está mais claro que um trágico futuro os reserva, fica praticamente impossível para essas pessoas não optarem por aquilo que há de mais obscuro para tentar se livrarem daquilo que as atormenta.


Será que estamos sendo um tanto quanto exagerados quando pensamos que no clube onde estão O Exorcista, Psicose, O Silêncio dos Inocentes, Carrie – A Estranha, dentre outros, podem serem adicionadas obras recentes, como Corra! e Um Lugar Silencioso? Pelo sim ou pelo não, a única certeza é que o cinema de terror, que na década passada tinha bem mais cara de caça-níquel, hoje vive um momento especial, repleto de excelentes produções, que acima de tudo impactam por uma originalidade que há muito tempo era necessária na sétima arte. Dando uma bela continuidade neste áureo momento do horror cinematográfico, temos Hereditário.

Dirigido pelo desconhecido diretor Ari Aster, o filme, de maneira interessante, tem um foco inicial numa maquete, o que para muitos pode ser algo qualquer normal ou um simples elemento cenográfico, mas na verdade não deixa de ter algo metafórico nela: o quão bom seria se tudo fosse algo tão pequeno. Acontece que pequeno somos apenas nós, não nossos problemas. A vida nos prega cada peça, e o roteiro escrito pelo próprio cineasta não economiza no que há de mais negativo no fato de estarmos sempre vulneráveis àquilo que tanto tememos. Só perder a mãe já é algo terrível, mas os dramas como um todo continuam a serem relatados, e infelizmente cresce a certeza de que novos virão.

Os aplausos a direção de Aster crescem assim como a sua coragem ao eliminar efêmeros personagens, que desde o seu início mostravam o quão fundamentais seriam para a trama. No executar de escolhas arriscadas, o diretor consegue uma dosagem incrível de uma simplicidade juvenil com uma tragédia de gigantescas proporções em inúmeros sentidos. Como aquilo será noticiado? Nem o próprio filme se deu ao trabalho, pois não há como explicar. A difícil tarefa de deixar a vida continuar torna-se cada vez mais impossível, já que diante de uma sucessão de fatos no mínimo lamentáveis, viver não é mais algo que importe.

A fotografia de Pawel Pogorzelski em Hereditário, investe num forte escuro que denota um luto eterno, em meio a uma natural busca por culpados, um tanto quanto inútil, pois como o próprio filme afirma: “Não há perdão sem admissão de culpa”. Com o medo passando a ser constante, assim como os piores exemplos de alucinações, o filme, para uma obra do gênero, consegue sobressair-se ao mostrar que o psicológico pode ser pior que o macabro, e a atuação espetacular da atriz australiana Toni Collette (de O Sexto Sentido) consegue exibir com força uma faceta que escancara que viver toda aquela situação não é nem um terço do que um cidadão consciente possa imaginar.

Ciente que a racionalidade e a coerência é mais importante que a felicidade em um contexto, Ari Aster enaltece um medo que ganha forma, e num mundo cada vez mais contraditório e anormal, qualquer ato sem noção vale para se livrar do tormento, afinal, em Hereditário, o inferno astral ganha sombrios ares literais.


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