INFILTRADO
NO KLAN
DIREÇÃO:
Spike Lee
ELENCO:
John David Washington, Adam Drive e Alec Baldwin
Quebrando paradigmas da década
de 1970, Ron é um homem negro que torna-se policial e consegue se infiltrar na
Ku Klux Klan. Por meio de cartas e ligações telefônicas, ele se comunicava com
os demais membros da seita, mas quando precisava se encontrar pessoalmente,
enviava um soldado branco em seu lugar. A tática resultou na redução de
linchamentos e crimes de ódio no estado do Colorado.
O que será que o vento levou?
Talvez a dignidade e a esperança de um povo, que a cada guerra que se envolvia,
por mais civil que ela seja, via as diferenças virem mais à tona, e, como de praxe,
a opressão se intensificar nos já oprimidos. Martin Luther King e outros
lutadores deram um sopro de paz, mas é uma pena que foram vítimas fatais daquilo que
lutavam contra, e hoje observam um mal generalizado no mundo, sem aquela luz no
fim do túnel para que o desfecho da situação esteja próximo.
Baseado em algo
indiscutivelmente muito real, para não usar um palavrão como o filme usa,
Infiltrado no Klan mostra o diretor Spike Lee em sua melhor forma em muito
tempo, esbanjando competência no manejo de elementos certeiros e precisos para
dar total veracidade à trama, que até em seus mínimos detalhes é capaz de
chocar ao escancarar que, na verdade, é uma exceção e não uma regra ter homens da
lei extremamente profissionais, capazes de preferir avaliar o talento de uma
atriz em um filme do que a beleza de sua nudez.
O roteiro da obra, escrito
pelo diretor, em parceria com Kevin Willmott, Charlie Wachtel e David
Rabinowitz, faz a defesa do momento em que os negros começaram a serem mais
vorazes na luta de seus direitos civis, mostrando para o mundo o orgulho de sua
raça, carente de inclusão, respeito e aceitação, mas que sabia que fazer a
diferença num local onde as ideologias são contrárias às suas não é das mais
fáceis tarefas, pois a tamanha desigualdade já fazia com que muitos se
sentissem nascidos em cadeias, o que os levavam a ver uma piora em seu drama a
cada abordagem policial, que lhes tinham como suspeitos só pelo simples fato de
serem negros.
Ousado e audacioso, Spike Lee
faz de seu Infiltrado no Klan uma verdadeira aula para quem finge que não
acredita no racismo e não nota que isso é um problema antigo, capaz de constituir
seitas com o objetivo de exterminar as minorias, já que se dizem portadores do
gene da raça superior, possuidora de uma adoração divina pelo ódio e uma idolatria
por quem menospreza negros, judeus, dentre outros. Assim, diante de uma nada econômica
exposição de uma verdade inconveniente, a trama consegue a proeza de criar uma
aliança com o espectador, que compra a briga pelos desfavorecidos, ao mesmo
tempo em que admira as brilhantes atuações de John David Washington (filho de
Denzel Washington) e Adam Drive que, sem medo do perigo, mostram a sábia
postura da humanidade, inteligência e esperteza de seus personagens.
Quando ambos os lados (o bem,
o mal, e o mal disfarçado de bem) precisam agir, nota-se que é cômico (para não
dizer trágico) que o agir da lei é muito complicado, e por isso, as decepções,
inclusive quando se estar fazendo coisa certa, são praticamente inevitáveis,
mas como no final fica tudo bem, o saldo positivo e a renovação da confiança e
da esperança são um troféu para uma luta que já mostrou ser eficaz contra o
abuso, a violência, o ódio e a simples opinião dos descrentes no assunto. Há
muito tempo, o cidadão Spike Lee vem defendendo as melhores ideologias de
justiça social, principalmente nos Estados Unidos; e agora ele nos presenteia
com mais um acalanto, que é esse empolgante Infiltrado no Klan, que acima de
tudo dá uma resposta para quem desdenha da resistência.
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