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quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

O RETORNO DE MARY POPPINS


O RETORNO DE MARY POPPINS
DIREÇÃO: Rob Marshall
ELENCO: Emily Blunt, Lin-Manuel Miranda, Meryl Streep, Colin Firth, Julie Walters e Dicky Van Dicky


A família Banks, tradicional em Londres, já está em uma nova geração e passa por sérios problemas financeiros, até que Mary Poppins, ciente de que pode ajudar a melhorar essa situação, retorna à famosa residência, levando alegria e magia principalmente às crianças, que ainda contarão também com a companhia de um carismático acendedor de lampiões, que tem o otimismo como a sua principal característica.


Lenda artística-cultural da Inglaterra, digna até de ser retratada na abertura do Jogos Olímpicos de Londres, em 2012, a Mary Poppins foi criada pela escritora Pamela Lyndon Travers, e possuidora de poderes mágicos, era tudo o que as crianças de qualquer período sonhavam em ter como babá. Mesmo com todas as dificuldades para que os direitos de uma versão cinematográficas fossem concedidos, o filme lançado em 1964, tornou-se simplesmente o mais premiado filme da história dos estúdios Disney, ganhando 5 Oscars, incluindo Melhor Atriz para Julie Andrews.

Mais de 50 anos depois, uma inesperada sequência é preparada, e sem nenhuma surpresa, foi vista com desconfiança, não só pelo fato do risco que todo remake/reboot/prequel/sequel representa para uma obra original, mas principalmente por ter como diretor Rob Marshall, que tem tido uma carreira profundamente irregular nos últimos anos. Mas para nossa sorte, o cineasta foi o líder de um movimento que mostrou que, mesmo com o poder financeiro tendo mais destaque mundo afora, que ninguém subestime a capacidade qualitativa da Disney. O Retorno de Mary Poppins fecha com chave de ouro o ano cinematográfico de 2018.

Nada mais importante do que ressaltar que nem tudo que fala inglês vem dos Estados Unidos, por isso é louvável quando uma obra inglesa explora a forte cultura e o patrimônio de seu país. Ambientando a sua trama na grande depressão que atingiu todo o planeta, O Retorno de Mary Poppins tem o dom de indiretamente e no geral, nos fazer lembrar o ilustre britânico Charlie Chaplin, quando o mesmo disse: “Este é o momento que você tem que continuar tentando. Sorria, de que adianta chorar? Você descobrirá que a vida ainda continua, se você apenas sorrir”. Sendo assim, não é nenhum exagero arriscar que qualquer pessoa que vá ver esse filme munido de uma forte tristeza, saia dele sem nem lembrar o que foi que lhe fez triste.

Com um amontoado de clichês bem utilizados, a presença da Mary Poppins, tão aguardada pelo espectador, transforma-se em um regozijo maior para os personagens, principalmente os irmãos Banks, que mostram que, na verdade, não há adultos que não tiveram infância, e sim aqueles que prolongaram a melhor fase de sua juventude. Sendo assim, no sentido de ter que agradar os fãs da babá e conceder novos idólatras para ela, Rob Marshall, na concepção do filme, reinventa papéis, incrementa aventuras e elabora o antagonismo no Lobo Mau, sem se desvincular assim do que há de mais clássico na Disney, que mesmo vendo o filme com efeitos visuais de quinta grandeza, ainda soube prestigiar esse segmento em estilos mais tradicionais, onde outros animais passam a fazer companhia aos adoráveis pinguins, tão marcantes quanto a obra, que enfatizou desde o início o seu deleite visual e capacidade de mostrar-se poderosa em cada elemento da construção fílmica. 

O que há de mais impactante em O Retorno de Mary Poppins é o encanto presente na protagonista, que é um show à parte diante de tudo, principalmente da parte dramática do filme. Assim, cabe reverenciar a atuação, no mínimo, arrepiante de Emily Blunt, que impõe a sua presença, fazendo, com méritos próprios, com que a babá seja, em qualquer circunstância e de maneira positiva, o que há de mais chamativo em cada cena. Suas caras e bocas nos remetem aos mais áureos anos dos musicais de Hollywood, o que só mostra que ela, uma das melhores e mais subestimadas atrizes do mundo, que dá show em cada filme desde O Diabo Veste Prada, sabe captar a essência de um personagem. Vale a curiosidade de que Rob Marshall chegou a convidar Julie Andrews a atuar no filme, mas a mesma recusou alertando que o show ia ser de Blunt, e que ninguém devia atrapalhar. Uma deusa nunca erra.

Explorando com mais diversidade outros familiares não só dos Banks, mas como da babá (com direito a uma linda participação de Meryl Streep), O Retorno de Mary Poppins aprimora a força das coreografias de lindas canções e privilegia o esplendor do colorido de sua fotografia, o que mostra o absoluto e eficaz controle que Rob Marshall teve sobre o filme, que numa das melhores direções de 2018, fez valer que o seu diferencial foi trabalhar de maneira menos centralizada e ouvindo mais os membros de sua equipe, que assim como em Chicago, foram fundamentais para a boa sucessão da obra, diferente de tramas tragicamente produzidas e dirigidas, como Memórias de um Gueixa, Nine e Caminhos da Floresta, que se perderam diante de uma tentativa do diretor em querer explorar uma dita ousadia desnecessária e que só existia na cabeça dele. Talvez agora, Marshall tenha aprendido a lição.

Se a dramaticidade da trama ganha força, O Retorno de Mary Poppins nos ensina e nos emociona ao transpor que a pureza da resposta das crianças é a solução dos problemas, em atos que nos remetem ao Razzle Dazzle do supracitado Chicago, imaginando com que tudo seja um espetáculo cheio de luzes e que podemos voar e encontrar o prazer necessário superior a qualquer coisa que esteja tirando a nossa paz. No que se refere àquelas crianças, o ciclo da babá pode ter chegado ao fim,  mas nem a Disney, nem mesmo a sétima arte podem tentar fazer com que todos se desvincule dela, pois simplesmente o cinema e os cinéfilos merecem Mary Poppins.


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