O
RETORNO DE MARY POPPINS
DIREÇÃO:
Rob Marshall
ELENCO:
Emily Blunt, Lin-Manuel Miranda, Meryl Streep, Colin Firth, Julie Walters e
Dicky Van Dicky
A família Banks, tradicional
em Londres, já está em uma nova geração e passa por sérios problemas
financeiros, até que Mary Poppins, ciente de que pode ajudar a melhorar essa
situação, retorna à famosa residência, levando alegria e magia principalmente
às crianças, que ainda contarão também com a companhia de um carismático acendedor de
lampiões, que tem o otimismo como a sua principal característica.
Lenda artística-cultural da
Inglaterra, digna até de ser retratada na abertura do Jogos Olímpicos de
Londres, em 2012, a Mary Poppins foi criada pela escritora Pamela Lyndon
Travers, e possuidora de poderes mágicos, era tudo o que as crianças de
qualquer período sonhavam em ter como babá. Mesmo com todas as dificuldades
para que os direitos de uma versão cinematográficas fossem concedidos, o filme
lançado em 1964, tornou-se simplesmente o mais premiado filme da história dos estúdios
Disney, ganhando 5 Oscars, incluindo Melhor Atriz para Julie Andrews.
Mais de 50 anos depois, uma
inesperada sequência é preparada, e sem nenhuma surpresa, foi vista com
desconfiança, não só pelo fato do risco que todo remake/reboot/prequel/sequel
representa para uma obra original, mas principalmente por ter como diretor Rob
Marshall, que tem tido uma carreira profundamente irregular nos últimos anos. Mas para nossa sorte, o cineasta foi o líder de um movimento que mostrou que,
mesmo com o poder financeiro tendo mais destaque mundo afora, que ninguém subestime a
capacidade qualitativa da Disney. O Retorno de Mary Poppins fecha com chave de
ouro o ano cinematográfico de 2018.
Nada mais importante do que
ressaltar que nem tudo que fala inglês vem dos Estados Unidos, por isso é
louvável quando uma obra inglesa explora a forte cultura e o patrimônio de seu
país. Ambientando a sua trama na grande depressão que atingiu todo o planeta, O
Retorno de Mary Poppins tem o dom de indiretamente e no geral, nos fazer lembrar o ilustre
britânico Charlie Chaplin, quando o mesmo disse: “Este é o momento que você tem
que continuar tentando. Sorria, de que adianta chorar? Você descobrirá que a
vida ainda continua, se você apenas sorrir”. Sendo assim, não é nenhum exagero
arriscar que qualquer pessoa que vá ver esse filme munido de uma forte
tristeza, saia dele sem nem lembrar o que foi que lhe fez triste.
Com um amontoado de clichês
bem utilizados, a presença da Mary Poppins, tão aguardada pelo espectador,
transforma-se em um regozijo maior para os personagens, principalmente os
irmãos Banks, que mostram que, na verdade, não há adultos que não tiveram
infância, e sim aqueles que prolongaram a melhor fase de sua juventude. Sendo
assim, no sentido de ter que agradar os fãs da babá e conceder novos idólatras
para ela, Rob Marshall, na concepção do filme, reinventa papéis, incrementa
aventuras e elabora o antagonismo no Lobo Mau, sem se desvincular assim do que
há de mais clássico na Disney, que mesmo vendo o filme com efeitos visuais de
quinta grandeza, ainda soube prestigiar esse segmento em estilos mais tradicionais,
onde outros animais passam a fazer companhia aos adoráveis pinguins, tão
marcantes quanto a obra, que enfatizou desde o início o seu deleite visual e capacidade de mostrar-se poderosa em cada elemento da construção fílmica.
O que há de mais impactante em
O Retorno de Mary Poppins é o encanto presente na protagonista, que é um show à
parte diante de tudo, principalmente da parte dramática do filme. Assim, cabe reverenciar a atuação, no
mínimo, arrepiante de Emily Blunt, que impõe a sua presença, fazendo, com
méritos próprios, com que a babá seja, em qualquer circunstância e de maneira
positiva, o que há de mais chamativo em cada cena. Suas caras e bocas nos
remetem aos mais áureos anos dos musicais de Hollywood, o que só mostra que
ela, uma das melhores e mais subestimadas atrizes do mundo, que dá show em cada filme desde O Diabo Veste Prada, sabe captar a
essência de um personagem. Vale a curiosidade de que Rob Marshall chegou a
convidar Julie Andrews a atuar no filme, mas a mesma recusou alertando que o
show ia ser de Blunt, e que ninguém devia atrapalhar. Uma deusa nunca erra.
Explorando com mais
diversidade outros familiares não só dos Banks, mas como da babá (com direito a
uma linda participação de Meryl Streep), O Retorno de Mary Poppins aprimora a
força das coreografias de lindas canções e privilegia o esplendor do colorido
de sua fotografia, o que mostra o absoluto e eficaz controle que Rob Marshall
teve sobre o filme, que numa das melhores direções de 2018, fez valer que o seu
diferencial foi trabalhar de maneira menos centralizada e ouvindo mais os membros
de sua equipe, que assim como em Chicago, foram fundamentais para a boa
sucessão da obra, diferente de tramas tragicamente produzidas e dirigidas, como Memórias de
um Gueixa, Nine e Caminhos da Floresta, que se perderam diante de uma tentativa
do diretor em querer explorar uma dita ousadia desnecessária e que só existia
na cabeça dele. Talvez agora, Marshall tenha aprendido a lição.
Se a dramaticidade da trama
ganha força, O Retorno de Mary Poppins nos ensina e nos emociona ao transpor
que a pureza da resposta das crianças é a solução dos problemas, em atos que
nos remetem ao Razzle Dazzle do supracitado Chicago, imaginando com que tudo
seja um espetáculo cheio de luzes e que podemos voar e encontrar o prazer
necessário superior a qualquer coisa que esteja tirando a nossa paz. No que se refere àquelas crianças, o ciclo da
babá pode ter chegado ao fim, mas nem a Disney,
nem mesmo a sétima arte podem tentar fazer com que todos se desvincule dela, pois
simplesmente o cinema e os cinéfilos merecem Mary Poppins.
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