BOY
ERASED – UMA VERDADE ANULADA
DIREÇÃO:
Joel Edgerton
ELENCO:
Lucas Hedges, Nicole Kidman, Russell Crowe e Joel Edgerton
No interior dos Estados
Unidos, Garrard é um jovem, que vem de uma família religiosa, sendo que seu pai
é pastor, mas se vê confrontado pela mesma pelo fato de ser homossexual.
Forçadamente, ele luta para deixar a opção sexual que todos a sua volta chamam
de doença, ao mesmo tempo em que tenta fazer valer sua real personalidade.
Em uma carreira como ator de
mais de 70 créditos, o australiano Joel Edgerton, enxergando em si a capacidade e a experiência suficientes para desbravar novos rumos na sétima arte, adapta a
autobiografia Boy Erased – A Memoir, de Garrard Conley, e assina, além do
roteiro, direção e produção do filme Boy Erased – Uma Verdade Anulada, trazendo
consigo os compatriotas e vencedores do Oscar Nicole Kidman e Russell Crowe
para co-estrelarem esse forte drama ao lado do jovem promissor Lucas Hedges
(que já tem uma indicação ao Oscar no currículo), que, como é filho do cineasta Peter
Hedges, viu imagens reais suas quando criança, abrilhantando o prólogo da obra,
no qual foi inevitável eu me lembrar de Querido Menino, que vi e escrevi sobre há pouco tempo,
em que enfatizei que ninguém sabe o dia de amanhã, muito menos numa relação
entre pai e filho.
Em um ambiente claramente o
menos tolerante possível para no mínimo se discutir sexualidade, o filme
encontra ao focalizar o semblante de cada membro da família protagonista, o
terror que é buscar a coragem de encarar qualquer um, mesmo quando ser gay é só
uma natural dúvida na cabeça de um adolescente. Sem economia no ato de
escancarar um dos fatos que mais deixa indignado um LGBT+ ou defensor da causa,
Edgerton apresenta e estrutura uma clínica de terapia que visa a “cura gay”,
mostrando a naturalidade com que muitos fundamentalistas tratam o ato de se buscar
o abandono da homossexualidade, ao passo que eles usam de um repudiante
tratamento de choque, embasado por teorias que demonizam a prática mais do que
qualquer crime que um sujeito, independente de opção sexual, é capaz de
cometer.
Já atingindo um ápice de horror real, dando uma amostra do que é ser uma minoria em qualquer lugar do mundo, Boy Erased –
Uma Verdade Anulada destoa necessariamente da intenção de ser ousado e
inovador, e segue seu rumo em clichês que jamais perderão validade na maneira com que muitos seres julgam o estilo de vida de outrem, como o tipo
de esporte que uma pessoa pratica ou assiste, que deve, na visão de muitos, estar
associado a ser homem ou mulher, e o desvio disso é tratado para ser revertido
tal qual os alcoólicos anônimos ou uma clínica de desintoxicação trabalha. Tudo
isso acontece em meio a lembrança de que o filme é baseado em uma história
real, onde um ser humano, diante desse caos, viu o seu psicológico tornar-se
tão frágil quanto o seu físico.
Numa luta silenciosa sem saber
para o quê, Boy Erased – Uma Verdade Anulada é um grito de socorro até numa
reação violenta à uma imagem de um modelo na rua, onde o desgaste com o
sofrimento da terapia mostrou que vale a pena ser honesto consigo mesmo e posteriormente
com a família, que apesar do clima sombrio que pairava sobre o tormento, o
jovem, espetacularmente interpretado por Lucas Hedges, encontra em sua mãe (a
perfeita Nicole Kidman), a mulher que, entre risos e lágrimas, roga a Deus para
que o filho seja aquilo que ela espera, mas sabe como ninguém ser a primeira a aceita-lo,
mostrando que o amor de mãe é o primeiro, maior e melhor refúgio diante de
qualquer coisa.
O extremo radicalismo
religioso não é páreo para que Garrard se entregue a forma de amor em que ele
acredita, e a palavra reação é executada da mais primordial maneira.
Enaltecendo a felicidade acima de tudo, Boy Erased – Uma Verdade Anulada, com
belas canções originais, talvez nos dê mais a lembrança do seu excelente elenco
do que o próprio filme em si, mas acima de tudo nos apresenta uma forte história de um
verdadeiro campeão na vida, que é um espelho para aqueles que clamam e vão ao combate
pela resistência.
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