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sábado, 9 de fevereiro de 2019

VICE


VICE
DIREÇÃO: Adam McKay
ELENCO: Christian Bale, Amy Adams, Sam Rockwell, Steve Carrell e Tyler Perry


Eis a jornada de Dick Cheney – um simples e comum cidadão americano, que chegou a Vice-Presidência do país, tornando-se tão poderoso quanto o titular, que era ninguém menos que George W. Bush. Para muitos, os avanços decorrentes desse governo que, por sinal, foi impopular, é graças a Cheney, que foi responsável por mudanças visíveis até hoje, mesmo que muitos preguem que há controvérsias.


Chamou muito a atenção de todos na festa do Globo de Ouro 2019, Christian Bale, vencedor do prêmio de Melhor Ator por este filme, dedicar a vitória à Satanás, que, segundo ele, foi a sua inspiração para interpretar o personagem. Proposital ou não, tal fato foi um gigantesco marketing para Vice, que só engrandeceu seu nome nas bilheterias e na temporada de premiações, aumentando a curiosidade de muitos em querer saber a fundo quem de fato é esse Dick Cheney. Não é fácil trabalhar uma história real, e o próprio filme, antes de qualquer coisa, garante que tentou fazer o melhor, pois sabia que estava lidando com o inimigo.

A verdade é que a obra, dirigida e roteirizada por Adam McKay (de A Grande Aposta), prova que ele de fato não tem escrúpulos em seus longas, não poupando ninguém de seu humor venenoso, que em outrora o fazia ser vítima de inúmeras críticas, mas hoje garante infinitos aplausos a ele. Mas só que, curiosamente, não é a comicidade que dá o tom ao prólogo da obra, pois as imagens dos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 e a ordem de pulso firme do Vice-Presidente para que seja abatido tudo o que for uma ameaça, mostram que o filme também quer fazer valer doses de drama e suspense.

Se é para as coisas acontecerem por partes, McKay elabora um contexto com uma narrativa impactante, que exibe como um homem se torna quem realmente ele é, e desperta em muitos a sensação do “quem diria que ele chegou lá” com os acontecimentos futuros. Mas só que tudo é o resultado do que o roteiro de Vice prega: “Cuidado com um homem calado. Enquanto outros falam, ele age. Enquanto outros descansam, ele ataca”. Eis a principal concepção de um Cheney observador, que viu na política um modo, a princípio, de conversão, pois sua vida até então, foi digna de episódio indesejáveis para qualquer cidadão.

Recheado de, até certo ponto, desnecessários momentos em seio familiar, não executados com a investigação que mereciam, Vice passa a ganhar o caráter debochado de denúncia que o diretor tanto ama, e joga na cara tudo o que ele defende, visto como retrógrado por muitos. Ressalta-se que é tido como o mentor da Guerra do Iraque. Bem estabilizado na conturbada política americana, admira-se, mesmo com discordâncias, sua inteligência de saber montar um plano de poder a longo prazo, iniciado com o respeitável cargo de Chefe de Gabinete da Casa Branca, até o destaque na Câmara dos representantes.

Sendo assim, seria Dick Cheney um Presidente futuro? Lógico que sim. Parafraseando o filme, metade dos Estados Unidos quer sê-lo, enquanto a outra metade o teme. E é no momento em que ele, na década de 1990, declina de comandar o executivo americano, que Vice passa a acertar em cheio no lado família do político, que, numa cena fantástica, o espectador testemunha um grandioso lado humano dele, ao se deparar com a sua filha caçula assumindo a homossexualidade. Mas como Adam McKay não perde a oportunidade de arrancar gargalhadas, ele, bizarramente, encerra o filme em sua metade, com direito a créditos finais e tudo, para daí termos uma volta atrás, típica da política, para transpor Cheney no principal cargo de sua carreira: a Vice-Presidência dos Estados Unidos, que é iniciada às escuras pelo longa, para que a claridade chegando ao seu gabinete denote o início de um novo tempo, tão pessoal, quanto nacional.

Para o cinebiografado, vice é aquele que só fica sentado, esperando o titular morrer. Convenhamos que muita gente tem que aprender isso! Inexplicavelmente, sua inclusão numa corrida presidencial veio após um gigantesco hiato em sua vida no segmento, e o filme, endossa certas esquisitices, ao expor um George W. Bush que achava tudo aquilo uma diversão, em meio a um Cheney contido diante dos impulsos de seu futuro chefe, que, por sinal, talvez não havia necessidade de ter sido retratado na obra. Não vejo uma suposta exclusão interferindo negativamente no roteiro, e ironicamente Sam Rockwell (intérprete do ser controverso) vai disputar o Oscar 2019.

Investindo na sensatez do protagonista, brilhantemente vivido por Christian Bale (indicado ao Oscar 2019 de Melhor Ator), embora tenham me desagradado certos trejeitos e “caras e bocas”, Vice escancara um diferente senso de liderança, que foi abraçado, diante de uma polêmica eleição que levou um Bush de volta à Casa Branca, porque sabiam que ali havia a voz da experiência que os republicanos almejavam. Cheney, claramente com um pé atrás com o futuro comandante dos Estados Unidos, chega ao ápice de seu lado estrategista e centralizador, seja com a Câmara, o Senado, o Pentágono ou a CIA, e focalizado por Vice, com um áudio surpreendentemente cortado nas supostas ilicitudes, torna-se um grandioso centro das atenções, diante de fatos e questionamentos exposto num clímax excelente, que enaltece a direção e o roteiro de McKay, e a perfeita edição de Hank Corwin.

Findados os 8 anos de mandato, na vida pós-poder que desperta a curiosidade de muitos, um problema cardíaco num Dick Cheney idoso traz preocupação, e diante de uma delicada cirurgia, McKay incute imagens de outros problemas vividos por americanos, lembrando que, por mais admirável que sejam muitos pontos da vida do ex-Vice-Presidente, talvez muitos tenham que medir bem o grau de piedade que tem do próximo, porque convenhamos que o republicanos são historicamente mais passíveis de julgamentos negativos do que os democratas. Mas Vice acaba dando as mãos ao político, quando, no desfecho, dá direito para que o mesmo ressalte o que há de mais racional nesse segmento que é a política: "Quem quer ser amado, que vire estrela de cinema". Sendo assim, God Bless America!


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