DEIXANDO NEVERLAND
DIREÇÃO: Dan Reed
ELENCO: Wade Robson e James Safechuck
Michael Jackson, quase 10 anos após a sua morte, volta a ter o seu nome envolvido em escândalos de pedofilia. Wade Robson e James Safechuck prestam depoimento sobre como eram as suas relações com o rei do pop, onde o famoso rancho Neverland era o principal local das supostas práticas criminosas.
Com 54 anos, Dan Reed é um especialista em documentários para tv. Com uma carreira quase incólume no cinema, ele atinge o ápice de polêmicas já habituais em seu currículo, ao se mostrar de frente com hoje dois adultos, que afirmam que durante a infância foram abusados sexualmente por Michael Jackson - cantor que, com méritos, é tido como o maior artista da história, mas sempre teve que lidar, em mais de 50 anos de vida, com esses escândalos, capazes de gerar denúncias inclusive providas de sua própria família.
Deixando Neverland é um documentário, que, com muitas tomadas desnecessariamente aéreas, tenta embasar a proximidade do músico com as crianças, munido de diversas imagens que têm o intuito de mostrar que Wade e James não eram dois simples fãs que conseguiram uma só foto com o cantor em toda a vida. Pelo contrário, estavam sempre ao lado do ídolo. A gratidão é tida como uma das maiores virtudes de um ser humano, mas será que ela é suficiente para justificar de um simples erro ao mais hediondo dos crimes? O garotinho, visivelmente anestesiado em outrora, que sonhava ser igual ao músico, estava ali tendo o privilégio de conviver com ele, para só após sua vida adulta, mostrar que reconheceu possuir marcas do que supostamente aconteceu.
A verdade é que o filme, de fato, não deixa de venerar Michael Jackson, que publicamente não negava ser Peter Pan, era apaixonado por crianças, sempre dava os melhores tratamentos a elas nos shows, e sua presença em peças publicitárias infantis era certeza de um grande retorno infantil para qualquer empresa. O astro, em Deixando Neverland, não é poupado de elogios, nem ao seu poderio artístico, nem às suas benesses para/com o próximo. Com isso, fica até a dúvida se o documentário é realmente uma crítica ao cantor, até mesmo porque a criança que sonhava em ser um grande dançarino, não era a única que subia ao palco do músico. Logo, um caso isolado teria tanta força assim? Isso foi só o ato de preparar um terreno para a gravidade que estava por vir.
Ninguém deve se sentir, no mínimo, confortável com relatos ao estilo "mão na virilha", "pênis conduzido à boca", tendo em meio a tudo isso uma criança de 7 anos. Evidente que dá vontade de desligar a TV (Deixando Neverland é um documentário da HBO), não que o filme seja ruim, mas porque é desconfortável ao extremo. As denúncias e os atos eram gravíssimos, e o drama estava mais que presente no olhar de quem denunciava, ao som de uma trilha melancólica, composta por Chad Hobson.
A relação de Michael com as crianças parecia algo alegremente mútuo, repleto de mensagens de afetividade recíproca, onde qualquer menino se sente o melhor garoto do mundo. Acontece que o arsenal de qualquer ser pode conter as mais indigestas armas, onde nem a defesa por parte de Diana Ross, Stevie Wonder, Barbra Streisand e Macaulay Culkin conseguiu diminuir uma opinião pública, que reduziu o valor pós-morte de seus trabalhos e levou muitos museus de cera a retirarem estátuas em homenagem a MJ. Acima de tudo, Deixando Neverland incomoda, mas eu prefiro me despir da função de julgador, e como o astro não está mais aqui para se defender, opto por pensar que, num mundo de maioria cristã, Deus, dono da justiça que nunca falha, já deu o julgamento correto ao astro; mas nenhum pobre mortal, nem mesmo eu, tem a cabeça segura o suficiente, para não ter imaginado mil e uma coisas diante de fatos tão lamentáveis.




0 comentários:
Postar um comentário