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domingo, 2 de junho de 2019

ROCKETMAN


ROCKETMAN
DIREÇÃO: Dexter Fletcher
ELENCO: Taron Egerton, Jammie Bell, Richard Madden e Bryce Dallas Howard


Cinebiografia do cantor Elton John, mostrando desde a acanhada criança chamada Reginald Dwight até chegar ao pulsante astro internacional, que fora o inquestionável talento, também teve uma vida atormentada por traições, vícios, preconceitos e falta de encontro consigo.


Mesmo não havendo obrigatoriedade e podendo até parecer chato, cito que foi Dexter Fletcher quem substituiu Brian Singer na direção de Bohemian Rhapsody, após todas as polêmicas e denúncias. Logo, o trabalhar da cinebiografia de Elton John contaria com um líder com experiência recente sobre executar a trajetória de um astro internacional. Quando Rocketman chega ao fim, uma das sensações que fica é que talvez o filme do Freddie Mercury seria melhor se Fletcher tivesse dirigido ele em sua íntegra.

Na maestria de um colorido que encanta com que o há de mais extravagante no brilhoso, a direção de Rocketman entende perfeitamente que para viver a vida de Elton John, também é necessário viver a sua fantasia. Assim, transformando-se numa obra musical, em todos os tipos de concepção que o gênero pode ter, o filme, mostrando-se eletrizante desde o seu prólogo, torna as canções uma verdadeira libertação em meio a assombração de fantasmas de outrora que atormentam um eterno e doce menino, que claramente traumatizado por questões do passado, como o abandono por parte de seu pai, faz de seus sonhos um objeto que facilmente se transforma em música da mais pura qualidade.

Roteirizado por Lee Hall (indicado ao Oscar por Billy Elliot e responsável pelo lindo Victoria & Abdul - O Conselheiro da Rainha), que seguramente não faz das inserções fonográficas algo desnecessário, Rocketman permite que o espectador logo se apaixone pelo protagonista e torça vorazmente por ele, criando também a empatia com que ele tinha pela avó, que por sinal, recebeu a mais bela dedicatória quando Elton John ganhou o Oscar de Melhor Canção com "Can You Feel The Love Tonight", por O Rei Leão, em 1995. Com eletrizantes números de dança, a primeira lição que fica para o cantor é que, em meio a uma Inglaterra jovem, misturada ao estilos de Elvis Presley, Beatles e Rolling Stones, para ser quem ele queria ser, ele tinha que matar quem ele era. Foi assim que Reginald, em homenagem a um amigo virou Elton, e ao ver uma imagem do marido de Yoko Ono numa parede, acrescentou o John no nome artístico.

Sendo humilde ao não desmerecer Bernie Taupin - parceiro de longa data de Elton, que escreveu as letras de suas principais músicas, nunca brigou com ele em mais de 50 anos e o amava de maneira verdadeiramente fraterna, Rocketman encaixa as canções do sir de maneira precisa e fazendo justiça às mesmas. Confesso que, indo ao cinema há 23 anos, pela primeira vez tive muitos problemas com o autocontrole, visto que queria cantar tresloucadamente junto ao filme. "You Song", que, para muitos, é a melhor declaração de amor já feita, recebe o merecido destaque por ser a preferida do público, ao mesmo tempo em que o roteiro da obra a defende como a melhor coisa já ouvida na Terra da Rainha, desde "Let It Be". Em meio a timidez e insegurança, Elton adentra a Hollywood, e num belo jogo de cortes, com closes na expressão do artista e na reação do público, a primeira reação do espectador é temer por ele, mas "Crocodile Rock" sabiamente é propícia para fazê-lo triunfar em qualquer lugar, e ainda nos brindar com suas marcantes danças no piano.

Estruturado de maneira tão surreal quanto a vida do homenageado, Rocketman, diferente da indignação causada por Bohemian Rhapsody, explora de maneira correta a homossexualidade de Elton John, que se autoidentificava como "bicha, fresco e marica". Sem se preocupar com o conservadorismo, o filme prefere respeitar, acima de tudo, o cantor e sua história, que, por sinal, ao reativar a sua relação com o pai, torna-se um tapa na cara daqueles que acham que, em brigas familiares, o perdão é a melhor solução. Nem sempre é! Está em paz com a sua consciência é o melhor caminho.

Ressucitando as fantasias, Rocketman chega ao ponto de ser uma mescla de realidade com fábula, onde o visual é um deleite, e o imaginário do cantor é uma verdade ilustrada pela música, que achávamos que só existia na ficção. Lutar contra si próprio, a traição do agente, o desrespeito com o sentimento da esposa e a extrema racionalidade e frieza de sua mãe podem ser grandes problemas, mas, de maneira encantadora, o filme prova que o recomeço é de uma nobreza inoxidável.

Com créditos finais vitoriosos e um elenco primordial, com destaque a Taron Egerton, graças a Rocketman, nós nos apaixonamos, torcemos, cantamos, choramos, nos preocupamos, e, ao testemunharmos uma cinebiografia justa, digna e honrada, somos genialmente guiados a pertinentes acertos de conta com muitos, mas que, em meio ao regozijo, sabemos que o melhor é ficarmos de bem com quem de fato nós somos. Vale a pena se deslumbrar com um dos melhor filmes do ano. 




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