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sexta-feira, 11 de outubro de 2019

CORINGA


CORINGA
DIREÇÃO: Todd Phillips
ELENCO: Joaquin Phoenix, Robert De Niro e Zazie Beetz e Shea Whigham


Arthur é um homem pobre, que vive com a mãe doente e trabalha durante o dia como palhaço que anima estabelecimentos comerciais. Sonhando ser um humorista, ele tem uma obsessão em sorrir e parecer engraçado. Com isso, desenvolve um distúrbio mental, agravado ao passar por situações que não o agrada. Assim, ele se deixa levar pela maldade e coloca Gotham City em estado de alerta, devido aos crimes praticados.


Admite-se que não é saudável buscar qualquer tipo de comparação entre o Coringa estrondosamente interpretado por Heath Ledger em 2008, e o aqui retratado pelo talentosíssimo ator porto-riquenho Joaquin Phoenix; acontece que faz-se justo elucidar que desde Batman - O Cavaleiro das Trevas, o temível vilão viu sua popularidade aumentar no meio cinematográfico. Sendo assim, nem surpreende as reações de ansiedade pela estreia da obra. Será que seria da mesma forma, caso fosse um filme solo do Pinguim ou do Charada? Óbvio que não, da mesma forma que, talvez, tais obras não seriam tão inteligentemente concebidas. 

Afinal, o palhaço o que é? É ladrão de mulher? É para nos fazer rir ou chorar? Será que ele chora? E atrás dessa lágrima existe alguém estupidamente mais infeliz que a alegria que tenta passar? Dirigido por Todd Phillips (de Se Beber, não Case), Coringa não se deixa alastrar em nenhum minuto e desde o seu prólogo, assusta, escancara verdades e nos traz mais questionamentos. Uma hora ou outra, iremos provar do próprio veneno, mas se esse veneno estiver vencido, ele se torna mais ou menos letal? As lições de Relatos Selvagens (excelente filme argentino de 2014) são reforçadas por esta película, que não precisa de muitas cenas para provar que não é impressão que o mundo está ficando mais maluco, e a morte de um ser pode fazer mais sentido que a sua própria vida.

Escrito pelo diretor, em parceria com Scott Silver (Indicado ao Oscar de Melhor Roteiro, em 2011, por O Vencedor), o Coringa concebido, sem em momento algum demonstrar incoerência com que o conhecemos, é um sujeito infantil e tímido, mas que não almeja isso para si. Acontece que ninguém está imune a distúrbios! Num gesto de coragem, a trama adentra à ideologia armamentista, e no debate sobre a eficácia ou não da mesma, as caras e bocas da falta de autocontrole psicológico resulta naquilo que tanto assusta os mais temerosos com a falta de controle de armas. E como ninguém aceita ser humilhado, seja de maneira justificada ou não, as consequências atingem um sério nível de agravamento.

Em meio a uma excelente trilha sonora de tormento, composta pela jovem islandesa Hildur Guðnadóttir (que já trabalhou com Dennis Villeneuve e Alejandro Gonzalez Iñarritu), o mal surge e as metáforas do mundo real estão fortalecidas. De fato, todos estão se lixando para pessoas como nós. Assim, para o bem ou para o mal, criminosos e justiceiros se multiplicam, e incrivelmente todos chegaram a um nível em que dificilmente seguirão o conselho do mestre Charlie Chaplin: "Sorria, embora seu coração esteja doendo... Sorria, mesmo que ele esteja partido". 

Sem querer fugir do Batman, a obra, mais obscura, estabelece uma nova faceta (passível de questionamento) para a família Wayne, assinando assim um novo testamento para o crime, onde qualquer pessoa, seja ela quem for, pode se cansar de ser boazinha, mas jamais se cansará de ser maldosa. E em meio ao escancarar que o rancor é humano, mais até que qualquer outro sentimento, Joaquin Phoenix, que já deu shows de interpretação em filmes como Johnny & June e O Mestre, com direito a mudanças físicas, nos deixa boquiabertos e impactados, com uma performance que une com perfeição a maldade, a frustração e a paranoia em seus ápices. 

Perturbador e mais racionalmente humano quanto a origem do antagonismo, Coringa não economiza no retratar da humilhação às minorias, e na maneira como somos capazes de nos sentirmos obcecados por quem nos prejudica, ao invés de querermos distância deles. Todos somos pequenos demais, e como se não pudesse piorar, ainda nos apequenamos e não nos censuramos em nada, afinal tem muita gente que está morta no chão, e ao invés de ganhar piedade, o que há são pessoas passando por cima do seu cadáver. 

Lindamente fotografado por Lawrence Sher, Coringa é o vilanismo do psicologicamente afetado, que representa a muitos na vida real. Viver não é fácil. Boa sorte a todos! As críticas que o filme recebeu quanto a violência, corrupção e falta de moralidade nada mais são que a falta de percepção de que muitas coisas (boas ou ruins) são tão justificadas tanto nas causas, como nas consequências, e o foco dado a Bruce Wayne nos derradeiros momentos do longa, prova que até os heróis surgem na ausência da benevolência.



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