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quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

JOJO RABBIT


JOJO RABBIT
DIREÇÃO: Taika Waititi
ELENCO: Roman Griffin Davis, Scarlett Johansson, Taika Waititi, Sam Rockwell e Rebel Wilson


Jojo é um adorável e solitário garotinho, que sonha em fazer parte do exército nazista, ao mesmo tempo em que tem o ex-ditador alemão Adolf Hitler como seu amigo imaginário. Acontece que ele entra em estado de choque quando descobre que a sua mãe esconde uma garota judia no sótão de sua casa. A partir daí ele viverá o impasse, onde suas ideologias serão colocadas à prova.


Christine Leunens é uma escritora de nacionalidade tanto americana, quanto neozelandesa e belga, que escreveu o best-seller Cagins Skies, que é uma bela aliança de doçura e comicidade. Por si só, já seria um prato cheio para uma versão cinematográfica, mas aí ela foi cair no colo justamente de Taika Waititi (diretor de Thor: Ragnarok), que é uma espécie de rei do deboche. Seria esse um fator negativo? De forma alguma, pois é justamente esse o tempero principal que faltava para engrandecer a obra. Jojo Rabbit é um filme que vale muito a pena se deliciar.

Ninguém pode negar que sonhos de criança são lindos de serem vividos e testemunhados, por mais que algumas bizarrices nos deixem incrédulos. Mas ao mesmo tempo não nos esqueçamos que a trama do filme se passa na Alemanha, por isso deve ser reconhecido que o choque se ameniza diante da lavagem cerebral que muitos sofriam, ao passo que consegue fazer com que um jovem almeje ser do exército nazista em pleno período de guerra, ecoando patriotismo em seu "juramento ao salvador", transparecendo ao extremo a idolatria a Hitler, que como o próprio longa indiretamente exibe, se assemelhava a dos Beatles.

Jojo Rabbit é um filme que tal qual o seu diretor, não faz questão de esconder o seu lado cínico. A escalação de Sam Rockwell e Rebel Wilson para os seus papéis são uma prova disso, mas é fato que a película não quer ser uma comédia propriamente dita, e sabe muito bem sair dessa tangente ao transpor que, dependendo das circunstâncias, a infância também pode ser um período em que responsabilidades podem ser trabalhadas, e uma criança, ao mesmo tempo que sabe ser bem questionadora e que também está determinada em ser corajosa, sorrateira e forte, deve ter estômago o suficiente para matar o seu inimigo, e descobrir que um campo de batalha não é uma colônia de férias, e vida real é muito diferente do que a nossa ingênua consciência possa imaginar.

O garotinho Jojo é rodeado por três vertentes: Adolf Hitler, os militares e a sua mãe. Obviamente que é esta última quem possui a análise racional de como aquela criança deve ser moldada, e o filme, escrito pelo próprio Taika Waititi, faz da disciplina materna algo atemporal, com a exposição dos maiores e mais reais choques de realidade. Com ideais de inclusão, misturado com a racionalidade geral do planeta em meio àquela situação lamentável, uma das mais puras defesas que o longa faz é que o antônimo da felicidade dos nazistas é justamente a felicidade do resto do mundo. E metade de Jojo Rabbit é suficiente para impressionar sobre como Waititi tem, enquanto diretor, produtor, roteirista e ator, total controle de uma trama, que se torna mais interessante, ato após ato.

O avanço do filme faz com que humanidade e critérios de punibilidade passem a ser ensinamentos obrigatórios, que não imunizam uma fantasia infantil, que considera a ancestralidade ariana superior a tudo e a todos. Então, é a partir daí que um ser deformado e sem motivos para viver, encontra no convívio e na afetividade uma forma correta e pedagógica de aprendizado, onde a piedade acaba felizmente trocando de lado. A generalização é utópica, mas existe situações em que a vida pode sim em muito ensinar uma criança.

Com um elenco espetacular, com destaque a Roman Griffin Davis e Scarlett Johansson - esta última foi indicada ao Oscar 2020 de Melhor Atriz Coadjuvante, ao passo que a obra recebeu outras 5 indicações (incluindo Melhor Filme), Jojo Rabbit sabe enfatizar que nazistas e judeus não são amigos, mas também sabe provar que para tudo sempre há controvérsias. A parte negativa é que o preço a ser pago é muito forte, e pode vir em forma de uma grande surpresa. Como muito bem disse Ranier Maria Rilke: "Deixe tudo acontecer a você: beleza e horror! Apenas siga! Nenhum sentimento é o fim".

   

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