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terça-feira, 29 de setembro de 2020

ENOLA HOLMES

 


ENOLA HOLMES
DIREÇÃO: Harry Bradbeer
ELENCO: Millie Bobby Brown, Henry Cavill e Helena Bonhan Carter


Enola Holmes é uma adolescente que sempre viveu junto a sua mãe. Um de seus irmãos mais velho é ninguém menos que Sherlock Holmes, o detetive mais famoso do mundo. Após o desaparecimento de sua genitora, ela se sente na obrigação de investigar o caso, descobrir o paradeiro e salvar a matriarca de qualquer suposto perigo que esteja vivendo. O porém é que Mycroft, seu outro irmão e detentor de sua guarda provisória, não gosta da ideia e almeja colocá-la em um colégio interno.


A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood anunciou uma mudança histórica, mas inovadora para a entrega do Oscar 2021: a elegibilidade dos filmes lançados nas plataformas de streaming, sem a necessidade dos mesmos ficarem o tempo mínimo de 1 semana em cartaz nos cinemas. A novidade caiu como uma bênção no colo da Netflix, que há alguns anos tenta triunfar na premiação. O fato da reativação das telonas estar sendo precário ao redor do mundo e as que voltaram a funcionar ainda não estar recebendo o público almejado, fez com que a toda poderosa só aumentasse o seu investimento em obras inéditas, e agora ela vê diversos recordes sendo batidos. Enola Holmes é a sua mais nova menina dos olhos.

Dirigido por Harry Bradbeer, um cineasta britânico que só ficou famoso mundialmente nos últimos anos, ao dirigir episódios das séries Killing Eve e Fleabag, o filme nos traz a lição de que é urgente a interrupção dos julgamentos a aparência da atriz Millie Bobby Brown, de Strangers Things, apontada como vaidosa o suficiente, a ponto de se vestir e se maquiar, parecendo uma mulher com o dobro de sua idade (ela tem apenas 16 anos). O fato é que essas polêmicas recentes excluem da crítica e do público em geral a oportunidade de valorizá-la como uma das melhores atrizes adolescentes do mundo, senão a melhor. A explosividade da personagem-título de Enola Holmes era a cereja do bolo que faltava para o escancarar da certeza de que essa garota é bem mais poderosa que a sua própria fisionomia e feliz daquele que sabe reconhecer a sua atual relevância na arte. 

Dona de um grandioso carisma, Millie Bobby Brown acaba construindo uma excelente química com Helena Bonham Carter, que é uma pessoa que qualquer cinéfilo adoraria ser amigo. Mãe e filha (na ficção) captam a mensagem central do bom roteiro escrito por Jack Thorne e lembram que Sherlock Holmes é um ser diferente e nada sério. Então porque o resto da família teria que ser? Tal fato só ratifica o quanto Helena se sente à vontade em não ser formal, tradicional e senso comum. Digo isso porque a atriz é bisneta de H.H. Asquit (Ex-Primeiro Ministro Britânico) e é parente de outros poderosos políticos ingleses, mas não se mistura com ninguém e não se censura a nada, independente de ser familiar de quem quer que seja. O feminismo presente em sua personagem de séculos atrás casa perfeitamente com a sua personalidade de hoje em dia.   

Voltando ao filme, Enola Holmes tem curiosas atipicidades capazes de prender o espectador desde o seu prólogo. Provisoriamente descartando qualquer tipo de destaque a Sherlock Holmes e ao seu irmão, que é um verdadeiro zero à esquerda, a obra coloca o x da questão em cima de um anagrama, testando as habilidades de seus personagens. Provando a astúcia da protagonista, o longa é ciente de que todo mundo tem um lado ou almeja ser um detetive. Diante disso, Enola se divide entre alguém que tem um desaparecimento para desvendar e alguém que olha para a câmera conversando com o espectador, e lança verdadeiros enigmas para quem assiste, brotando no público a dúvida se a atenção está sendo corretamente dada ao filme, tornando assim o ato de assistir ainda mais divertido.

Mostrando fidelidade à certas características do cinema inglês, como planos de fundo que enaltecem a arquitetura do Reino Unido, e os graciosos trens, que definitivamente são os melhores lugares para se fazer amizades e se ter diálogos antológicos, Enola Holmes mostra que é de família ter fiéis escudeiros. Sendo assim, ao lado de um Timothée Chalamet genérico, a garota prova que, em meio a responsabilidades de gente grande, ela é incapaz de se desfazer do que há de mais doce na juventude, e assim consegue ser alguém a frente do seu tempo, num filme que incute novos elementos em sua trama, sem perder nenhuma conexão, resultando numa história que teoricamente era para encontrar outrem, mas acabou por ser uma jornada de auto-reconhecimento.

Valorizando em diversos pontos o poderio industrial inglês dos séculos XVIII e XIX, além do foco ao sufragismo (período histórico de contexto bem pertinente aos tempos atuais), Enola Holmes se construiu em meio a dotes que autenticam a luta pelos direitos das mulheres e soube ser eficaz o suficiente no uso de diferentes personagens femininos. Seu epílogo não se concentra em uma linha de raciocínio totalmente lógica, mas traz uma lição de valores e satisfações pessoais, que sobrepõem-se às profissionais e materiais. Sendo assim, ao som da linda trilha sonora de Daniel Pemberton, o filme escancara o regozijo existente quando todos conseguem encontrar o seu caminho, e entrega uma personagem que chegou para ficar no cinema.


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