Ads 468x60px

.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

RELATOS DO MUNDO


RELATOS DO MUNDO
DIREÇÃO: Paul Greengrass
ELENCO: Tom Hanks, Helena Zengel e Elizabeth Marvel


Jefferson Kyle Kidd é um capitão que lutou em duas grandes guerras, e, após perder a sua esposa, decidiu viver pelo mundo com o intuito de informar sociedades afastadas de notícias essenciais. Nessas andanças, ele conhece Johanna, uma garota de 10 anos que se perdeu de sua família. Assim, ele aceita ajudá-la a reencontrar seus pais, mesmo que a relação entre eles seja um tanto quanto hostil.


Relatos do Mundo é um novo produto da Netflix que, em sua essência, já nos choca pelo fato da pessoa que está por trás dele: Paul Greengrass. Esse cineasta britânico moldou a sua carreira de mais de 30 anos somente em cima de filmes de ação ou que, no mínimo, possuíssem ritmo ágil e uma extrema adrenalina. É dele filmes, como Voo United 93, que lhe rendeu uma indicação ao Oscar de Melhor Diretor e fala sobre um dos aviões sequestrados em 11 de setembro de 2001; Capitão Philips, sobre a história real de um navio tomado por piratas na costa africana; e a linha Bourne, com destaque a O Ultimato Bourne, que ganhou 3 Oscars e é considerado um dos melhores longas de ação da história. O filme aqui avaliado possui claramente um viés mais dramático, o que, de cara, já mostra que o diretor terá pela frente um desafio tão grande quanto o personagem principal da obra.

Os westerns (ou faroeste, conforme nosso lindo linguajar tupiniquim) são filmes ambientados no famoso velho oeste americano, mas sua tradição em 125 anos de cinema, aponta para tramas sangrentas por conta de rivalidades, regadas a muito bang bang. Baseado no livro homônimo de Paulette Jiles, Relatos do Mundo tem nessa região americana, apenas o ambiente onde a história se passa, pois de maneira até natural (precisamos admitir), tal lugar pode "sediar" qualquer situação. Desprendendo-se de clichês, a película pelo menos, em seu prólogo, absorve o problema das diferenças sociais que até hoje assolam os Estados Unidos, para assim engrandecer a plausibilidade da justificativa em torno dos personagens de Tom Hanks e da jovem atriz alemã Helena Zengel, que unidos, convidam o público a desbravar regiões junto a eles. Acontece que a pergunta que não quer calar é a seguinte: A que tipo de jornada seremos apresentados?

Como já foi dito, segregação é algo que, infelizmente, existe até hoje em solo americano e em outros países também (Brasil, por exemplo), mas a trama de Relatos do Mundo quer combater isso com os mais belos princípios fraternos. O filme vai passando, as coisas acontecendo, até que qualquer um que assiste a obra se depara com a seguinte impressão: estar assistindo a uma versão gringa de Central do Brasil. Jefferson e Johanna são Dora e Josué, e, inevitavelmente e sem patriotismo algum, o longa de Paul Greengrass perde credibilidade. Plágio? Não. Somente por não conseguir ser intenso e emocionante como a obra protagonizada por Fernanda Montenegro e Vinícius de Oliveira. Cada ato e/ou sub-ato de Relatos do Mundo são desprovidos de elementos interessantes, chamativos, afetuosos e ágeis que seriam capazes de engrandecê-lo. Os protagonistas, concebidos pelo roteiro escrito pelo diretor, em parceria com Luke Davies (de Lion - Uma Jornada para Casa), não chegam ao ápice de se tornar heróis da vida real, tampouco seres humanos falhos, com defeitos compreensíveis. Pelo contrário, o capitão é um homem qualquer, enquanto a garota é tão artificialmente matuta, que sua intérprete Helena Zengel é até prejudicada, não conseguindo causar o encantamento que muitos atores e atrizes mirins conseguem.

Em suas quase duas horas de duração, Relatos do Mundo de fato busca ousadias ao mesmo tempo em que, timidamente, tenta dar, em certos pontos, um ar de consagração a alguns elementos do western. Conseguiu sucesso? Não, não chegou a esse ponto. Na verdade, algumas características do faroeste até foram invertidas, de maneira falha aqui e propositalmente acolá, pois, neste ponto, é fato que o longa tenta mostrar que as obras do gênero conseguem sim se estruturar em diversos tipos de tramas, o que pode configurar uma tentativa de alavancar uma popularidade, que está longe de ser a mesma de 50 anos atrás.

Paul Greengrass se arriscou, chamou o amigo Tom Hanks para o seu lado, e com tons de Nouvelle Vague em pleno solo americano, escalou um elenco quase 100% desconhecido. Não funcionou! Em nada, diga-se de passagem. Relatos do Mundo é um filme bem mediano, que por uma teimosa insistência, muitos tentam lhe dar um valor que não existe, e a real sensação que brota em seu não emotivo término é de que seu diretor deve retornar para a ação imediatamente.


0 comentários: