BELA VINGANÇA

BELA VINGANÇA

DIREÇÃO: Emerald Fennell

ELENCO: Carey Mulligan, Bo Bornham, Alison Brie, Laverne Cox, Adam Brody e Jennifer Coolidge

Cassie é uma mulher adulta que colecionou diversos traumas ao longo da vida. Ela costuma frequentar bares e se finge de bêbada, para poder dá uma lição nos homens que se aproveitam de sua fictícia situação, para abusá-la.

Emerald Fennell é uma jovem atriz britânica, com atuações em filmes de destaque, como Albert Nobbs, Anna Karenina e A Garota Dinamarquesa. O porém é que ela nunca escondeu de ninguém a sua grande paixão pela direção e pela escrita, tendo inclusive roteirizado episódios de séries de renome, como The Crown e Killing Eve. Após se aventurar em um curta-metragem, ela se convence que já é hora de debutar nos longas, e não satisfeita em apenas começar com o pé direito, ela entrega simplesmente um do melhores filmes de 2020.

Bela Vingança é um longa que, à princípio, focaliza uma balada, que poderia ser trabalhada a base de não desinteressantes clichês, mas é fato que a intenção da diretora é escancarar que em reuniões onde há um grupo de homens, no mínimo os mesmos estão se referindo às mulheres de maneira pejorativa, elucidando quão mal faz o discurso anti-feminismo, que intencionalmente ou não, tenta deslegitimar um movimento há muito tempo necessário no mundo. Só que engana-se quem acha que Emerald está querendo simplesmente bancar a ativista no filme. Pelo contrário, ciente de sua capacidade na concepção artística, ela já propõe um brilhante plot twist logo no primeiro ato do longa.

Com o fulminante olhar de femme fatale, a Cassie é um retrato perfeito de um empoderamento, seja na sua independência, em seus afãs e até mesmo na sua posição profissional, que não lhe gera ojeriza, mesmo que todos ao redor a cobrem para conquistar coisa melhor. Neste tocante, Bela Vingança mostra que a questão de gênero também se estrutura em um sistema, onde nunca é demais enfatizar que não são poucas as práticas machistas que são vistas com até certa naturalidade por boa parte da sociedade, inclusive mulheres. É aí que a Cassie, enquanto personagem, mostra-se um diferencial, por saber agir de uma maneira que prove ser o lado com a razão da história, ganhando assim o status de heroína.

Acontece que o cinema já nos provou em outrora que os brutos também amam, e apesar de uma sucessão de vinganças, o filme também tem a capacidade de passar um recado simples de que há espaço para a pureza, mesmo em situações revoltantes. Assim, a defesa do gênero torna-se algo a ser enaltecido, sem pesos na consciência, e com força o suficiente para ditar como tem que ser a mais saudável relação entre um homem e uma mulher, e assim surgem até romances que ganham a torcida do público.

Com diversos elementos, Bela Vingança faz com que qualquer um tire o chapéu com gosto para Emerald Fennell. Com ousadia e firmeza, ela conseguiu unir antíteses e fazê-las funcionar passo a passo. E com o bom conhecimento da obra que tinha responsabilidade, soube colocar o elenco certo em cada um de seus nuances. O destaque claro que vai para a protagonista Carey Mulligan, que, sem bipolaridade e sabendo arrasar com o total controle de seu papel, posou na dose certa como explosiva, contida, revoltada e apaixonada.

Com castigos criativos, proporcionais ao brilhantismo do filme (diferente de Jogos Mortais), Bela Vingança reafirma a Cassie como uma heroína, e sua diretora não se censura em propor reviravoltas e até mesmo decisões impopulares, mas o que nos tranquiliza é saber que nunca devemos achar que é o fim. Heróis também viram lendas!