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sexta-feira, 12 de março de 2021

UM PRÍNCIPE EM NOVA YORK 2

 


UM PRÍNCIPE EM NOVA YORK 2
DIREÇÃO: Craig Brewer
ELENCO: Eddie Murphy, Arsenio Hall, Jermaine Fowler, Leslie Jones, Tracy Morgan e Wesley Snipes


Akeem é recém-coroado rei de Zamunda e desde já vive o dilema de sua sucessão. Ele acaba descobrindo que tem um filho já adulto que vive em Nova York, e apesar de ter uma filha em seu atual casamento, prefere que o jovem seja o herdeiro do trono. Assim, ele e o seu fiel escudeiro Semmi volta aos Estados Unidos, reencontram velhos conhecidos e usam o passado para projetar um futuro melhor para todos.


O cinema é uma arte, mas também é uma indústria. Sendo assim, na concepção de um produto, a forma de expressão naturalmente compartilha o mesmo ambiente em que fatores econômicos têm força. É óbvio que muitos filmes são projetados visando os milhões de bilheteria que ele tem capacidade de arrecadar. Não à toa, muitos longas ganham continuações em um curto espaço de tempo, constituindo assim a franquia ou até mesmo a saga, como bem preferirem. A questão impressionante que envolve Um Príncipe em Nova York 2 é ver a sequência acontecendo 33 anos após o original. Disponível no streaming da Amazon, o longa tem hoje um Eddie Murphy já consolidado, sendo que lá na década de 1980, ele, por meio deste filme, d'O Tira da Pesada e do Saturday Night Live, ainda estava buscando o seu tão sonhado lugar ao sol.

Faz-se justo ressaltar que os clássicos personagens e elementos de Um Príncipe em Nova York 2 foram criados pelo próprio Murphy, e ele, ciente da necessidade de um saudosismo neste segundo filme, soube fazer certos resgates que pelo menos tiveram, à princípio, a capacidade de constituir um não incômodo a quem assiste a trama. O porém é que ela, desde o seu prólogo, é capaz de externar problemas. Dirigido pelo jovem Craig Brewer, que em seu currículo tem o premiado Ritmo de um Sonho (da canção "It's Hard Out Here For a Pimp"), o longa, não obstante a fazer alusões à marcas famosas, também não se esquivou de exibir merchans discarados, que são impossíveis de passar incólumes. Com um time de roteiristas composto por 6 membros, que só não é exagerado para os filmes do Borat, a obra se carrega com um humor constrangedor, mostrando uma espécie de Ronald McDonalds genérico e escrachado, alinhado a outros personagens com uma maquiagem exagerada e, de fato, feia; além de um péssimo uso de CGI nos flashbacks e nos animais, que só não torna o filme mais constrangedor, porque ele não necessitava de tantos efeitos visuais, como Cats.

Ensaiando mostrar-se moderno e contemporâneo, sem se despir da criação cultural de uma fictícia localidade africana, Um Príncipe em Nova York 2 pelo menos volta a impressionar com seus belos e luxuosos figurinos, desta vez assinados por Ruth E. Carter (Vencedora do Oscar com Pantera Negra e tida como a figurinista número 1 do cinema na atualidade), mas sua história não perde tempo e logo expõe bizarrices, como o funeral de uma pessoa que ainda está viva e que possui um desfecho que não surpreende ninguém. Soando paradoxal entre o clichê da recepção de pessoas pobres adentrando a ambientes elitizados e uma clara falta de defesa de justiça social, o longa segue o caminho deixando o espectador com a leve impressão de que já viu aquele filme em algum lugar e não se tratava do original de 1988. A previsibilidade impera, tornando oca a possibilidade de um plot twist (tão bem quisto hoje na arte). E, de fato, o dito cujo não aconteceu.

Querendo estar apegado a costumes africanos para nortear a realeza encabeçada por Eddie Murphy, Um Príncipe em Nova York 2, mostra claramente que a família de Akeem na verdade é bastante culturalizada com ideais das famílias reais europeias, o que é uma reparação histórica ao inverso. A busca pelo filho perdido não é algo sentimental, tampouco um belo valor familiar. Aquilo foi motivado pela misoginia, com preceitos que, em pleno século XXI, já não é aceito nem na monarquia britânica. Ao relembrar o caso amoroso do rei na megalópole americana, o filme parece não perceber que está minimizando um abuso sexual e o desfecho da obra, como bem apontou o site Adoro Cinema, quer escancarar a vítima como culpada do ato. Como será que os criadores do "Me Too" em Hollywood assistiram a isso? 

Chato ato por ato, com lições de moral aborrecidas e sem criatividade, Um Príncipe em Nova York 2 só acertou na escolha do elenco, com talentos bem mais celebráveis que o protagonista, porém além de erros estruturais e postura inversa à questões sociais que seus membros acreditam estar defendendo, torna-se mais uma sequência desnecessária. Mas também cabe perfeitamente qualquer um se perguntar: "Dá para esperar algo diferente de um filme com Eddie Murphy?". Porém, como nada é tão ruim que não possa piorar, o ator já confirmou que, em breve, teremos Um Príncipe em Nova York 3. Paciência!


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