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sábado, 17 de abril de 2021

MEU PAI

 


MEU PAI
DIREÇÃO: Florian Zeller
ELENCO: Anthony Hopkins, Olivia Colman e Rufus Sewell


Um homem idoso não quer nenhum tipo de auxílio e/ou assistência por parte de sua filha, ao passo que vai envelhecendo ainda mais. A situação é preocupante, pois ela irá se mudar para outro país e não tem como levar seu pai junto, por isso busca uma maneira de garantir seus cuidados, enquanto estiver longe. A situação faz com que o senhor não entenda as atitudes ao seu redor, desconfie de seus familiares e já não enxergue a realidade como ela é.


Talvez uma das coisas mais sensatas ditas por muitos idosos nos últimos anos é que essa fase da vida está longe de ser a dita "melhor idade", tanto no campo físico, quanto no psicológico. Se bobear, é justamente o contrário. À nós jovens, que nem sabemos se chegaremos lá, cabe a dúvida se teremos as mesmas atitudes que tanto criticamos em nossos vovôs e vovós. Meu Pai é um filme britânico, dirigido pelo francês Florian Zeller, que, na verdade é escritor, e só agora lidera o seu primeiro longa-metragem, que, roteirizado por ele, em parceria com Christopher Hampton (vencedor do Oscar, por Ligações Perigosas), exibe um mix de prós e contras de uma relação já antiga entre pai e filha, sem que haja a perda do amor (por parte deles) e da empatia (por parte do público).

Infelizmente hoje, a realidade, cada vez mais triste de ser vivida por conta da pandemia, nos mostra que ser idoso não é mais sinônimo de sabedoria. Só para citar um exemplo, existe sim uma parcela daqueles que se dão ao direito de desrespeitar o próximo e se ofendem quando alguém mais novo não aceita ser desrespeitado. Para muitos adultos, lidar com essa faixa etária é tido como um grande exercício de paciência, pois deve-se deixar ter continuidade a sua vida, enquanto há a responsabilidade de cuidar daqueles que, em outrora, cuidou (ou não) deles. Não à toa, existem pessoas que dizem que quando um idoso morre, é um descanso para ele e para quem cuidava dele. Evidente que com isso eu não concordo. Não se pode chegar a esse extremo radicalismo. Pode-se discordar de certas teimosias, mas sempre existirá o amor, o prazer do companheirismo e a gratidão por todo um tempo vivido. O retrato que Meu Pai faz é o mais correto e racional possível, e nos arrebata, pois em cada situação, a gente acaba se identificando com um ente querido.

Tomado pela ciência de que estava fazendo uma obra cinematográfica, Florian Zeller manipula positivamente os atos e, tendo em mente que há um público que gosta de se surpreender, ele logo faz isso, só que suas decisões atingem não só quem assiste, mas os próprios personagens, ou seja, somos todos uma grande família. Assim, o alzheimer cai como uma bomba, e, embora haja a vulnerabilidade, ninguém está preparado para isso, e uma nova forma de viver, mesmo quando parece estar chegando ao fim, se inicia, em relatos contínuos, reforçados por um outro tipo de demência, que muitos popularmente chamam de caduquice, e que constrange uns e lamentavelmente serve de piada para outros.

Acontece que em Meu Pai, Florian Zeller sabe versar por todo o filme com elegância. O longa é triste sim, mas ele sabe emocionar de uma maneira confortável. A obra consegue buscar a cada "novo" que a vida nos prega, uma linda e boa razão para viver. Simples, como o ato de trabalhar uma cena apenas ao som de uma canção, ele indica que podemos refletir que, independente de quanto tempo ainda temos de vida, é válido pensar que enquanto há pontos negativos que nos aguardam, também há pontos positivos onde feliz daqueles que se puserem a vivê-los.

Atores talentosos, consagrados ou não, existem aos montes, mas o fato é que quem pensou em Anthony Hopkins para viver o protagonista homônimo, poderia até saber o que estava fazendo, mas com certeza se surpreendeu, visto que a entrega dele foi paranormal, posando perfeitamente a cada nuance de uma trajetória de vida idosa que vimos ser retratada da mais perfeita forma. E, como se não bastasse, a química dele com a excelente Olivia Colman foi capaz de contar diversos e ótimos pontos para ela, que já não precisa provar para ninguém, que ela é uma atriz bem mais do que muitas rainhas. 

Avassalador, tocante e grandioso, Meu Pai é, sem dúvidas, um dos melhores filmes e uma das mais gratas surpresas do atípico ano de 2020, concebido de uma forma precisa e segura por parte de quem muito bem soube estruturá-lo e executá-lo. É um acalanto quando percebemos que é muito gratificante quando vemos uma realidade de fato sendo exposta, e mesmo quando está em volta de uma melancolia, ela, ao mesmo tempo em que nos traz lições, também nos conforta nessa dura missão que é ser humano.


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