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terça-feira, 29 de junho de 2021

LUCA


LUCA
DIREÇÃO: Enrico Casarosa
ELENCO: Jacob Tremblay, Jack Dylan Grazer, Emma Berman e Maya Rudolph


Luca é um monstro marinho que constrói uma nova e bela amizade com outro membro de sua espécie. Juntos, eles embarcam em uma jornada de pura diversão, que torna-se mais inesquecível com o fato deles se transformarem em humanos ao adentrar a costa. O porém é que eles devem manter esse segredo guardado a sete chaves, para não ameaçar o tão sonhado verão.


É inevitável assistir a Luca e se desprender de como o cinema de animação, desde o boom do início do século XXI, tem feito um bem danado ao turismo, ao retratar perfeitamente suas tramas em meio aos aspectos urbanos, ambientais e culturais, que tão bem promovem uma localidade. Só para citar exemplos, temos Ratatouille, em Paris; Kung Fu Panda, na China; Rio, na Cidade Maravilhosa; Viva - A Vida é uma Festa, no México; dentre outros. O filme aqui avaliado, mesmo tendo o mar como peça fundamental da história, abraça todos os aspectos da linda Riviera Italiana, enaltecendo ainda mais essa ânsia de muitos de viajar e desbravar o mundo, principalmente em períodos pandêmicos.

Se há um adjetivo que acompanha o oceano há séculos (literalmente falando) é misterioso. Grande parte dos segredos da humanidade que jamais foram revelados estão lá. Diante disso, Luca se vale desse artifício e, munido de características históricas, trabalha a concepção desses seres que, durante anos, amedrontavam a todos. Mas seria incoerente escolher logo a Itália como palco para uma obra que usa esses tipos de aspectos? Não! Mesmo que as grandes navegações e descobertas estejam mais ligadas à Portugal, Espanha e Inglaterra, não custa lembrar que Cristóvão Colombo era italiano, e mesmo assim, o filme não vai em busca de antagonistas, tais quais esses temíveis monstros. Sua intenção é outra!

Dirigido por Enrico Casarosa, responsável pelo lindo curta-metragem La Luna, que lhe rendeu uma indicação ao Oscar, Luca tem uma intenção bem maior que só um turístico entretenimento. Ele é uma verdadeira jornada de descoberta, não exagerada nos elementos mirados a um garoto daquela idade. A aceitação nunca é fácil, seja para quem é dono da decisão ou para quem não tem direito nem a opinar, por isso a complexidade do processo é orquestrada de uma maneira leve, que não foge de seus objetivos, e  se transforma em um "feel good movie", que nos traz paz a cada momento.

A vespa é uma motocicleta que não é tratada como um elemento qualquer do filme. Associada à liberdade, ela fundamenta como um fator de extrema força, desse que, junto a própria vida em si, é o maior bem que uma pessoa pode ter. Daí o cuidado gigantesco e a preocupação com qualquer ferida que ela pode ter. Assim, a ideia central se interliga a forma como muito bem disse a Beija-Flor de Nilópolis em 2018: "Monstro é quem não sabe amar os filhos abandonados da pátria que os pariu". Os ditos cujos não são o mal, e o caráter de qualquer um está acima de tudo, por isso o ato de lançar uma luz tênue na diversidade engrandece a metáfora, que é a proposta número 1 de Luca.

Mas faz-se justo elucidar que, apesar da construção de uma mensagem extremamente positiva e justa, Luca não é necessariamente um bom filme. O longa não se desvirtua de fatos que escancaram clichês, que não são tão bem usados como alguns possam defender. O protagonista é um menino desobediente, que se mete em confusão enquanto se aventura por bem longe de casa. Isso lembra alguém? Simba, Ariel, Miguel... E tudo isso aliado aquele senhor temor à fúria de seus pais, que neste filme, segue o caminho inverso de Procurando Nemo, pois a procura pela sua cria não tem emoção alguma. Assim, a trama fica boba, concebida em uma estrutura onde a simplicidade um tanto quanto pobre, não deixou de proporcionar momentos de fato cansativos.

A intenção de Luca é boa e louvável, e sua mensagem-mor, diante de um paraíso europeu, conseguiu ser passada, mas a ausência de agilidade e de emoção na história não conseguiu se expor como elemento a ser relevado, num filme que agora até concordo com o período de seu lançamento e que, para críticos e cinéfilos mais fervorosos, pode estar levantando um questionamento: estaria o cinema de animação apresentando uma certa queda qualitativa, comparado aos últimos anos? Auto-críticas são bem vindas, mas generalizadamente sempre haverá a confiança e o prestígio do gênero, tão capaz de nos contemplar com grandes obras.


 

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