CINQUENTA TONS DE CINZA
DIREÇÃO: Sam Taylor-Johnson
ELENCO: James Dornan, Dakota Johnson e Marcia Gay Harden
Christian Grey (James Dornan)
é jovem empresário bem sucedido que detém um considerável poder aquisitivo para
alguém de tão pouca idade. Anastasia (Dakota Johnson) é uma garota, que já não
mora mais com a mãe e está prestes a se formar em Literatura Inglesa. Em um
encontro que moralmente não devia ter acontecido, faz nascer uma atração, que
qualquer leigo apostaria ser de um belo e feliz casal. Mas como nem o
personagem, nem ninguém faz questão de esconder, Christian aponta que será tudo
ao contrário, já que ele é adepto de Bondage, Disciplina, Dominação, Submissão,
Sadismo e Masoquismo.
É notável que nos últimos 10
anos não dá para apostar que a transposição de Best Sellers para as telonas
resultará no mesmo saldo positivo que muitos dizem que os livros têm (outros
não). Crepúsculo e Percy Jackson são tragédias; As Crônicas de Nárnia, Marley e
Eu e A Culpa é das Estrelas caíram no esquecimento; Harry Potter e Jogos
Vorazes foram os únicos que se salvaram. De maneira nada surpreendente, eis que
os Cinquenta Tons de Cinza invade a sétima arte e desperta a curiosidade de
milhões que lotaram as sessões e acabou correspondendo às expectativas que
todos tinham, sejam elas positivas ou negativas. Obviamente que estou incluso
no segundo grupo, mas sinceramente não esperava me horrorizar ainda mais.
Não pego no pé de filmes,
séries e novelas com seus temas abordados. Nenhuma obra deve ser criticada por
abordar algo não bem visto pelo senso comum, ao passo que se deve prestigiar é
a narrativa e como ela foi trabalhada. Cinquenta Tons de Cinza não é uma obra
pornográfica, mas é lógico que eles não iam se esquivar de grandes e picantes
cenas de sexo, onde o sadomasoquismo podia muito bem mudar o nome do filme para
Cinquenta Tons de Roxo. Há uma grande iniciativa em se construir uma trama, mas
é justamente aí que reside o problema.
O filme não abre mão de se
focalizar naquilo que o século XXI pode te entregar para se viver uma vida
digna e moderna. Os personagens exibem trejeitos comuns para o atual patamar
que a mulher se encontra na atualidade: Anastasia é uma jovem inteligente e
batalhadora, que trabalha a fim de se manter. Sua mãe está no 4º casamento. Ela
divide apartamento com outra amiga, que também cuida se si. Sua futura sogra
(mãe de Christian, que no filme é interpretada pela ótima Marcia Gay Harden) é
uma mulher fina, independente e de personalidade forte. Tais características em
mulheres seriam inconcebíveis há 60 anos, mas infelizmente o filme é um
verdadeiro show de machismo que nos faz até esquecer que a Bella Swan abriu mão
de tudo, inclusive da vida, para viver com o Edward. Entendedores entenderão.
O roteiro do filme, que é
uma verdadeira afronta à condição humana, não tem pudor em deixar bem claro que
o cavalheirismo de Christian não é um método normal que um homem usa para
agradar uma mulher, mas sim um mecanismo grosseiro de compra do sentimento de
Anastacia, que nunca exibira um caráter interesseiro para cair com tanta
facilidade na lábia do jovem empresário, que tratando um relacionamento amoroso
como negócio, expõe diretamente que a mulher deve ser submissa ao seu cônjuge
do sexo masculino, onde não é apenas na conjunção carnal que lhe deve obediência,
mas sim na vida inteira, onde os drinks devem ser maneirados não por questão de
saúde e uma visita á sua mãe deve ser evitada (vale ressaltar que a mãe faltou à
formatura da filha por conta do pé quebrado do marido). É um “homem pode tudo e
manda na mulher” tão grosseiro, que consegue superar uma relação de um pai que
tem toda autoridade sobre seu filho e o cria na base da disciplina. E para
piorar, uma simples virada de rosto da garota é passível de punição, que era um
fato que Christian o deixava consumir de maneira inacreditável. “Sim, eu quero
lhe punir”, dizia ele, que ganha uma compreensão por parte de todos que estão a
sua volta. E mesmo sendo uma garota inocente, mas ciente daquilo que acontecia,
Anastasia não vê significância na reação, que ela até chega a ensaiar, mas a
trágica atuação de Dakota Johnson não faz nada ser convincente.
Cinquenta Tons de Cinza, que
ainda por cima tem um ritmo muito fraco, não é o primeiro filme machista da
história, sequer será o último. Também não é proibido trabalhar o tema. O
absurdo número um é que a supremacia masculina é trabalhada em um universo em
que a mulher não fica por baixo e tem sua vez na sociedade, e o próprio filme
exibe isso, mas não aproveita. O absurdo número dois é que a direção e o
roteiro filme são assinados por mulheres (Sam Taylor-Johnson e Kelly Marcel,
respectivamente), que não usufruem do direito de adaptação do livro (que também
foi escrito por uma mulher) para tentar beirar a racionalidade. Como se não
bastasse, ainda têm dois filmes pela frente, e isso se a última obra literária
não for dividida em duas películas, como tem acontecido com muitos Best Sellers.
É aguentar.
2 comentários:
Sendo curta e grossa: não li os os livros e os filmes não me interessam!
Kamila, não lerei o livro de jeito nenhum. O filme eu vi por motivos profissionais, mas sempre soube que iria detestá-lo.
Beijos
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