UM SANTO VIZINHO
DIREÇÃO: Theodore Melfi
ELENCO: Bill Murray, Melissa McCarthy, Naomi Watts e Terrence Howard
Maggie (Melissa McCarthy) é uma enfermeira que tem um filho
de 12 anos que acaba de passar por um turbulento divórcio, que atingiu
psicologicamente o garoto. Mudando-se, eles conhecem Vincent (Bill Murray), um
senhor esquisito e de hábitos reprováveis, que se oferece para cuidar do
menino. Sem escolha, pelo fato de ser plantonista em um hospital, ela acaba receosamente
aceitando tal fato, sem imaginar que o companheirismo entre o homem e a criança
seria bastante proveitoso.
Analisando o pôster supracitado, um leigo pode denotar que se
trata de um canonizado Bill Murray, uma angelical Melissa McCarthy e uma
valorizável Naomi Watts. Não é nada disso, e trazendo Um Santo Vizinho para o
atual contexto brasileiro, talvez o filme, se tivesse uma repercussão maior,
não seria bem aceito, pois por aqui uma produção artística (principalmente uma
novela) sofre campanhas de boicotes pelo conteúdo exibido, como se fosse justo nivelar
o cotidiano ao de uma telenovela e defender um moralismo pouco visível na
sociedade.
Bem criado pelo diretor e roteirista Theodore Melfi, o filme
investe em doses valiosas e precisas de humor para trabalhar com louvor a
reflexão que o filme impõe. O senso comum costuma trabalhar uma maneira
psicológica e investe em regras para tentar decifrar o que se passa na
cabeça de todos, e diante disso pode-se afirmar que Vincent seria um mau exemplo de ser
humano. Mas aí que se vê quão racional pode ser o homem, já que ninguém é
obrigado a levar a vida tão a sério e muitas derrotas não são justificativas
para ficar arrasado. O filme brilhantemente desmistifica diversas teorias e
flui um ar de que todos têm condições de fazerem suas vidas valerem a pena de
seu modo, mesmo que seja com exemplos esquisitos, porém não deploráveis.
Entrelaçando a vida da enfermeira com a do personagem título,
vem a questão dos sacrifícios e do ter que arriscar em algo inimaginável. O
resultado pode ser até aquele negativo que se espera, mas não acaba sendo 100%
traumatizante, pelo contrário, pode ser possuidor de muitas lições, pois hoje há quem constrói uma sociedade longe de valores
tradicionais, sem se desligar de qualidades benevolentes, e mesmo assim
conquistar o próximo. É aí que me remeto às doses de humor, que não são celebradas
pela graça em si das cenas, mas por quando o espectador se toca sobre quão bom é
viver a vida do nosso jeito, enaltecendo que todos têm valor e dignidade
humana.
No elenco, destaque ao impecável Bill Murray em seu cinismo
e ironia com o “pra baixo” Vincent que acaba conquistando a todos, mesmo quando
o filme traz a tona uns defeitos lamentáveis. Naomi Watts mostra uma faceta
inédita de sua carreira, numa mal vista, porém digna mulher, que sabia jorrar
sentimentos, como na cena do parto. Melissa McCarthy foge dos trejeitos cômicos
e expõe a mãe guerreira, insegura, mas que sabia admitir que uma situação
improvável dava certo.
Todo o trabalho de Theodore Melfi em Um Santo Vizinho é
autenticado em uma das derradeiras cenas, no discurso do garoto ao apontar os motivos de seu vizinho rabugento
ser um santo, não deixando assim de ser uma metáfora bem construída que
escancara brilhantemente que diversos fatores, que são objetos de preconceito por parte
da sociedade estão bem longe de definir o caráter de um ser humano e o quão ele
pode fazer o bem a outro. Uma maneira doce e serena de trabalhar o “Amai o
próximo” que o Criador nos ensinou.
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